O que é pior no caso
Pasadena?
Refinaria Pasadena, Texas
As cláusulas do tipo
put option garantem a um dos sócios o direito de adquirir 100% do negócio
em caso de discordância quanto aos rumos da companhia, dentro de determinado
prazo. São usuais em operações de fusão e aquisição como a compra, em
2006, da refinaria Pasadena, no Texas, pela Petrobras.
Menos comuns, mas
igualmente corriqueiras, as cláusulas Marlin garantem um percentual de lucro a
um dos sócios, em caso de condições desfavoráveis de mercado. Também estava
presente no contrato da unidade texana.
A put option
é tão frequente que figurou na compra de outra refinaria pela Petrobras, a
de Okinawa, no Japão, dois anos mais tarde, por US$ 50 milhões. O esclarecimento
quanto à presença das cláusulas em Pasadena foi feito nesta quinta-feira (20)
pelo ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielle.
Em grande medida,
a explicação põe em xeque a presidente Dilma Rousseff que, na véspera, procurou
se isentar de qualquer responsabilidade na operação, concretizada na época em
que era ministra-chefe da Casa Civil (a poderosa “gerentona” do governo Lula) e
presidente do Conselho da estatal.
Em nota, o
Palácio do Planalto informou que, se essas regras fossem conhecidas na época,
“seguramente não seriam aprovadas pelo Conselho”. E ainda que o aval foi dado
com base em relatório (resumo executivo) “falho, pois omitia qualquer referência
às cláusulas Marlin e de Put Option que integravam o Contrato”.
Contudo, é
possível ler nas entrelinhas das explicações de Gabrielle que quem é ou foi
executivo do setor petróleo ou autoridade com ingerência na área de energia e,
sobretudo, na Petrobras, tem pleno conhecimento de tais regras. Dilma, além de
presidente do Conselho da empresa, foi ministra das Minas e Energia e titular da
pasta no Secretariado do Rio Grande do Sul. Detalhe: Gabrielle não confirmou que
o resumo executivo omitira as cláusulas.
A discrepância
de valores na transação fechada no Texas chama a atenção e por isso o esforço
para esclarecê-la. A refinaria havia sido comprada em 2005 pela belga Astra Oil
por US$ 42,5 milhões. No ano seguinte, a Petrobras desembolsou US$ 360 milhões
por apenas 50% da unidade. Num segundo aporte, em junho de 2012, pagou mais US$
820,5 milhões pelo seu controle, após uma disputa judicial e um pedido de
arbitragem que culminaram com a imposição da cláusula put
option.
Segundo
Gabrielle, “o negócio foi adequado, com as regras que ele continha, naquele
momento”. A diferença entre o que a Astra Oil pagara pela planta e o que a
estatal brasileira acabou desembolsando pelo seu controle é de US$ 778 milhões,
ou 1.830%. Para sermos imparciais, reconheçamos que a grande variação não
significa necessariamente que houve sobrepreço com o intuito de desviar
recursos.
Gabrielle afirma
que o valor final envolveu não apenas a planta, como a aquisição da capacidade
de refino e produtos que estavam na refinaria, além de remuneração para os
bancos que apresentaram garantias e custos judiciais, entre outros. Explicações
dadas, contudo, não há como não dizer que foi um péssimo
negócio.
Agora, além do
dinheiro jogado fora e da má gestão na Petrobras, é saber o que pode ser pior: o
fato de a presidente Dilma ignorar regras que deveria conhecer, não ter exigido
explicações mais detalhadas de um negócio vultoso envolvendo a maior estatal do
país, da qual era presidente do Conselho, ou de apostar numa explicação capenga
para tentar se eximir de culpa numa operação desastrosa?
Por Nilson
Mello
Anote – O choque de
oferta de alimentos leva analistas do próprio governo a admitir que o índice de
inflação romperá o teto da meta (de 6,5%) no segundo semestre. A política
monetária não surte o efeito esperado sem uma política fiscal (contenção de
gastos públicos) compatível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário