Alexandre
Tombini – Este Blog já fez o
reconhecimento do êxito do Banco Central na redução das taxas de juros, mas
volta ao tema reproduzindo nota publicada na coluna do jornalista Guilherme
Barros, na última edição da revista Dinheiro. Resta, porém, a dúvida se, com a
retomada da demanda da atividade econômica, a combinação de política monetária
menos restritiva (juros baixos) com política fiscal (gastos públicos) ainda
frouxa não poderá ser explosiva em termos de pressão sobre os preços. Ou se
seria o caso de ter uma política econômica fortemente centrada no aumento da
competitividade e da eficiência, via eliminação de gargalos legais e
estruturais, a fim de não precisar mais fazer das crises financeiras um aliado
estratégico.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Comentário do Dia
A economia em perspectiva – O Fundo Monetário Internacional (FMI) está
mais otimista do que o mercado com o crescimento da economia brasileira este
ano e em 2013. Faz, porém, diagnósticos e alertas idênticos ao artigo da última
sexta-feira deste Blog.
Embora aposte num
crescimento do PIB da ordem de 2,5% em 2012, contra a previsão de menos de 2% de
analistas independentes, o Fundo ressalta que é preciso mudar o enfoque dos
estímulos ao crescimento do consumo para o investimento.
No artigo de sexta-feira
lembrávamos que somente uma melhor gestão fiscal, que viesse a reduzir despesas
correntes, poderia aumentar o nível de poupança abrindo espaço para um volume
mais significativo de investimentos públicos. Hoje, o setor público investe
menos de 2,5% do PIB.
Os investimentos na
produção, como já comentado aqui neste Blog (ver pesquisa na barra paralela à direita)
são indispensáveis para um crescimento sustentável de longo prazo, e livre de
pressão sobre os preços.
Contudo, como gasta muito e
investe pouco, o governo Dilma Rousseff, a exemplo do que fez o seu antecessor,
adotou uma política econômica de estímulo ao consumo, com medidas que ampliaram
o crédito e o dinheiro em circulação na economia.
Reconhecendo que tais
medidas têm caráter “anticíclico” e por isso são importantes para prevenir uma
retração interna (em função da crise financeira externa), o Fundo lembra que
elas não são suficientes para garantir desenvolvimento
sustentável.
Cabe lembrar também que tais
medidas podem gerar “bolhas financeiras” e alimentar a inflação no momento em
que a economia global retomar seu ritmo de demanda. O Fundo ressalta que as
medidas expansivas (estímulo ao crédito) terão que ser “recalibradas”, a fim de
que a inflação não fuja da meta em 2013 (ler
artigo de sexta-feira passada).
Em resumo, podemos dizer
que, na verdade, o governo teve como aliado no combate à inflação a crise
internacional. Mas os pressupostos que contribuem para a pressão sobre os preços
continuam a existir. São os gargalos à produção, devido aos baixos
investimentos, combinados com os arrojados estímulos ao consumo. O resultado
desta equação é baixa produtividade, além de fomento à
inflação.
Um detalhe: uma política monetária talvez não mais tão austera é um ingrediente adicional que poderá fazer com que essa combinação seja explosiva a partir do quarto trimestre do ano, quando está previsto um reaquecimento da demanda.
Um detalhe: uma política monetária talvez não mais tão austera é um ingrediente adicional que poderá fazer com que essa combinação seja explosiva a partir do quarto trimestre do ano, quando está previsto um reaquecimento da demanda.
Por
Nilson Mello
Obs: A matéria com o alerta
do FMI está no link abaixo:
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Artigo
E por falar em
crescimento
Em meados de 2011, quando a
economia brasileira crescia a taxas anuais de 4%, este Blog comentava (ver pesquisa na barra lateral à direita “IPCA
2011”) que, mantido o ritmo de avanço do PIB, não seria possível
segurar a inflação no centro da meta (IPCA de 4,5%) em 2012. A observação estava
embasada em previsões de analistas de mercado. A torcida era para que o país
continuasse a crescer, mas com inflação disciplinada, o que implicava melhor
desempenho fiscal.
A melhor gestão do
orçamento, traduzido em menos despesas e mais investimentos na capacidade de
produção, reduz os riscos de pressão sobre os preços. O temor era de que certa
frouxidão fiscal, acompanhada de uma política monetária menos austera (política
de juros) poderia sinalizar que o governo estava abandonando o regime de metas
de inflação, de êxito indiscutível.
