sexta-feira, 14 de junho de 2013


Baderna ou democracia?
Protesto com samba é democrático. Com vandalismo, não.

                O governo de São Paulo não tem compromisso com erros, como alertou o governador Geraldo Alkmin, e por isso vai investigar os excessos cometidos por policiais militares na contenção das manifestações contra o aumento de passagens. É bom que governantes não tenham compromisso com o erro, e neste sentido o que melhor ficou do episódio foi o alinhamento de posições entre os governos estadual, municipal e federal.

Ao mesmo tempo em que o governador estabelecia os limites de um protesto democrático em entrevista à imprensa, o ministro da Justiça, Luiz Eduardo Cardozo, garantia apoio ao governo paulista na manutenção da ordem, e o prefeito Fernando Haddad lembrava que a autoridade policial deve seguir o protocolo e não permitir atos de vandalismo.

                Democracia não é fazer o que se quer, mas fazer aquilo que é permitido. Democracia é fazer aquilo que não agrida aos demais ou que ponha em risco a própria segurança das instituições e de um regime que prima pela defesa dos direitos individuais e coletivos. Ordem não é traço característico de ditadura. Ordem é pressuposto das boas democracias, daquelas que vingam e prosperam. Aquelas democracias cujo povo produz manifestações pacíficas. É romântico, mas verdadeiro.

Em manifestações do gênero dessas que se espalharam pelas principais capitais do país, e em especial Rio e São Paulo, não falta uma boa causa. No caso em questão, o estopim foi o aumento da passagem de ônibus, mas o rastilho de pólvora é o péssimo sistema de transporte dos grandes centros urbanos brasileiros – prova maior de nosso fracasso em planejamento. À revolta contra o transporte deficiente (e agora mais caro), soma-se o desapontamento com os serviços públicos de má qualidade, sobretudo nas áreas de saúde e educação, a despeito dos altos custos impingidos ao contribuinte.

O que era latente aflorou. A população, que parecia inebriada pela propaganda de 6ª economia do mundo, despertou e perguntou-se: se está tudo bem, por que não temos aquilo que realmente precisamos? Onde está a mão do governo? Queremos serviços de qualidade, um Estado de qualidade.

Os protestos são mais do que justos. Desde que não haja vandalismo e bandalheira. Mas há sempre os estúpidos que colocam as boas causas a perder. São os baderneiros fazendo as depredações de um lado e os despreparados de um aparato de repressão que não é – e nem pode ser – imune a falhas (porque formado por seres humanos) de outro.

Tudo considerado, saíram-se bem, em suas declarações, ministro, governador e prefeito. Ponto para a democracia, ao menos nesse aspecto. Saiu-se igualmente muito bem um dos organizadores do movimento, que disse: “As manifestações extrapolaram todos os seus limites”. Razão pela qual é preciso rigor no trato da questão.

Por Nilson Mello

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