quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Artigo


Por falar em educação ... (Ou cadê Sancho Pança?!)



    A essa altura todos já sabem que a obrigatoriedade de execução do Hino Nacional nas escolas - fonte das polêmicas desta semana - decorre de uma lei (Lei número 12.031/2009) do governo Lula. O ministro era Fernando Haddad, que a assinou. Quem se lembra dele? Sou a favor da Lei, por sinal. Mas sem slogans, é claro. Quanto ao ministro atual, Ricardo Veléz Rogríguez, é a pessoa errada no lugar errado. A educação merecia um bom gestor (ótimos nomes chegaram a ser cogitados), pois é uma área fundamental - a mais fundamental de todas, sem dúvida.
    Porém, Veléz Rodriguez é um Dom Quixote. Está mobilizado por uma luta imaginária. O moinho que enfrenta é o comunismo e as ideologias de esquerda em geral. Uma ficção: a realidade eloquente já deu conta do comunismo, cuja sobrevivência tende a estar a cada dia mais restrita às análises e referências acadêmicas. A ineficácia do modelo de produção da economia planificada (estatizante) e o aniquilamento do ímpeto individual, em nome da igualdade, inviabilizaram a doutrina na prática.
    Não foi apenas uma derrota no campo econômico, para a economia de mercado, mais vigorosa e capaz de gerar bem estar, mas também uma derrota sob as perspectivas da filosofia e da psicologia. O comunismo não é mais algo a se concretizar. Só lunáticos e ditadores oportunistas ainda apostam nele e em suas variantes, dissimuladas ou não. Está aí o bolivarianismo, com o seu "legado" de miséria, como mais uma prova.
    Por isso mesmo só lunáticos ainda estabelecem o enfrentamento do comunismo e de suas variantes como meta prioritária ou razão de vida. E esse parece ser o caso do ministro da Educação. Ele se mantém refém do fantasma - e dele se alimenta. Não faz o que deveria fazer no importante cargo que ocupa porque continua assombrado. Sancho Pança deveria trazê-lo de volta à realidade.
    O pragmatismo e a objetividade do general Mourão, o vice que se tornou o verdadeiro porta voz deste governo - retificando estabanadas declarações de parte da equipe ministerial - talvez pudessem ajudar. O "fogo amigo" tem sido mais eficaz do que a oposição, ainda em processo de "reaglutinação". Enquanto Veléz Rodríguez estiver no cargo, Mourão deve ser seu Sancho Pança.
    Mais isso não basta, porque todo esse desperdício de energia na educação é dramático. Perdemos terreno nos últimos 15 anos, como demonstram os resultados do país nas avaliações internacionais. Os governos do PT, auto-proclamados do “social”, não reverterem um quadro que já era ruim. Em alguns aspectos, ainda pioraram os resultados do ensino. Houve farta distribuição de quotas e aumento do número de bolsa, via financiamentos a estabelecimentos particulares (a "bolsa empresário" do setor educacional), mas a tão desejada qualificação do sistema educacional brasileiro não ocorreu. Temos mais gente em universidades aprendendo ainda menos e pior. Mais de um mesmo, que não era bom.
    Difícil acreditar que o atual ministro, às voltas com o seu "moinho", seja capaz de reverter esta catástrofe, infelizmente. Portanto, a torcida para que ele seja substituído, no momento mais oportuno, acaba sendo inevitável. Em pouco tempo de governo, já criou mais polêmica do que expectativas positivas. Foi ele quem disse que o brasileiro é mal educado e comete furtos quando está no exterior. Uma generalização que tem seu fundo de verdade, mas que não deve ser repetida por um ministro. Muito menos por um ministro nascido na Colômbia - ou em qualquer outra parte do mundo.

Por Nilson Mello


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Notas




Aula de revisão

    Recebi um comentário de uma boa amiga ressuscitando uma questão que parecia superada. Ao tecer críticas ao atual governo, ela retrocedia acusando Temer de golpista.
    Não acho que isso deva mais ter relevância - pois o voto dos eleitores nas urnas no ano passado esteve alinhado com o desfecho do processo de impeachment -, mas, ainda assim, resolvi fazer uma breve “revisão da matéria”.
    Temer assumiu a Presidência com o impedimento da presidente. Ambos foram eleitos na mesma chapa. PT-PMDB eram aliados em tudo. Quem votou no PT para presidente deveria saber que também estava votando no PMDB de Temer. Com o impedimento da presidente, cumpriu-se a linha sucessória prescrita pela Constituição da República.
    O processo de impeachment, por sua vez, cumpriu os trâmites formais previstos pela Constituição e pela Lei, com julgamento no Congresso presidido pelo presidente do STF. Antes, os recursos da defesa foram examinados pelo Supremo, com respeito ao princípio da ampla defesa.
    Portanto, não foi golpe, mas, sim, um remédio que o Estado de Direito se autoaplicou, para expelir o mal (a exemplo de todos os processos de impeachment: um mecanismo de defesa da própria democracia).
    Além disso, havia um clamor público pelo afastamento da presidente. A sociedade não a queria mais na presidência - e as eleições de 2018, na qual o seu partido saiu derrotado, comprovaram isso. E não queria não apenas porque a presidente havia desrespeitado a Lei Fiscal (o que deu fundamento ao processo de impeachment), mas porque o seu governo produziu a mais profunda e longeva crise econômica (recessão aguda) que este país enfrentou.
    Saliente-se que foi também um governo que mentiu para se reeleger. Ao tomar posse, adotou o programa do adversário, o qual criticava ferozmente na campanha. Um vergonhoso estelionato eleitoral. Por fim, mas não menos importante, foi ainda um governo envolto em escabrosos casos de corrupção, como bem sabemos. Podemos virar a página? (Nilson Mello)

Resumo da semana
    Por enquanto o governo Bolsonaro não tem uma oposição organizada a enfrentar. Tem apenas filhos. (NM)





segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A incrível fábrica de produzir tragédias chamada Brasil!

