O fator Marina Silva
Primeiras pesquisas – Para quem achava que a morte de Eduardo
Campos teria impacto limitado no quadro eleitoral (conforme artigos de alguns
analistas na semana passada), as primeiras pesquisas feitas logo após o
desastre aéreo de Santos mostram o quanto as mudanças foram significativas. De
acordo com o Datafolha, Marina Silva – agora virtual candidata do PSB em
substituição a Campos – venceria Dilma Rousseff, num eventual segundo turno,
com 47% dos votos válidos contra 43% da presidente. Na hipótese de um segundo
turno entre Aécio e Dilma Rousseff, a candidata à reeleição venceria o tucano:
47% contra 39%. Não houve simulação ente Aécio e Marina no segundo turno, mas,
a julgar pelo retrato atual, é razoável supor que, se a decisão fosse hoje, o Tucano perderia. O ingresso de
Marina na disputa comprova que o seu “capital político-eleitoral”, traduzido
nos votos obtidos em 2010 (quase 20 milhões) ou intenção de votos, superava o
do ex-governador de Pernambuco. Campos vinha
patinando com cerca de 9% nas pesquisas, depois de já ter chegado a 16%, no
início do ano. Mas ainda é difícil saber
se a rápida reação do eleitor é apenas reflexo da comoção que tomou conta do
país após a tragédia da semana passada, favorecendo o apoio ao PSB e à Marina,
ou se realmente é uma tendência que se consolidará a partir desta semana,
quando começa o horário de propaganda no rádio e na televisão. Também é cedo
para avaliar com exatidão se essa intenção de votos em Marina resulta da
migração da intenção de votos em outros candidatos para ela ou se já representa
um despertar do eleitorado que permanecia indiferente ou desapontado com as
perspectivas eleitorais, mais inclinado, assim, a votar nulo e branco e mesmo
se abster, num sinal de protesto. Não foram poucos os cientistas políticos no
início do ano que avaliavam Marina como uma “candidata de nicho” e com
dificuldades para ampliar o seu eleitorado. Isso será testado agora. O que parece
certo desde já é que Dilma e Aécio perderam com a entrada de Marina na corrida
(o que explica o esforço do PT e do ex-presidente Lula em pessoa na semana
passada em trazer de volta o PSB à base aliada), e terão trabalho redobrado.
Mas Aécio, evidentemente, perdeu mais, porque, nas primeiras simulações, já
aparece em terceiro, com risco de não chegar ao segundo turno. Na melhor das
hipóteses, passou a dividir com a candidata do PSB as atenções daqueles eleitores
que sabem que este governo, definitivamente, não funciona.
Crescimento. Que crescimento? – O mercado
financeiro reviu a sua previsão para o PIB de 2014: de 0,81% para 0,79%. A previsão
de queda do setor industrial – que tem impacto direto no baixo desempenho do
PIB – também foi revista: de -1,53% para -1,76%. Com um ritmo econômico tão
lento, querendo parar, a projeção da inflação para este ano melhorou: ao invés
de romper o teto máximo da meta (de 6,50%), agora a previsão é de 6,25%. O
governo, com sua “nova matriz macroeconômica”, conseguiu promover o cenário que
dizia tentar evitar ao estimular o consumo de forma irresponsável: um baixo crescimento,
hoje, quase beirando a recessão. E com uma inflação renitente, ainda sob os efeitos
dos impulsos fiscais e de crédito, e a despeito da fortíssima puxada da
política monetária no último ano e meio, que segue “enxugando gelo” em meio a
uma "condução" econômica esquizofrênica.
Por Nilson Mello
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