O pior ainda está por vir
Em
recente palestra, durante seminário no Rio sobre a (pseudo) "Reforma
Política" em trâmite no Congresso, o jurista Aurélio Wander Bastos
lembrou, oportunamente, o conceito de Oclocracia, de Maquiavel.
Não
sendo propriamente uma forma de governo, como as categorias aristotélicas, a Oclocracia
(Oklos, de multidão, e Kratos, de poder) sobrevém quando as instituições
perdem-se ao sabor do irracionalismo dos governantes ou quando - mais
precisamente o nosso caso - os governantes adotam práticas degenerativas de
administração, provocando a instabilidade do Estado.
Ambição,
patrimonialismo (pequenos grupos se apossando do que é público, em benefício
próprio) e populismo, traços inerentes e marcantes da Tirania, da Oligarquia e
da Demagogia, respectivamente, também são, portanto, ingredientes presentes na
Oclocracia.
O
irracionalismo e as práticas degenerativas dos últimos anos lançaram o país no impasse
econômico de hoje. O populismo demagógico tratou de turvar a realidade,
embriagando os desinformados que compareceram às urnas.
O
governo girou 180o graus, mas a impostura intelectual persiste fora dele, em
bastiões ideológicos: a forte recessão que o Brasil enfrenta - talvez a de mais
difícil reversão de sua história - é falaciosamente atribuída ao ajuste destinado a reverter o caos parido de uma
política econômica irresponsável.
Desafios
conjunturais somam-se agora a obstáculos de ordem estrutural, cuja superação
dependeria de condições presentes mais favoráveis, como capacidade de
investimento. O tal ajuste, por sinal, pode nem mais acontecer, o que torna
qualquer análise quanto às possibilidades de superação da crise - seja em
curto, médio ou longo prazo - mero exercício de ficção.
A
meta de superávit primário, ponto central da reconquista da credibilidade, simplesmente
deixou de existir.
De
1,1% do PIB (algo como R$ 66 bilhões), conforme desenhada no início do ano pela
equipe de Joaquim Levy, foi reduzida para menos de R$ 9 bilhões (ou 0,15% do
PIB), diante da baixa arrecadação por força da recessão e da tímida contenção
de gastos públicos obtida até aqui. Um recuo de quase 90% que nos leva a
perguntar se, no embate do front fiscal, o ministro já não jogou a toalha ao
ringue. E se, diante deste revés, há algo mais a fazer.
O
momento delicado exigiria união em prol do interesse geral, mas o que prevalece
é a mais rasteira disputa entre poderes, sem que possa haver vencedores.
Na
impossibilidade de reduzir gastos, afrontado pelo Legislativo (devido à sua
própria inabilidade e falta de liderança), isolado na luta do ajuste pretendido,
restou ao governo se agarrar, contrariando o que fizera no passado, a uma
política monetária restritiva. Tenta não perder de vista a promessa de retorno
da inflação à meta (de 4,5%) ao término de 2016.
Nesta
sexta-feira (29), o Banco Central subiu a taxa básica de juros (Selic) em
0,50%, a sétima alta consecutiva, para 14,25% ao ano, o maior nível desde agosto
de 2006. Juros mais altos aumentam os encargos da dívida, dificultando a
retomada do próprio equilíbrio fiscal e do crescimento.
A
permissividade monetária do primeiro mandato, fruto do voluntarismo e do
experimentalismo criminosos no campo econômico - e responsável pela persistente
alta da inflação desde então - cobra agora o seu alto preço. O remédio
ministrado em doses mais fortes, na tentativa desesperada de curar a doença, coloca
o paciente em estado vegetativo.
Tem
sido repetido que "será preciso piorar para melhorar". Ao menos já
sabemos que o pior ainda está por vir. Anote este nome: Oclocracia.
Por
Nilson Mello
Em
tempo:
1.
Com meta de superávit primário reduzida em cerca de 90%, equilíbrio fiscal
distante, juros em elevação (aumentando os encargos da dívida) e governo sem qualquer
credibilidade, por conta disso tudo, é de se estranhar a possibilidade de
rebaixamento da nota de crédito do Brasil (e perda do grau de investimento)?
Parlamentares ligados à base governista vieram a público protestar contra as
agências de classificação de risco. Ingenuidade? Ignorância? Embuste?
2.
Ainda que sistematizada, por conta de um projeto de poder - e, por isso, levada
ao paroxismo - a corrupção não é nem de longe o maior problema que o país enfrenta.
A inépcia administrativa, a incompetência técnica e a má gestão têm causado
danos bem maiores.
3.
Artigo desta quinta-feira de José Roberto de Toledo em O Estado de S. Paulo informa que, pelo Índice de Confiança Social do
Ibope, a presidente Dilma Rousseff e o Congresso empatam em 22 pontos, numa
escala de 0 a 100. A confiança na presidente, caiu pela metade em um ano.
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