A escolha óbvia
Contudo, a apenas
45 dias do pleito e a dez do prazo final para a escolha de um eventual
substituto (ou substituta), é razoável supor que as conversas de bastidores sigam
intensas, a despeito das dissimuladas – mas, no caso, compreensíveis –
declarações em contrário.
Nas especulações
que vazam para o público e que são publicadas na imprensa e na Internet, chamam
a atenção as dúvidas espontâneas ou deliberadamente plantadas quanto à
conveniência de Marina Silva assumir a cabeça de chapa da coligação que tem
PPL, PPS, PRP, PHS, PSL, sob a liderança do PSB. Sobretudo, quando o próprio
PSB reconhece que não tem quadro à altura de Eduardo Campos.
Com os 20 milhões
de votos obtidos na eleição presidencial de 2014 e sendo a personificação da chamada
via alternativa à polarização entre PT e PSDB que há duas décadas domina a política
brasileira, a ex-senadora parece ser a solução mais palatável - sem que isso
signifique necessariamente que é a melhor candidata entre todos os postulantes.
Não custa lembrar que a rejeição ao governo Dilma Rousseff, ao PT e à visão de mundo dos tucanos
foi a premissa da união Eduardo-Marina e a consequente formação da candidatura alternativa.
Além disso, se era a vice na chapa, tinha as qualidades
necessárias para também ser a titular, caso as circunstâncias assim o exigissem.
A quem então
interessaria a insistente especulação no descarte de Marina como candidata ao Planalto?
Colunista de uma das principais revistas semanais publicou em seu Blog artigo
em que tenta explicar por que razões a ex-senadora seria uma opção “menos óbvia
do que as aparências indicam”. Tudo o que conseguiu fazer foi deixar
transparecer o seu alinhamento com o Planalto.
Se considerarmos o
desempenho da ex-senadora em 2010 e as intenções de votos de Eduardo Campos nas
pesquisas (hoje na casa dos 9%, depois de já ter chegado a 16%), Marina teria,
em tese, mais chances do que ele de chegar ao segundo turno. Como quem vota em Aécio,
em princípio, não votaria em Dilma, mas poderia votar em Marina contra a
candidata à reeleição; e como quem vota em Dilma poderia também votar em Marina
contra um tucano, nada mais razoável, pela ótica de quem quer vencer o pleito
(partindo do pressuposto que seja mesmo este o intuito do PSB), do que confirmar
a ex-senadora do Acre como candidata à Presidência.
As razões na
política, contudo, são tortuosas e fogem à lógica, sobretudo quando os reais
interesses são mantidos submersos. Isso nos faz aguardar os desdobramentos desta
semana. Mas o que parece certo, fora de qualquer questionamento, é que uma eventual
desistência da chapa liderada pelo PSB e seu alinhamento a outra candidatura,
favorece a manutenção da polarização. Seria do interesse do PT e também do PSDB,
portanto.
A prematura
morte de Eduardo Campos, no mês marcado pelo luto na crônica republicana, reduz
em muito as perspectivas da política brasileira e, como se vê, limita e empobrece
novamente o debate.
Por Nilson Mello
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