Vale lembrar que a
justificativa para o rigor no combate à inflação é a certeza de que o
descontrole de preços é o maior inimigo da renda; e de que não há crescimento
sustentável, ganhos em produtividade e eficiência, com inflação alta.
Muito bem, em março do ano
passado, as previsões de inflação beiravam os 6%. Em julho, a inflação em 12
meses era de 6,7%, acima, portanto, do teto da meta (6,5%). Em outubro, a alta
dos preços dos serviços – sob a influência de tarifas administradas pelo governo
- acumulava variação de 9,84% em 12 meses. A inflação oficial naquele mês
chegava a 7,31% no ano, como resultado dos estímulos ao consumo e dos gastos
governamentais nos períodos anteriores.
O que aconteceu de lá para
cá?
O governo apostou suas
fichas na desaceleração do ritmo da economia mundial, com reflexos (embora
reduzidos) na queda da atividade da economia brasileira. Acreditou também numa
retração do consumo interno por conta do alto endividamento das famílias nos
últimos anos - uma bolha que não chegou a explodir, mas que gera algumas
indagações.
Com essas apostas, não
promoveu grandes mudanças no modelo fiscal (muitas despesas e escassos
investimentos) e, o que é mais surpreendente, aproveitou a desaceleração da
economia para promover uma histórica queda dos juros no
mercado.
A inflação em junho passado
medida pelo IPCA foi de 0,08%, acumulando 2,3% de alta em 2012 e índice de 4,9%
anualizado, muito perto, portanto, do centro da meta. A equipe econômica do governo Dilma
Rousseff deve levar todos os méritos pela aposta improvável e, sobretudo, pela
dramática redução dos juros, que eliminou um dos gargalos ao desenvolvimento.
(A propósito, parte do
empresariado sempre preferiu juros baixos e aumento do consumo, ainda que com
inflação, pouco importando que essa conjugação possa significar comprometimento
da renda e da eficiência).
Agora, contudo, está claro
que redução de juros por si só não gera desenvolvimento. A economia brasileira
cresceu apenas 2,7% em 2011 e as previsões já indicam avanço abaixo de 2% em
2012, índice medíocre para um país emergente.
Como salienta o economista
da PUC-Rio Rogério Furkim Werneck, em artigo publicado nesta sexta-feira 20
(acessível no link abaixo deste
texto), “a arte estava em trazer a inflação para o centro da meta com
a economia crescendo a uma taxa razoável, e não a menos de 2% ao ano”. Então, o
que falta fazer?
Falta justamente mudar o
modelo fiscal, para gastar menos e investir mais. Paralelamente, falta se
empenhar por reformas estruturais, que reduzam tributos, encargos trabalhistas e
burocracia. É esta a aposta que precisa ser feita, prescindindo de todas as
outras, sempre de alto risco e efeitos incertos e limitados.
Por
Nilson Mello
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quinta-feira, 19 de julho de 2012
Comentário do Dia
O avião preterido da Embraer
O Aerodilma – Até a torcida do Flamengo deveria saber que o
Airbus (A-319) comprado pelo governo há sete anos para servir de avião oficial
da Presidência da República tinha autonomia limitada. Agora, o governo já fala
em adquirir novo avião presidencial, com autonomia maior, para que a presidente
Dilma Rousseff possa ir à Ásia sem escalas. O Aerolula (A-319) custou US$ 56,7
milhões. Um valor nada desprezível, sobretudo se considerarmos que o avião
oficial é uma mordomia absolutamente dispensável.
País democrático, que cobra
muito de seus cidadãos em tributos, e que enfrenta restrições orçamentárias e
grandes desafios em áreas essenciais como saúde, saneamento e educação, não deveria
mimar o governante com tal luxo. Mas, uma vez que decide fazê-lo, por que não
dar prioridade ao produto nacional.
O Embraer 195, fabricado no
Brasil, por empresa brasileira, e que aparece na foto acima deste texto, tem
autonomia similar ao do A-319. Por sinal, os dois modelos são usados por
empresas concorrentes no transporte aéreo doméstico.