Comentários


A metáfora em contêiner
(texto de 09/02/2019)

    Jovens confinados como gado aguardando o melhor preço da arroba no mercado da bola. Ter solidariedade com o Clube de Regatas do Flamengo neste momento equivale a ser cúmplice de um crime. A solidariedade deve ir para as famílias dos jovens calcinados nas caixas estanques em que dormiam; e para a torcida rubro-negra obrigada a conviver com diretorias irresponsáveis, a exemplo das de outros clubes brasileiros. 
    Mas o Clube de Regatas do Flamengo merece o rigor da Lei e o olhar crítico da imprensa. Infelizmente, a ênfase das reportagens tem estado mais “no sonho de jovens talentos tragicamente interrompido” do que na criminosa sucessão de irresponsabilidades e omissões que resultaram no dantesco incêndio. 
    No tão propalado “moderno” CT do Flamengo (a imprensa sempre elogiou!), o dormitório dos meninos da base era há anos um improviso que beirava a gambiarra. A ponto de a Prefeitura ter ordenado a sua interdição e ter multado o Clube nada mais nada menos que 30 vezes! 
    Ministério Público e Justiça do trabalho também já haviam notificado o Flamengo quanto às precárias condições do alojamento dos jovens atletas. Pelo que se viu, a (s) Diretoria (s) tratou todas essas advertências com absoluto desdém, uma vez que nada fez.
    Como não havia alvará, também não havia licença do Corpo de Bombeiros. Em suma, não faltavam irregularidades no Ninho do Urubu. Como então podemos ser solidários ao Clube de Regatas do Flamengo?
    Nossa solidariedade deve ser com as famílias das vítimas e para a parcela da torcida rubro-negra que se sente envergonhada pela ocorrência de uma tragédia que poderia ter sido evitada pelos dirigentes de seu clube. (Nilson Mello)



“Contrario senso"
(texto de 10/02/2019)

    Não se trata de responsabilizar o clube porque é o Flamengo, mas, sim, de não isentar só porque é o Flamengo. O rubro negro que quiser honrar as tradições de seu time, que não são poucas!, deve, em primeiro lugar, reconhecer a responsabilidade institucional.
    O Clube de Regatas do Flamengo (junto com os seus dirigentes) é culpado pelo incêndio no Ninho do Urubu, assim como a Vale é culpada (juntamente com seus diretores e corpo técnico contratado) pelas tragédias de Mariana e Brumadinho. 
    Os meios de comunicação e os meus colegas da imprensa esportiva também merecem uma reprimenda: uma boa reportagem (em qualquer grande veículo!) mostrando as precárias condições de segurança do alojamento dos jogadores da base talvez tivesse levado o Flamengo a tomar as providências necessárias.
    Fontes de informações para embasar matéria com esse enfoque não faltavam: bastavam ouvir MP, Justiça do Trabalho, Prefeitura, Corpo de Bombeiros e todos os especialistas que, agora, se perfilam nos programas de entrevistas apontando tardiamente os erros que levaram à tragédia. Leite derramado.
    Veículos e jornalistas da imprensa esportiva podem ter se acomodado nas “pautas cegas”, condicionados não pela postura crítica que deve orientar o trabalho jornalístico, mas por uma certa tietagem clubística, embalada pela certeza de audiência e maior vendagem de exemplares.
    Achávamos que os 7 a 1 haviam sido a nossa suprema humilhação futebolística... Aquilo não foi nada! (NM)

Brumadinho
(texto de 07/02/2019)
   
    Acho covardia o sujeito dizer que assinou um laudo técnico porque foi pressionado pelo contratante ou empregador. O profissional capacitado é justamente aquele que diz não às pressões - financeiras, políticas, comerciais etc.
    Diria mesmo que este é o seu principal papel, o resto é consequência desta postura básica. Na verdade, acho que essa tentativa de se eximir terceirizando a responsabilidade técnica é algo pior do que a covardia, mas fiquemos por aqui em termos de adjetivos.
    Num paralelo, imaginemos um médico alegando ter administrado a medicação errada (matando o paciente) porque foi pressionado pelo diretor do hospital ou pelo representante do laboratório. Ou o jornalista que, ao ser processado por uma reportagem infamante ou caluniosa, que apurou e redigiu, culpar o dono do jornal ou o seu editor chefe.
    O bom profissional é o que diz não na hora decisiva. E, na sequência, denuncia a pressão - se, de fato, for o caso. Se foi mera estratégia de defesa, será mera estratégia de defesa... Ou seja, tentativa inócua. (NM)