O fetiche da barbárie
Os sunitas formam o ramo majoritário e, historicamente, o menos radical
do Islã. Ao menos assim eram reconhecidos até o surgimento do Isil, o Estado
Islâmico do Iraque e do Levante, na sigla em inglês (ou Isis, Estado Islâmico
do Iraque e da Síria), hoje apenas Estado Islâmico (EI).
Calcula-se que 84% dos muçulmanos pertençam a essa
corrente, de posição mais neutra em comparação aos xiitas, kharijitas e
outras denominações mais recentes.
O radicalismo político e o fundamentalismo religioso
eram tradicionalmente traços associados aos xiitas, não aos sunitas. Basta
lembrar que o termo “xiita” serviu por um bom tempo para designar, no Brasil,
parlamentares e políticos de posição mais radical, geralmente de esquerda.
O apelido em tom irônico surgiu na esteira da
revolução iraniana de 1979, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini e que levou
à deposição do xá Reza Pahlevi. Khomeini
pôs fim à monarquia artificial, totalitária e pró-ocidente de Pahlavi e
inaugurou um Estado islâmico de caráter fundamentalista.
No mundo contemporâneo, o Irã criado por Khomeini, morto
em 1989, é certamente a mais nítida expressão de uma teocracia, ainda que hoje a
revolução islâmica iraniana já não tenha mais a intensidade dos seus primeiros
anos.
Pouco tempo depois, na arrastada e sangrenta guerra
entre Iraque e Irã (1980-1988), sunitas e xiitas travaram um confronto formal que
resultou em 1,5 milhão de mortos. Com as economias dos dois países devastadas
pela guerra, não houve vencedor formal – apenas perdedores.
O antagonismo de Teerã ao ocidente e, em especial, aos
Estados Unidos, fez com que o Iraque do então ditador Saddam Hussein - e de
maioria sunita - contasse com o total apoio americano. Especula-se que o
estímulo para que Bagdá rompesse o antigo acordo de fronteira com o país
vizinho nos territórios ocupados pelas minorias curdas (estopim do conflito) tenha
sido, na verdade, urdido em Washington, interessado na desestabilização do
regime islâmico.
Em 1990 e em 2001, nas guerras do Golfo e do Iraque, os
alvos da política externa americana e de seus “planos estratégicos” passaram a
ser Saddam Hussein e o próprio Iraque. A ocupação que se seguiu à guerra de
2001-2003 não teve êxito - como fica claro agora - em estabelecer um sistema
político estável no país, com equilíbrio de forças.
Alijados do poder, embora majoritários, sunitas forjaram
o seu Estado Islâmico radical. A desestruturação da ditadura síria de Bashar
al-Assad e a fraqueza institucional da presuntiva democracia iraquiana foram os terrenos férteis para a sua
propagação.
O Irã de hoje está prestes a se unir ao Ocidente e a
países árabes na coalizão militar destinada a conter o avanço do EI –
coalização que conta também com curdos e turcos. O regime de inspiração xiita volta
a combater forças sunitas, mas agora tendo americanos e iraquianos como aliados.
O sumário histórico pontua os acontecimentos, mas não
explica o principal: como um grupo que adota um grau de extremismo sem
precedentes, de barbárie ímpar, pode atrair para suas fileiras uma legião de
voluntários procedentes de nações, culturas e até religiões tão distintas? Qual a
explicação para o “fetiche” da violência ser tão poderoso?
Estimativas das Nações Unidas indicam que os cerca de 30
mil combatentes do EI sejam procedentes de mais de 80 países, sendo que 2 mil
deles são ocidentais - americanos, franceses, ingleses, dinamarqueses e
alemães, entre outras nacionalidades.Entre os combatentes, há mulheres ocidentais, segundo notícias divulgadas esta semana.
Tão chocante quanto ver dezenas - às vezes centenas -
de homens, prisioneiros do EI, dirigirem-se de mãos atadas e em longas fileiras,
de forma resignada, para a execução sumária, ou reféns ajoelhando-se com
serenidade, para serem decapitados a faca fria, é saber que milhares de jovens
ao redor do mundo são seduzidos por uma fórmula estarrecedora e ao mesmo tempo simples:
o terror na sua forma mais brutal e gratuita. Não são ideias ou propostas que
sobressaem no EI, mas a violência em estado bruto.
A conclusão é que, para acabar com as guerras e a violência,
seria preciso reinventar o ser humano.
Por Nilson
Mello
Desempenho
econômico – O mundo não enfrenta
uma crise econômica generalizada, ao contrário do que o governo afirma, para
tentar justificar o baixíssimo desempenho da economia brasileira, cujo
crescimento será próximo de zero em 2014.
Este é o principal ponto do manifesto assinado por 164
economistas, de diferentes escolas e correntes - inclusive heterodoxos - e divulgado esta
semana, com críticas à gestão da economia no governo Dilma Rousseff.
Entre os países vizinhos, a Colômbia deverá crescer
4,8% este ano com inflação de 2,8%; o Peru, 3,6%, com 3,2% de inflação; o
México, 2,4% de avanço de PIB, com 3,9% de aumento de custo de vida. A inflação no Brasil deverá
estourar o teto da meta, de 6,5%, sem garantias de que haverá crescimento.
Os dados comparativos jogam por terra a ideia - equivocada - que tem
sido martelada pelo marketing oficial segunda a qual foi preciso deixar a inflação
escapulir um pouco para não prejudicar a atividade econômica. Não se cresce com inflação.
No mundo, destaca o manifesto com base em dados da
OCDE, só há quatro países a rigor em crise: Argentina, Itália e Islândia, além
do Brasil. O documento faz um alerta: com crescimento baixo e inflação em alta,
os índices de emprego no Brasil não tardarão a cair. Mais detalhes no link
abaixo:
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