Uma economia pornográfica
A piada do humorista foi um pouco
grosseira esta manhã, mas expôs o ridículo de nossa realidade econômica com
rara contundência. Ao comentar o fraco desempenho do Produto Interno Bruto
brasileiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teria dito que ele (o pibinho)
“é pequeno, porém, satisfaz”.
Essa ao menos foi a versão de Marcelo Madureira para a retórica
ministerial e o horizonte limitado de nossa economia. Literalmente ancorada aos
estímulos ao crédito e ao financiamento fácil dos últimos anos, essa economia
simplesmente não se move.
Experimente subir correndo uma escada rolante no sentido contrário. Há
muito dispêndio de energia, mas nenhuma eficácia quanto ao objetivo pretendido.
A política econômica do governo Dilma Rousseff é a encarnação dessa
metáfora: a inflação alta, decorrente do ativismo fiscal e dos impulsos de
crédito, representando o dispêndio de energia; a “patinação” na esteira, ou o
andar sem sair do lugar, o PIB diminuto e ainda assim pornográfico, como bem
lembrou Madureira. Muito estímulo e inflação, com crescimento pífio é o que a
ineficiência produz.
O que constrange - e com razão pode revoltar alguns - não é a terminologia
anedótica, por assim dizer, resvalando para o vulgar, mas o que vem à tona com
o emprego da ironia, ou seja, a capacidade deste governo dizer que está tudo
ótimo quando sabemos que vai tudo muito mal, sobretudo na economia.
Que governos mentem, sabemos todos. Sem falso moralismo, podemos até dizer que,
na política, mentir é uma questão de sobrevivência, dadas determinadas
circunstâncias. Mas para tudo há limites. E entre a sobrevivência de um governo
que não acerta e a sobrevivência de uma economia que até pouco reunia todos os
pressupostos para se desenvolver de forma sustentável, sem inflação, fiquemos
com o interesse do país – ou seja, a segunda opção.
O PIB deve ter sofrido uma “pequena parada”, disse Mantega no último dia 02, ao
comentar o recuso de 0,5% no terceiro trimestre do ano. Com crescimento abaixo
dos 3% ao ano, o Brasil vem se mantendo na rabeira entre os emergentes e os
principais vizinhos latino-americanos.
O mais curioso são os paradoxos. Como o governo não promoveu
investimentos que garantissem produtividade à economia, tudo que conseguiu
foi estimular a inflação, que segue renitente bem acima da meta dos 4,5%.
Tardiamente, o BC retomou a alta dos juros e agora temos tudo de ruim ao mesmo
tempo: pouco crescimento, juros altos e, apesar disso, preços robustos e resistentes.
Por Nilson Mello
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