Quando o governo Lula optou
pelo modelo estrangeiro anos atrás, descartando o nacional, o argumento foi a
maior autonomia do primeiro em relação ao segundo. Autonomia ligeiramente maior, como apontavam especialistas. Uma sondagem dissimulada,
enviada em ofício à Embraer, indagava se a empresa poderia fornecer avião
comercial de longo alcance para servir à Presidência da República.
A resposta ao ofício,
negando a disponibilidade de tal aeronave, como já era de conhecimento do
mercado, foi a deixa que o governo precisava para escolher o A-319, da francesa
Airbus. Sabe-se lá a razão da preferência. Pois até o estafeta que serve o café
na Base Aérea de Brasília diria que o A-319, a exemplo do Embraer 195, é um
jato comercial regional. E, como tal, em voo mais longo, decolando com
tanques cheios e carga máxima, as escalas são inevitáveis.
Agora o governo decidiu pôr
fim ao “desconforto”. E eis que já trabalha na encomenda de um avião de grande
porte – talvez um Boeing 767 ou um Airbus A-330 – para servir à Presidência da
República. O A-319 terá, portanto, carreira mais efêmera e menos digna que seus
antecessores – os famosos Sucatão e Sucatinhas, Boeings 707 e 737, que serviram
por décadas à Presidência da República e hoje cumprem outras funções de
transporte na FAB.
O Brasil é uma República em
que o chefe de Estado é tratado como monarca; e os contribuintes, como súditos.
Por isso não há respeito com o dinheiro que arrecadamos em impostos, como cmprova esse episódio.
Por Nilson Mello
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quarta-feira, 18 de julho de 2012
Comentário do Dia
O
acidente da TAM – “A marcha
da insensatez - de Tróia ao Vietnã”, de
Barbara Tuchman, é considerada uma obra de referência em História. Nela, a
autora americana (1912-1989) analisa a causa dos desatinos de governos e
governantes.
Por que governantes rumam
contra a razão, ignorando evidências, e tomam decisões desastrosas de resultados
trágicos - como os que decorreram dos eventos referidos no subtítulo - é o que
interessava a Tuchman esmiuçar.
O livro e, sobretudo, seu
impactante título sobrevieram esta semana em que o Brasil relembrou a passagem
dos cinco anos do desastre do vôo JJ 3054 da TAM, no Aeroporto de Congonhas.
Cento e noventa e nove
pessoas perderam suas vidas, mas as lições não foram refeitas. Como em todo
acidente aéreo, panes técnicas e falhas humanas, representadas por negligência,
imprudência ou imperícia, atuaram de forma concorrente para o desfecho
macabro.
Mas a série de falhas
pontuais do acidente em questão teria efeito limitado, se a sensatez
prevalecesse entre nossos governantes e planejadores.
Congonhas, fincado no
coração da maior metrópole brasileira, e hoje cercado por área urbana densamente
povoada, há muito deveria ter sido desativado como aeroporto comercial.
Com pistas sem áreas de
escape em suas cabeceiras, circundadas por avenidas de grande movimento e
prédios comerciais e residenciais, na melhor das hipóteses poderia operar como
um aeroporto para vôos executivos, com aeronaves de pequeno porte.
Assim mesmo, isso já seria
um arroubo de insensatez, comparável a permitir que um suspeitíssimo cavalo de
madeira, enviado pelos inimigos, ingressasse na muralha fortificada. Os troianos
logo perceberam a estupidez, mas era tarde demais para corrigir o erro. Pagaram
com suas vidas e a liberdade.
No Brasil, os governantes continuam de olhos fechados à razão. Não é preciso ser
especialista para se chegar à óbvia conclusão. Outro terminal já deveria ter
sido construído e estar operando em área distante do centro de São Paulo. Mas
Congonhas não apenas é mantido como aeroporto comercial, como foi sendo
transformando no principal hub
aeroportuário do país, concentrando conexões de Norte a Sul.
Pelo diagnóstico de Barbara
Tuchman, as decisões insensatas, como a dos troianos ao aceitar um presente dos
gregos ou a dos americanos ao insistir na Guerra do Vietnã, são frutos da cobiça,
dos vícios políticos e da covardia moral.
Os familiares das 199
vítimas do vôo JJ 3054 sabem bem o significado desses “atributos” no Brasil.
