A faca e o sofá
na sala
Vídeo
que está se tornando viral nas redes sociais mostra o suposto menor acusado
de assassinar a golpes de faca o médico Jaime Gold sendo espancado por outros
rapazes dentro de sua cela. Pelo que as postagens anunciam, ele
está em uma instituição do Estado destinada a recolher infratores e aplicar
medidas "sócio educativas".
O
assassinato que, compreensivelmente, chocou os cariocas ocorreu no último dia
19, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal de uma cidade que luta para
manter o título de "Maravilhosa", apesar a violência crescente,
diversificada e cada vez mais descontrolada.
Pelas
imagens do vídeo percebe-se que são os "carcereiros"
(eufemisticamente denominados "agentes correcionais" ou algo do gênero)
que começam as agressões. Quem dá a partida, portanto, são justamente aqueles
que deveriam zelar pela integridade física dos infratores e, sobretudo, pela
ordem dentro da instituição.
Enquanto
seguram os braços do acusado pelas grades e desferem socos em sua cabeça,
encorajam os outros menores (ou presos) - uma meia dúzia - a espancá-lo. Alguém
dentro da cela grava a sequência violenta, que depois seria postada nas redes.
Os
envolvidos parecem tão mais velhos que se chega a duvidar se aquela é mesmo uma
instituição para menores e se o rapaz agredido é de fato o acusado pela morte
de Jaime Gold. Ou, ainda, se o acusado foi colocado numa cela com presos comuns
numa delegacia qualquer - o que seria um absurdo total. Como o celular foi
parar atrás das grades, nas mãos dos detidos, embora o seu uso seja proibido em
prisões de qualquer espécie, tudo é possível. O que fica claro é que o agente
do Estado, no Brasil, é o primeiro a violar a lei.
Para
os que se regozijam com as imagens - e a replicam nas redes - alegando que pior
do que o espancamento foi o assassinato brutal de Jaime Gold (sem dúvida,
bárbaro, inadmissível), é preciso dizer que um crime não pode servir de
desculpa para outro crime. Menos ainda se tiver a conivência de agentes
públicos. A covardia maior não justifica a menor.
Uma
cidade que se mostra revoltada com a violência nas ruas, porque se pretende
civilizada, não pode tolerar que um menor "apreendido" (ou mesmo um
preso) seja espancado dentro de sua cela com a participação ou conivência de
agentes públicos. Isso não é punição, muito menos justiça. Isso se chama
barbárie.
Como
tirar os jovens da criminalidade? Governo e legisladores podem até alterar o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tornando-o mais rigoroso. Diante
das circunstâncias, a medida é necessária, e há um clamor neste sentido. Mas
será mesmo que a principal causa da violência praticada por jovens e crianças é
a existência de uma legislação "penal" mais branda para menores de 18
anos?
Seria
preciso sermos totalmente alienados para achar que um jovem de 16, 15 ou mesmo
12 anos vai para as ruas assaltar e cometer outras barbaridades apenas porque a
lei não é severa com ele. Os rapazes que espancaram seu colega na cela não o fizeram
por reprová-lo e para puni-lo, mas porque a violência faz parte de suas
existências. Esses jovens tiveram educação, escola de qualidade, família
estruturada, condições materiais mínimas para viver? Cresceram com alguma
perspectiva?
No
Brasil é comum se tentar resolver problemas atacando causas diversas ou
distantes. Resolve-se pela metade. Não é por outra razão que a Câmara dos
Deputados, pelas mãos de seu presidente, Eduardo Cunha, está prestes a
desenterrar um projeto de 2004 que criminaliza o porte de armas brancas. O
próximo passo seria proibir a circulação de lâminas de barbear, martelos,
chaves de roda...
É
aquela história do marido traído que resolve tirar o sofá da sala.
Por Nilson Mello
Comentários dos leitores:
"Análise ponderada da nossa grave realidade"- Francisco Horácio Nogueira, engenheiro (via Facebook).
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Comentários dos leitores:
"Análise ponderada da nossa grave realidade"- Francisco Horácio Nogueira, engenheiro (via Facebook).
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"Concordo
que o ECA não é a causa da criminalidade e que sua alteração, apesar de
necessária, pouco fará diminuir a criminalidade. Trata-se de um problema de
educação. Não vejo como ter esperanças na recuperação de algumas espécies de
vagabundos, que não sejam mudanças mais drásticas tanto na constituição quanto
no código penal.
Não
tenho a menor dúvida de que punições severas ajudariam muito na prevenção da
criminalidade.
Ontem
mesmo, baseado no escandalo da FIFA, comentava que não existe diferença de
índole em função de nacionalidade, o que existe é temor - ou não - para cometer
crimes em função da impunidade - ou não - das nações.
O
filme que rola, infelizmente não é o do assassino do Dr. Jaime Gold, o qual,
aliás, era amigo de vários amigos meus. Pelos testemunhos que ouvi, tratava-se
de um sujeito que abriu mão de ter consultório particular para trabalhar no
hospital da UFRJ para atender os mais humildes, que amava o esporte, que
tirava do próprio bolso para comprar remédios para os necessitados.
Por
isso usei "infelizmente", já que, excetuando as porradas dadas pelos
carcereiros, as demais foram muito brandas, o que deixa claro que a cena se deu
dentro de uma delegacia. As "punições" dentro de presídios são muito
piores.
Quanto
ao sujeito (?) do filme, apurei que se trata de um estuprador e na
"legislação" da bandidagem esse crime, assim como assassinato de
crianças, é punido de forma exemplar. Não há razão para ter pena do vagabundo,
ele teve sorte de estar numa delegacia, pois quando chegar na penitenciária
será alvo de pancadas realmente violentas e terá, parafraseando o Bolsonaro,,
seu órgão excretor penetrado por filas de detentos e objetos..
Ah,
nesse caso, desculpe, mas nem eu, que sou um defensor ferrenho da educação como
ferramenta de desenvolvimento de uma nação, acho que ela faria com que houvesse
menos estupradores. Esses caras são doentes, só a castração ou pena de morte
são capazes de deixar a população livre dos que forem pegos.
Já
sobre a criminalização das armas brancas, penso também ser uma medida similar ao
sofá do corno, nada adiantará"- Idel Halfen, economista e administrador de
empresas, consultor nas áreas de gestão e marketing esportivos (via e-mail).
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