Ao insistir no confronto com o PMDB, o PT dá a entender que pode se
desfazer do chamado “presidencialismo de coalizão” em pleno ano eleitoral sem
perder de vista a vitória nas urnas em outubro e o seu projeto de poder. Seria
isso mesmo?
O “toma-lá-dá-cá” que a fórmula da coalização propicia é, de fato,
deletéria. Eliminar as negociações e os negócios submersos que pautam a relação
do Executivo com o Legislativo seria, portanto, um projeto digno do apoio de
todos.
Contudo, muito pior do que o efeito colateral nefasto que o modelo
implica é a proeminência de um partido hegemônico, com poder absoluto sobre uma
máquina pública avassaladora – e por extensão sobre todos nós, mortais.
Que fique claro: presidencialismo de coalização não é um mal em si. O
mal está nas práticas inconfessáveis que os agentes adotam dentro do modelo
possível.
São eles que precisam melhorar, ou serem melhorados, por meio do voto
esterilizado que o eleitor “deposita” na urna. O pressuposto é o próprio
aperfeiçoamento do eleitor. Então, de volta à velha pergunta: a educação que
temos hoje no Brasil já é capaz de potencializar essa revolução ou precisaremos
de mais alguns anos (décadas ou séculos) para depurarmos o processo?
Olhando o embate do ponto de vista prático, dentro do cálculo
estritamente eleitoral, é difícil acreditar que o PT não perceba o risco de
derrota com a possível defecção do PMDB. Ainda que o partido blefe melhor do
que aparenta, e que seja capaz de redefinir o eixo dos entendimentos sem
maiores estragos, a estratégia é de alto risco. Para o PT, claro, não para o
país.
A oposição agradece. Em especial o PSDB, herdeiro presuntivo do apoio -
por questões históricas e também pela estrutura capilarizada, “mais capacitada”
a absorver o apoio que é quase que declaradamente interessado.
Aliás, o movimento do PT foi até aqui o lance mais ousado da
pré-campanha de Aécio Neves. E, pelo que se vê do espírito e do ânimo do
tucano, será difícil de ser superado. E isso talvez explique um pouco o risco
assumido pelo governo e o seu partido.
Por Nilson Mello
Em tempo
Mensalão
- O Supremo Tribunal Federal
encerrou nesta quinta-feira (13) o processo do “Mensalão”. Dos 40 personagens
inicialmente denunciados pela Procuradoria-Geral da República em 2006, 38
acabaram no banco dos réus.
Desses, 24 foram condenados ao término de um ano e sete meses de
julgamento, com 69 sessões. Entre eles estão um ex-ministro, um ex-presidente
de partido, um punhado de outros ex-dirigentes partidários, ex-deputados
federais, empresários, banqueiros e diretores de estatais.
Pode-se até discutir algumas penas aplicadas a um ou a outro réu, por
rigor de menos ou até rigor demais – afinal, cada qual tem o direito de fazer o
seu próprio juízo, desde que cumpra o que determina a Justiça.
Por isso a Ação Penal 470 fica como um marco na história política
brasileira. Contribuiu para a moralização da vida pública nacional, o fim da
impunidade e a consolidação das instituições.
A exclusão de dois indiciados e a absolvição, no julgamento, de 13 réus,
juntamente com as condenações, apenas comprovam, no final das contas, a
independência, a credibilidade e a força dessas instituições.
Mais
impostos – Por falar
em eleição, o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo,
certamente a maior entre os chamados emergentes, na casa dos 36% do Produto
Interno Bruto (PIB). Ainda assim, o governo anuncia que aumentará impostos, a
fim de poder fazer aporte de caixa para destinar R$ 4 bilhões às distribuidoras
de energia, além de estimular o financiamento de mais R$ 8 bilhões ao setor.
Foi a fórmula encontrada para conter ainda mais os aumentos da conta de luz em
ano eleitoral. De qualquer maneira, a fatura vai para o contribuinte, mas sob
mal ajambrado disfarce. O controle de preços administrados é uma das razões
para os baixos investimentos no setor de energia. Por sua vez, os baixos
investimentos são uma (a principal) das razões para os riscos de apagão. O
contribuinte é punido de todo jeito: por pagar altos impostos, por não ter uma
infraestrutura confiável na área de energia (a exemplo do que ocorre em outros
setores, como saúde, educação, segurança e transportes) e por ser engabelado em
ano eleitoral.
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