A Avenida Brasil e a mobilidade urbana no Rio
Com as duas faixas exclusivas
do BRT e o consequente aumento da densidade de veículos nas faixas mistas
restantes, um motorista chega a perder hoje mais de duas horas para ir do Caju
a Campo Grande, pela Avenida Brasil, uma distância de pouco mais de 40 km. O
tempo gasto para o trajeto é inconcebível, tanto do ponto de vista da
mobilidade urbana como da eficiência econômica.
O prefeito Eduardo Paes acha que as pistas seletivas
são a valorização do transporte coletivo. Mas isso não é verdade: o prejuízo é
muito maior do que os possíveis ganhos. Vale lembrar que o BRT, por óbvio, não
suportaria atender a todos os outros motoristas e passageiros que usam as
faixas mistas de veículos - nem uma parte deles - sem também entrar em colapso.
Ou seja, um BRT não pode inviabilizar todo o restante do trânsito da cidade,
gerando congestionamentos recordes, de mais de 150 km.
O custo-benefício é claramente desfavorável.
Perde o carioca e a economia da cidade e do Estado. É pela Avenida Brasil que a
carga chega e sai do Porto do Rio, onde navios têm horários certos para
embarque e desembarque, dentro de uma complexa logística de transporte. Isso
não é trivial. O Porto do Rio é o maior gerador de receitas tributárias do
município e, também, um dos maiores empregadores. O seu acesso precisa ser
eficiente.
O prefeito Eduardo Paes continua a dizer que o
BRT, na Avenida Brasil, é a opção correta. Após anos de obras, em seus
diferentes mandatos, e muito dinheiro do contribuinte gasto nessas intervenções
(com longas interdições), compreende-se a insistência no discurso. Ficaria mal
dar o braço a torcer. Porém, não há nada pior, em política pública, do que a
coerência com o erro.
Afirma o prefeito que
ajustes serão feitos. Lamenta-se que o óbvio não
tenha sido previsto pela engenharia de trânsito e os planejadores da
prefeitura: a Avenida Brasil com duas faixas exclusivas para ônibus em sua
pista principal se torna inviável como via expressa para a circulação de outros
veículos, de passageiros e de cargas. “Especialistas” (por que não foram
ouvidos antes, inclusive pela imprensa?) já sugerem a reversão de uma faixa
seletiva para os veículos em geral. Uma providência rápida para amenizar o
caos. Contudo, não parece ser o suficiente para resolver o problema.
Para o contribuinte carioca é frustrante
constatar que, depois de tantos recursos e tempo empenhados em projetos na
Avenida Brasil, o que temos é um quadro inviável, que exigirá novas
intervenções e, certamente, mais recursos financeiros.
Cabe lembrar que transporte de massa é feito
sobre trilhos, não sobre rodas, ou seja, por trem ou metrô. Ônibus, mesmo os
articulados, como o BRT, são transporte coletivo, mas não de massa. Por sua
vez, faixas exclusivas para ônibus, em cidades com ruas estreitas e poucas vias
expressas como o Rio, não são a solução, e o histórico tem mostrado isso. Em
escala menor, também não funcionam na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no
coração da Zona Sul da cidade.
Até alguns anos, meados da década de 1990,
havia no Rio as linhas de trem metropolitano da Central do Brasil e da
Leopoldina. Esses trens urbanos das duas redes transportavam mais de um milhão
de passageiros por dia, entre o Centro, os subúrbios cariocas e a Baixada
Fluminense (Região Metropolitana).
Com a privatização da Rede Ferroviária
Federal, a Supervia assumiu as linhas e os trens da Central, enquanto a
Leopoldina foi fechada e suas linhas, erradicadas. Há anos o majestoso prédio
da Estação da Leopoldina encontra-se abandonado, um símbolo da preferência de
nossos governantes pelo modal rodoviário em detrimento do ferroviário – e do
descaso com o patrimônio histórico e arquitetônico da cidade.
Grande parte dos passageiros que, no passado,
era transportada pelos trens da Leopoldina passou a ser transportada pelos
ônibus, que em geral passam pela Avenida Brasil para alcançar os subúrbios e a
Baixada. A preferência pelo transporte rodoviário é a origem do problema que
enfrentamos hoje. Infelizmente, é o transporte rodoviário (empresas de ônibus)
que comanda há algum tempo as políticas públicas no município e no Estado do
Rio. Também infelizmente, a marca das gestões de Eduardo Paes é de muitas obras, muito dinheiro do contribuinte gasto para pouco ou nenhum resultado efetivo. É o caso do BRT na Avenida Brasil.
Por Nilson Mello
Nilson meu filho, impossível em poucas palavras comentar o excelente artigo sobre a antiga Estação Leopoldina que você acaba de publicar. Mas, aqui vão meus parabéns e um grande abraço pela bela reportagem.
ResponderExcluirAnálise excelente e extremamente precisa.
ResponderExcluirExcelente artigo!! Parabéns 👏👏👏
ResponderExcluirÉ uma lástima a ignorância do prefeito Eduardo Paes em relação a importância do porto do Rio para a economia da cidade, para o Estado e para o país. Proporcionar fluxo de transporte rápido do porto e para o porto deveria ser prioridade absoluta.
ResponderExcluirExcelente!!!
ResponderExcluirExcelente análise da péssima mobilidade urbana do Rio de Janeiro. A recuperação da Leopoldina quem sabe seja um projeto viável, e de grande impacto na qualidade de vida de milhões de cariocas.
ResponderExcluirA Estação da Leopoldina vai virar shopping, escola técnica, centro cultural... é o retrato da falência do modal ferroviário
ResponderExcluirExcelende Artigo. Remente não dá para entender como até hoje o Brasil não conseguiu desenvolver o sistema ferroviário!!!
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