Podemos acrescentar a eles o descaso e a renitente
omissão.
Por
Nilson Mello
terça-feira, 17 de julho de 2012
Comentário do Dia
Mendonça de Barros: corte progressivo da carga tributária
PIB
baixo, incentivos e desonerações – O governo
está prestes a conseguir no Congresso (com votações na Câmara e no Senado antes
do recesso parlamentar que se aproxima) a aprovação das Medidas Provisórias 563
e 564, que garantem estímulos à produção por meio de desonerações trabalhistas e
isenções tributárias propriamente ditas (suspensão de IPI, PIS e
COFINS).
O objetivo
do governo com o estímulo é estancar a queda do Produto Interno Bruto (PIB) este
ano, uma vez que as previsões do mercado e do Banco Central já apontam
crescimento inferior a 2%, contra previsões iniciais de
2,5%.
A MP 563
desonera a folha de pagamentos para os setores naval, aéreo, hoteleiro, empresas
de call Center e indústria
moveleira e de autopeças. Também cria um regime especial de tributação para o
programa nacional de banda larga e telecomunicações, com suspensão de cobranças
e impostos e contribuições sociais.
A MP 564, por sua vez, prevê
estímulo à produção por meio do aumento dos recursos destinados ao financiamento
do setor industrial via BNDES.
A preocupação do governo com
a queda do ritmo de crescimento da economia é legítima. As medidas encaminhadas,
com desonerações e estímulos parciais e setoriais, até são compreensíveis, se
encaradas como paliativos. Contudo, onde estão as reformas estruturais que
estariam na base de uma verdadeira estratégia de crescimento?
Se é do reconhecimento de
todos que os encargos trabalhistas são um obstáculo ao pleno emprego e à
formalidade e, consequentemente, ao aumento da renda e ao desenvolvimento
sustentável, por que não colocar na ordem do dia a flexibilização da legislação
trabalhista, apontada como uma das maiores causas do chamado “custo Brasil”?
Os altos índices de
popularidade e, portanto, de apoio político, deste governo e do anterior lhes
garantiam as condições necessárias para vencer esse desafio. Uma oportunidade
única pode estar sendo perdida.
Da mesma forma, se há
consenso de que a carga tributária, de mais de 30% do PIB, é demasiada alta,
por que privilegiar determinados setores com as desonerações, em detrimento de
outros? Não está claro ainda que benefícios setoriais provocam distorções, pois
impedem que os mecanismos de mercado (associados às leis da oferta e da demanda)
atuem, impondo parâmetros saudáveis de competitividade e produtividade à
economia?
Um corte linear de tributos,
ainda que seja feito de forma progressiva, para não causar desencontros
orçamentários e desgastes políticos, como vem propondo o ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, seria o caminho mais seguro na busca do crescimento
sustentável.
Além disso, retomar
processos de privatização em setores fundamentais, como transporte e logística,
tornou-se imprescindível. A precária infraestrutura é, ao lado dos altos
tributos, o maior lastro à competitividade da cadeia produtiva nacional. Seria
preciso modernizar a regulamentação de alguns setores, como o dos portos, para
permitir uma nova leva de investimentos.
Por fim, não há como deixar
de lembrar que o crescimento depende, também, de investimentos do próprio
governo – hoje estacionados em irrisórios 2,3% do PIB. Mas, para tanto, é
preciso uma reforma de Estado que garanta maior seriedade na gestão dos recursos
financeiros, o que implica, necessariamente, melhor gestão dos recursos humanos
disponíveis. A melhor gestão dos recusos financeiros poderia garantir a
qualificação dos recursos humanos (outro gargalo ao crescimento), tanto no setor
público quanto no privado.
Com popularidade em alta, o
governo Dilma Rousseff teria plenas condições políticas de empreender essas
batalhas. Ao menos, poderia dar partida a essas iniciativas. Se não o faz, é por
falta de visão estratégica. Ou por preconceito ideológico. Pois, como sabemos,
governos autodenominados de esquerda e socialista preferem o ativismo estatal,
caracterizado pela permanente intervenção nas relações econômicas, às
providências profiláticas óbvias, que tiram do Estado o papel de condutor (e
indutor) econômico. Mas não custa acreditar que a razão, a qualquer momento,
poderá prevalecer.
