E o mea culpa de Mantega?
Mudança de rumo tardia
O
artigo publicado nesta última sexta-feira (ver
texto mais abaixo) aponta alguns dos descompassos da gestão econômica no
governo Dilma Rousseff. Utilizando dados do próprio governo e do Banco Mundial,
denuncia a falácia, que vem sendo repetida sem constrangimento pela equipe
econômica, de que a inflação fugiu da meta e persiste em patamares elevados
porque esse era o preço a se pagar para que o país não sofresse os piores
efeitos da crise internacional.
Os estímulos ao crédito e a
redução forçada da taxa básica de juros – de forma “voluntariosaj”, ou seja, sem
que houvesse um ambiente fiscal que garantisse a sustentabilidade dessa medida,
sem risco de pressão sobre os preços – seriam, assim, de acordo com a falácia,
indispensáveis para que o país continuasse a crescer.
Os
dados comparativos apresentados no artigo, contudo, mostram que o Brasil
cresceu menos do que os principais emergentes e do que a média mundial, e quase
sempre com inflação maior do que a maioria dos países em condições semelhantes.
O que significa que a política anticíclica urdida pela equipe econômica de
Dilma Rousseff, caracterizada pela expansão do crédito e por impulsos
monetários e fiscais, pode ter sido eficiente para aquecer o consumo (e durante algum tempo), mas não gerou desenvolvimento sustentável. Um
experimentalismo econômico inconsequente.
O
artigo de sexta traz um alerta sobre o descontrole dos gastos públicos, a perda
dos superávits primários e a deterioração da política fiscal. Neste particular,
há outra falácia, não explicitada no texto, a ser desmascarada.
Segundo ela, os gastos públicos precisam ser elevados para que o governo possa
manter os programas sociais e de distribuição de renda, como o Bolsa Família –
uma mentira que empurra para o “paredão”, tolhendo a crítica, todos aqueles que
pedem melhor gestão pública.
Na
verdade, não são os programas sociais que comprometem a política fiscal, mas
sim os aumentos excessivos de despesas correntes, de estímulos setoriais inconsistentes,
na contramão da busca da eficiência, além da falta de rigor técnico e de
transparência (com maquiagens contábeis). Tanto é assim que os principais
candidatos de oposição contemplam em seus programas a manutenção e até o
aperfeiçoamento dos programas sociais, ao mesmo tempo em que apontam os
descaminhos grosseiros na área fiscal.
Reproduzo
aqui a pergunta de um leitor, perdido em meio à esquizofrenia da atual
política: “juros altos não são bons para a economia, para segurar os preços?”
Na verdade, juro alto é, em regra, ruim, porque encarece os recursos financeiros
dos quais a economia precisa para produzir. O setor produtivo precisa de dinheiro barato. Mas, num ambiente de expansão
fiscal e impulsos ao crédito, puxar os juros (por meio de uma política
monetária restritiva) é a forma de se evitar o descontrole geral de preços,
algo ainda mais deletério para a economia.
O que pensa então hoje o
ministro da Economia, Guido Mantega, sobre a questão: “Será inevitável um
aperto das contas públicas para que os juros possam cair. Importantes correções
de rumo serão inevitáveis” (Valor
Econômico, quinta-feira 21). Como
lembra o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga (Veja deste fim de semana), não havia base para a redução dos juros.
É bom saber que o
ministro, embora tardiamente, se rendeu às evidências. Há se lamentar, contudo,
o fato de não ter assumido de forma clara a culpa por uma política macroeconômica
que combinou desequilíbrio fiscal, juro alto e (ainda assim) muita inflação,
culminando com um baixíssimo crescimento, e que obrigará o próximo governo
(seja qual for) a medidas duras para restabelecer o equilíbrio e a
credibilidade.
Por Nilson
Mello
Nenhum comentário:
Postar um comentário