O fator
previdenciário
O
déficit da Previdência em 2014 foi de R$ 56,6 bilhões, cerca de 1,1% do PIB,
com despesas totais de R$ 394 bilhões. Com a flexibilização do Fator
Previdenciário, conforme aprovação na quinta-feira passada na Câmara, o rombo
aumentará em 1,14% do PIB (ou mais R$ 61,5 bilhões/ano). A mudança ainda depende de votação no Senado e pode sofrer o veto presidencial, que, por sua vez, poderá ser derrubado.
O Fator Previdenciário reduz o valor da aposentadoria à medida que o trabalhador se aposenta mais cedo. Responsável
por sua criação em 1999 (enfrentando o PT), porque já
naquela época era imprescindível diminuir o déficit da Previdência, o PSDB,
desta vez, votou pela flexibilização da regra, se opondo ao ajuste fiscal do
governo. Ou agiu contra os interesses do país naquela época, mentindo à opinião
pública, ou está contra agora.
Mas
se, durante os últimos quatro anos, o PSDB criticou - e com razão - a má gestão
orçamentária do governo Dilma Rousseff, como pode ser contra um ajuste do qual
depende o reequilíbrio das contas públicas? Quanto ao PT, se reconhece a
necessidade do Fator hoje - tanto que a maioria de sua bancada votou alinhada
com o Planalto - significa que tentou ludibriar os eleitores em 1999. (o hábito, portanto, não
é recente)
No
Brasil, não há idade mínima para a aposentaria - um dos três países do mundo
a manter este modelo. Japoneses e alemães - e também , noruegueses, finlandeses,
canadenses, suíços -, com padrão de vida e IDH muito mais elevados do que o
nosso, poderiam nos lembrar que a regra generosa não é sustentável ao longo do
tempo. Diriam o que já sabemos.
Assim
como sabemos que não é justo - e financeiramente sustentável - que servidores públicos
aposentem-se com vencimentos integrais, enquanto os trabalhadores do setor privado
pagam a conta, sem direito à mesma vantagem. Nada que o Estado dá é de graça.
O
que torna o ajuste fiscal ora em curso de difícil assimilação é o fato de
sabermos que, antes de mexer em direitos dos cidadãos (ainda que direitos
questionáveis à luz da racionalidade econômica), o governo teria muito a cortar
nas suas despesas de custeio, bem como muito a melhorar na gestão da máquina pública.
Sobretudo, quando se sabe que o ajuste não seria necessário hoje, se o "desajuste"
não tivesse sido fomentado, com singular irresponsabilidade, nos quatro anos
anteriores.
Por Nilson Mello*
Por Nilson Mello*
Anote
Um dos problemas no Brasil é que
queremos ser um país de amplos direitos, sem cuidar dos deveres. Mas o paraíso
não existe. Ao menos não na Terra. Esta nossa falsa compreensão da realidade parte
de outra crença equivocada: a de que o Estado tudo pode prover.
Ocorre,
contudo, que o Estado não gera riquezas, não produz desenvolvimento. Isso quem faz
são os indivíduos e as empresas. E, claro, só farão isso se houver estímulo e
um ambiente legal favorável.
Bem
estar social não se inventa, não se cria com um passe de mágica. É, ao
contrário, resultado de esforço árduo do conjunto dos indivíduos, dos agentes
econômicos. Requer muito trabalho, empenho produtivo. Japoneses, sul-coreanos e
alemães poderiam nos ensinar muito sobre a matéria.
Nada
do que se supõe que o Estado "dá" é de fato de graça. Tudo tem custo.
E quanto mais benefícios os governos engendram, mais alto será o preço a ser
pago pela sociedade, conjuntamente. Carga tributária de quase 37% do PIB - e tendendo
a subir -, como ocorre hoje, tem aí a sua explicação.
O
"financiamento" dos benefícios que o Estado paga não pode chegar a
tal ponto que desequilibre o orçamento público. Do contrário o preço a ser
compartilhado por todos crescerá de forma infinita, inviabilizando os próprios
programas sociais.
A
necessidade de financiamento crescente do Estado, via impostos, mina a
eficiência e a capacidade produtiva das empresas, inviabilizando a geração de
riquezas - justamente o que é fundamental para se melhorar a renda e, por
consequência, os indicadores sociais. Por outro lado, benefícios precoces
também desestimulam o esforço coletivo.
O
Estado tem que ser forte. Mas Estado forte não é um Estado-empresário - porque este
tende à ineficiência, e ineficiência enfraquece. Um Estado deve ser forte do
ponto de vista político e institucional, zelando para que haja um ambiente propício
ao desenvolvimento - menos burocracia, menos tributação, melhor educação, estabilidade
de regras, segurança jurídica etc -, algo que não temos hoje.
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