Por
Nilson Mello
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Artigo
Eduardo Paes recepciona Seedorf. Abuso de poder?
Os excessos na campanha
A campanha mal começou e os
excessos já são notáveis. Mas, curiosamente, e contrariando todas as
expectativas, eles têm sido cometidos, neste momento, não pelos candidatos, mas
por aqueles que deveriam se pautar pelo equilíbrio e o bom senso.
Dias desses um procurador
federal no Rio de Janeiro oficiou o Ministério Público Eleitoral para que
abrisse procedimento contra o prefeito carioca, por uso indevido da máquina
administrativa e abuso de poder na campanha.
O prefeito Eduardo Paes
havia recepcionado, no Palácio da Cidade, sede da Prefeitura, um jogador de
grande projeção que acabara de ser contratado por um clube carioca. Entre os
papéis de um prefeito está o de ser o "cicerone" de personalidades, sejam
políticas, artísticas ou esportivas.
Não era um ato de campanha,
não houve pedido de votos e nem houve vinculação eleitoral no episódio.
Do ponto de vista da
campanha, se considerarmos que o novo clube do jogador recepcionado não é nem de
longe o mais querido ou popular cidade, é cabível dizer que o episódio, na
verdade, desagradou à grande maioria dos eleitores da cidade – o que afasta de
plano a hipótese de vantagem indevida por abuso de
poder.
A abertura de procedimento,
evidentemente, não significa condenação; e a acusação tende a ser rejeitada pela
Justiça Eleitoral, caso seja de fato formalizada pelo Ministério Público. Seria
preciso uma ginástica jurídica desproporcional para o enquadramento pretendido
pelo procurador.
O fato de o prefeito do Rio
de Janeiro merecer reparos por sua administração pueril não significa que
devemos lhe impor uma “camisa-de-força” durante a campanha – sobretudo quando há
questões mais relevantes para a Justiça e o Ministério Público eleitoral se
preocuparem.
Se o instituto da reeleição é permitido (eis aí o que
mereceria revisão), o maior grau de exposição do prefeito, no cumprimento de
suas funções, é inevitável.
Na mesma linha da
irrazoabilidade e da desproporção, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de
Janeiro aprovou resolução nesta quinta-feira (12/07) que proíbe o eleitor de
usar celular, câmaras fotográficas, filmadoras ou qualquer equipamento na cabine
de votação.
A justificativa para o
radicalismo, segundo noticiário desta sexta-feira, é impedir que
traficantes e milicianos obriguem eleitores a fotografar seus votos, prevenindo
pressões indevidas.
A seguir na toada do
radicalismo típico do ativismo jurídico e autoritário que tomou conta do país,
daqui a pouco vão proribir a própria urna. Com a justificativa de evitar
possíveis fraudes.
Por
Nilson Mello
(Obs: O Link da Lei Eleitoral/Lei
9.504/97
está disponível abaixo. A conduta do agente público em campanha é
disciplinada pelos artigos de 73 a 78).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Artigo
Começa a
campanha
A grande
disparidade entre os tempos de propaganda na TV e rádio dos candidatos a
prefeito em algumas capitais nessas eleições revela que o atual sistema - apesar
dos aperfeiçoamentos feitos pela Justiça Eleitoral e pelo Supremo Tribunal
Federal - ainda gera distorções.
A campanha nas ruas e na
Internet começa oficialmente nesta sexta-feira (06/07); e terá início no rádio e
na TV em de 21 de agosto. O tempo na TV e no rádio é definido de acordo com duas
regras básicas. A primeira estabelece que um terço do tempo destinado à
propaganda eleitoral, ou seja, 30 minutos semanais, é distribuído igualitariamente por
todos os partidos e coligações participantes, independentemente de terem ou não
representação na Câmara dos Deputados.
A segunda regra distribui
proporcionalmente dois terços do tempo (60 minutos semanais) de acordo com o tamanho da
bancada do partido e da coligação na Câmara dos Deputados. Ainda que a eleição
seja municipal, a regra está atrelada à representação na Câmara.
Candidatos à prefeito
veicularão suas mensagens às segundas, quartas e sextas, em diferentes horários.
Os candidatos a vereador farão o mesmo às terças, quintas e
sábados.
