Baderna ou democracia?
Protesto com samba é democrático. Com vandalismo, não.
O
governo de São Paulo não tem compromisso com erros, como alertou o governador
Geraldo Alkmin, e por isso vai investigar os excessos cometidos por policiais
militares na contenção das manifestações contra o aumento de passagens. É bom
que governantes não tenham compromisso com o erro, e neste sentido o que melhor
ficou do episódio foi o alinhamento de posições entre os governos estadual,
municipal e federal.
Ao mesmo tempo em que o governador
estabelecia os limites de um protesto democrático em entrevista à imprensa, o
ministro da Justiça, Luiz Eduardo Cardozo, garantia apoio ao governo paulista
na manutenção da ordem, e o prefeito Fernando Haddad lembrava que a autoridade
policial deve seguir o protocolo e não permitir atos de vandalismo.
Democracia
não é fazer o que se quer, mas fazer aquilo que é permitido. Democracia é fazer
aquilo que não agrida aos demais ou que ponha em risco a própria segurança das
instituições e de um regime que prima pela defesa dos direitos individuais e
coletivos. Ordem não é traço característico de ditadura. Ordem é pressuposto
das boas democracias, daquelas que vingam e prosperam. Aquelas democracias cujo
povo produz manifestações pacíficas. É romântico, mas verdadeiro.
Em manifestações do gênero dessas
que se espalharam pelas principais capitais do país, e em especial Rio e São
Paulo, não falta uma boa causa. No caso em questão, o estopim foi o aumento da
passagem de ônibus, mas o rastilho de pólvora é o péssimo sistema de transporte
dos grandes centros urbanos brasileiros – prova maior de nosso fracasso em planejamento.
À revolta contra o transporte deficiente (e agora mais caro), soma-se o
desapontamento com os serviços públicos de má qualidade, sobretudo nas áreas de
saúde e educação, a despeito dos altos custos impingidos ao contribuinte.
O que era latente aflorou. A
população, que parecia inebriada pela propaganda de 6ª economia do mundo,
despertou e perguntou-se: se está tudo bem, por que não temos aquilo que
realmente precisamos? Onde está a mão do governo? Queremos serviços de
qualidade, um Estado de qualidade.
Os protestos são mais do que justos.
Desde que não haja vandalismo e bandalheira. Mas há sempre os estúpidos que
colocam as boas causas a perder. São os baderneiros fazendo as depredações de
um lado e os despreparados de um aparato de repressão que não é – e nem pode
ser – imune a falhas (porque formado por seres humanos) de outro.
Tudo considerado, saíram-se bem, em
suas declarações, ministro, governador e prefeito. Ponto para a democracia, ao
menos nesse aspecto. Saiu-se igualmente muito bem um dos organizadores do
movimento, que disse: “As manifestações extrapolaram todos os seus limites”.
Razão pela qual é preciso rigor no trato da questão.
Por Nilson Mello
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