quarta-feira, 10 de abril de 2024

Artigo

                                    A Avenida Brasil e a mobilidade urbana no Rio

O prédio histórico da Estação da Leopoldina abandonado: símbolo da preferência pelo modal rodoviário 

     Com as duas faixas exclusivas do BRT e o consequente aumento da densidade de veículos nas faixas mistas restantes, um motorista chega a perder hoje mais de duas horas para ir do Caju a Campo Grande, pela Avenida Brasil, uma distância de pouco mais de 40 km. O tempo gasto para o trajeto é inconcebível, tanto do ponto de vista da mobilidade urbana como da eficiência econômica.

         O prefeito Eduardo Paes acha que as pistas seletivas são a valorização do transporte coletivo. Mas isso não é verdade: o prejuízo é muito maior do que os possíveis ganhos. Vale lembrar que o BRT, por óbvio, não suportaria atender a todos os outros motoristas e passageiros que usam as faixas mistas de veículos - nem uma parte deles - sem também entrar em colapso. Ou seja, um BRT não pode inviabilizar todo o restante do trânsito da cidade, gerando congestionamentos recordes, de mais de 150 km.

O custo-benefício é claramente desfavorável. Perde o carioca e a economia da cidade e do Estado. É pela Avenida Brasil que a carga chega e sai do Porto do Rio, onde navios têm horários certos para embarque e desembarque, dentro de uma complexa logística de transporte. Isso não é trivial. O Porto do Rio é o maior gerador de receitas tributárias do município e, também, um dos maiores empregadores. O seu acesso precisa ser eficiente.

O prefeito Eduardo Paes continua a dizer que o BRT, na Avenida Brasil, é a opção correta. Após anos de obras, em seus diferentes mandatos, e muito dinheiro do contribuinte gasto nessas intervenções (com longas interdições), compreende-se a insistência no discurso. Ficaria mal dar o braço a torcer. Porém, não há nada pior, em política pública, do que a coerência com o erro.

     Afirma o prefeito que ajustes serão feitos. Lamenta-se que o óbvio não tenha sido previsto pela engenharia de trânsito e os planejadores da prefeitura: a Avenida Brasil com duas faixas exclusivas para ônibus em sua pista principal se torna inviável como via expressa para a circulação de outros veículos, de passageiros e de cargas. “Especialistas” (por que não foram ouvidos antes, inclusive pela imprensa?) já sugerem a reversão de uma faixa seletiva para os veículos em geral. Uma providência rápida para amenizar o caos. Contudo, não parece ser o suficiente para resolver o problema.

Para o contribuinte carioca é frustrante constatar que, depois de tantos recursos e tempo empenhados em projetos na Avenida Brasil, o que temos é um quadro inviável, que exigirá novas intervenções e, certamente, mais recursos financeiros.

Cabe lembrar que transporte de massa é feito sobre trilhos, não sobre rodas, ou seja, por trem ou metrô. Ônibus, mesmo os articulados, como o BRT, são transporte coletivo, mas não de massa. Por sua vez, faixas exclusivas para ônibus, em cidades com ruas estreitas e poucas vias expressas como o Rio, não são a solução, e o histórico tem mostrado isso. Em escala menor, também não funcionam na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no coração da Zona Sul da cidade.

Até alguns anos, meados da década de 1990, havia no Rio as linhas de trem metropolitano da Central do Brasil e da Leopoldina. Esses trens urbanos das duas redes transportavam mais de um milhão de passageiros por dia, entre o Centro, os subúrbios cariocas e a Baixada Fluminense (Região Metropolitana).

Com a privatização da Rede Ferroviária Federal, a Supervia assumiu as linhas e os trens da Central, enquanto a Leopoldina foi fechada e suas linhas, erradicadas. Há anos o majestoso prédio da Estação da Leopoldina encontra-se abandonado, um símbolo da preferência de nossos governantes pelo modal rodoviário em detrimento do ferroviário – e do descaso com o patrimônio histórico e arquitetônico da cidade.

Grande parte dos passageiros que, no passado, era transportada pelos trens da Leopoldina passou a ser transportada pelos ônibus, que em geral passam pela Avenida Brasil para alcançar os subúrbios e a Baixada. A preferência pelo transporte rodoviário é a origem do problema que enfrentamos hoje. Infelizmente, é o transporte rodoviário (empresas de ônibus) que comanda há algum tempo as políticas públicas no município e no Estado do Rio. Também infelizmente, a marca das gestões de Eduardo Paes é de muitas obras, muito dinheiro do contribuinte gasto para pouco ou nenhum resultado efetivo. É o caso do BRT na Avenida Brasil.

Por Nilson Mello