Em junho, o Supremo Tribunal
Federal (STF) eliminou uma incongruência da Legislação Eleitoral. O parágrafo 2º
do artigo 47 Lei 9.504/97 exigia que partidos e coligações tivessem
representação na Câmara para ser contemplados na distribuição proporcional da
regra de um terço do tempo.
O STF entendeu que o
dispositivo é inconstitucional, uma vez que o artigo 17 da Constituição não
estabelece condição para acesso ao tempo de propaganda e, portanto, qualquer
partido tem direito a uma proporção deste um terço.
Em outra alteração
importante, em sessão realizada em 29 de junho, o Supremo decidiu que partidos
novos criados a partir da migração de deputados de outras legendas terão direito
ao fundo partidário e ao tempo de TV proporcional dentro da regra dos dois
terços. Carregam junto a representatividade que definirá o tempo proporcional.
Antes do julgamento, apenas
as legendas com deputados eleitos na última eleição tinham direito à verba
partidária significativa e ao tempo de TV.
A decisão beneficiou
diretamente o PSD do prefeito Gilberto Kassab, que integra a coligação da
candidatura de José Serra (PSDB) em São Paulo. Criada em 2011 e robustecida com
um grande contingente de parlamentares eleitos por outros partidos, em especial
o DEM, a legenda tem hoje a quarta maior bancada da Câmara (48 dos 513
deputados).
O argumento vitorioso no
julgamento do STF foi o de que a regra restritiva anterior inviabilizaria, na
prática, a criação de novos partidos, o que não seria democrático. Mas, a
despeito dos ajustes, e dos argumentos razoáveis em seu favor, as distorções
permanecem.
Tomando-se como exemplo o
Rio de Janeiro, onde cinco candidatos entram na campanha com alguma chance de
chegar ao segundo turno, o líder terá mais de 16 minutos para expor suas ideias,
enquanto à lanterna desse pelotão caberá apenas um minuto e quarenta e nove
segundos no tempo de TV.
O segundo candidato com mais
tempo desse pelotão terá 3,56 minutos; o terceiro, 3,28 minutos; e o quarto,
1,33 minutos. É uma diferença injustificável, se considerarmos que todas as
regras e decisões acima descritas tinham como objetivo criar condições equânimes
de disputa, garantindo ao eleitor, no tempo de propaganda, pluralidade de
ideias, propostas e plataformas.
Regras observadas, o que
determina no final das contas o tempo total de propaganda é o número de
coligações em torno de um candidato. E o que leva a uma grande concentração de
legendas em torno de um determinado nome é, invariavelmente, o fato de ser esse
o candidato à reeleição - e, consequentemente, aquele com maiores chances de
vitória. Desnecessário dizer por que todos querem estar com o vencedor. No Rio,
19 legendas apoioam o prefeito na tentativa de recondução.
O fim do instituto da
reeleição não reduziria ao menos em parte essa disparidade? Fica a reflexão.
Por
Nilson Mello
(OBS:
Ver, nas postagens anteriores desta semana, comentários sobre o impeachment de
Fernando Lugo no Paraguai e a queda da atividade industrial no Brasil)
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Supremo
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Comentário do Dia
Fernando Lugo
Eficaz ou antidemocrático - Um
processo pode ser ágil, sem que seja, necessariamente, antidemocrático. Os
princípios do contraditório e da ampla defesa não pressupõem morosidade. Essa
pode até ser uma conseqüência da obediência aos princípios, mas não uma condição
intrínseca ou inexorável. O critério de definição não é automático.
No caso do Paraguai, a
destituição do presidente é feita por meio de rito célere porque o mecanismo
previsto na Constituição toma emprestado do sistema parlamentarista o conceito
de rápida substituição do chefe de governo (no caso, também de Estado) como
forma eficaz de superar crises político-institucionais.
Ressalva
feita, não deixa de ser enriquecedora – e um interessante contraponto ao
comentário publicado ontem neste Blog sobre o impeachment de Fernando Lugo - a
análise feita por Demétrio Magnoli em artigo publicado nos jornais desta
quinta-feira (05/07).
De
qualquer forma, há consenso de que a “diplomacia companheira”, mais uma vez,
colocou os pés pelas mangas.
