E por falar em
crescimento
Em meados de 2011, quando a
economia brasileira crescia a taxas anuais de 4%, este Blog comentava (ver pesquisa na barra lateral à direita “IPCA
2011”) que, mantido o ritmo de avanço do PIB, não seria possível
segurar a inflação no centro da meta (IPCA de 4,5%) em 2012. A observação estava
embasada em previsões de analistas de mercado. A torcida era para que o país
continuasse a crescer, mas com inflação disciplinada, o que implicava melhor
desempenho fiscal.
A melhor gestão do
orçamento, traduzido em menos despesas e mais investimentos na capacidade de
produção, reduz os riscos de pressão sobre os preços. O temor era de que certa
frouxidão fiscal, acompanhada de uma política monetária menos austera (política
de juros) poderia sinalizar que o governo estava abandonando o regime de metas
de inflação, de êxito indiscutível.
Vale lembrar que a
justificativa para o rigor no combate à inflação é a certeza de que o
descontrole de preços é o maior inimigo da renda; e de que não há crescimento
sustentável, ganhos em produtividade e eficiência, com inflação alta.
Muito bem, em março do ano
passado, as previsões de inflação beiravam os 6%. Em julho, a inflação em 12
meses era de 6,7%, acima, portanto, do teto da meta (6,5%). Em outubro, a alta
dos preços dos serviços – sob a influência de tarifas administradas pelo governo
- acumulava variação de 9,84% em 12 meses. A inflação oficial naquele mês
chegava a 7,31% no ano, como resultado dos estímulos ao consumo e dos gastos
governamentais nos períodos anteriores.
O que aconteceu de lá para
cá?
O governo apostou suas
fichas na desaceleração do ritmo da economia mundial, com reflexos (embora
reduzidos) na queda da atividade da economia brasileira. Acreditou também numa
retração do consumo interno por conta do alto endividamento das famílias nos
últimos anos - uma bolha que não chegou a explodir, mas que gera algumas
indagações.
Com essas apostas, não
promoveu grandes mudanças no modelo fiscal (muitas despesas e escassos
investimentos) e, o que é mais surpreendente, aproveitou a desaceleração da
economia para promover uma histórica queda dos juros no
mercado.
A inflação em junho passado
medida pelo IPCA foi de 0,08%, acumulando 2,3% de alta em 2012 e índice de 4,9%
anualizado, muito perto, portanto, do centro da meta. A equipe econômica do governo Dilma
Rousseff deve levar todos os méritos pela aposta improvável e, sobretudo, pela
dramática redução dos juros, que eliminou um dos gargalos ao desenvolvimento.
(A propósito, parte do
empresariado sempre preferiu juros baixos e aumento do consumo, ainda que com
inflação, pouco importando que essa conjugação possa significar comprometimento
da renda e da eficiência).
Agora, contudo, está claro
que redução de juros por si só não gera desenvolvimento. A economia brasileira
cresceu apenas 2,7% em 2011 e as previsões já indicam avanço abaixo de 2% em
2012, índice medíocre para um país emergente.
Como salienta o economista
da PUC-Rio Rogério Furkim Werneck, em artigo publicado nesta sexta-feira 20
(acessível no link abaixo deste
texto), “a arte estava em trazer a inflação para o centro da meta com
a economia crescendo a uma taxa razoável, e não a menos de 2% ao ano”. Então, o
que falta fazer?
Falta justamente mudar o
modelo fiscal, para gastar menos e investir mais. Paralelamente, falta se
empenhar por reformas estruturais, que reduzam tributos, encargos trabalhistas e
burocracia. É esta a aposta que precisa ser feita, prescindindo de todas as
outras, sempre de alto risco e efeitos incertos e limitados.
Por
Nilson Mello
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