Link
para artigo de Demétrio Magnoli:
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Comentário do Dia
Paraguai – A deposição do presidente Fernando Lugo, no Paraguai, foi um ato legítimo e soberano. A forte reação que provocou por parte dos governos de Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Brasil, no caso, a reboque, pode ser atribuída ao ativismo ideológico predominante em seus governos.
O impeachment é um mecanismo previsto na Constituição paraguaia, a exemplo do que ocorre em outros países. O seu processo cumpriu os trâmites previstos dentro do Congresso, com uma votação expressiva pelo afastamento e a ratificação da decisão pelo Poder Judiciário (Corte Constitucional).
Não houve deposição pela força, mas pela Lei. Na verdade, ilegítima foi a suspensão do Paraguai do Mercosul - e a sua insólita substituição pela Venezuela – num ato grosseiro da diplomacia sul-americana, que desrespeitou a soberania do país vizinho.
Lugo foi democraticamente eleito; e democraticamente substituído. Com base em que acusação? Com base no mau desempenho das suas funções, como prevê a constituição paraguaia.
Seria razoável o Brasil ter sido retaliado por seus vizinhos, Argentina à frente, após o impeachment de Fernando Collor? Os “ideológicos”, certamente, alegam que a deposição de Lugo foi de caráter exclusivamente político, pois contra ele não pesavam acusações de caráter criminal. Mas processos de impeachment são sempre subjetivos e de caráter eminentemente político. Não se trata de uma decisão penal stricto sensu (Collor foi cassado pelo Congresso, mas absolvido pelo Supremo na ação penal de corrupção passiva. Não houve condenação criminal).
O artigo abaixo, do senador Francisco Dornelles, publicado em jornais de grande circulação nesta quarta-feira (04/07), é uma síntese lúcida da “desastrada” retaliação estimulada pela Argentina e seguida pelo Brasil e demais vizinhos sul-americanos.
Link para o artigo citado:
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/7/4/uma-decisao-desastrosa
O recuo da indústria – Em diferentes artigos e comentários no último ano, este Blog questionou, direta ou indiretamente, o alcance das medidas anticíclicas adotados pelo governo Dilma com o objetivo de estimular a produção e, mais especificamente, a indústria nacional.
O noticiário desta semana, apontando queda contínua da atividade industrial no país, expõe o equívoco. Apesar dos fortes incentivos fiscais concedidos eletivamente a alguns setores (gerando novas distorções), a economia brasileira está produzindo menos com o mesmo esforço, ou com esforço maior.
Não houve aumento da produtividade e da eficiência, o que significa que nossa cadeia produtiva permanece pouco competitiva (e agora não se pode nem mais culpar o dólar, que tem recuperando valor, pela perda de mercados no exterior).
Informam os jornais desta quarta-feira: R$ 102 bilhões em incentivos fiscais foram destinados a alguns setores privilegiados pela política econômica Dilma-Mantega (algo superior a todo orçamento federal da Saúde em um ano) e, mesmo assim, a queda da atividade industrial já alcança 3,4% no ano (recuo de 4,3% apenas em maio), segundo o IBGE. A previsão é que haja recuo do setor em 2012.
O governo pode até continuar a insistir em medidas anticíclicas e estímulos setoriais como paliativo. Mas não há mais como fechar os olhos às evidências: a economia brasileira só conseguirá ser competitiva quando houver no país um ambiente mais propício à produção.
A promoção deste ambiente passa por reformas legais e estruturais que tenham como conseqüência a drástica redução da carga tributária (de forma linear, não por setor), a simplificação de procedimentos (redução da burocracia) e, paralelamente, fortes investimentos em educação e qualificação da mão de obra, bem como em infraestrutura – aeroportos, portos, rodovias, ferrovias.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Comentário do Dia
BRT: Por que não um veiculo sobre trilhos ao invés de um ônibus?
Rio de Janeiro, Patrimônio Mundial - Os cariocas e todos aqueles que amam o Rio de Janeiro devem comemorar o título concedido à cidade neste domingo pela Unesco prestanto atenção no que ele realmente diz: Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural.
Onde quero chegar? O Rio é mesmo privilegiado do ponto de vista da natureza, com paisagens deslumbrantes, e isso deve servir de orgulho para todos os cariocas e brasileiros, mas precisamos trabalhar – e muito – para que a cidade seja também reconhecida por aquilo que a mão do homem venha a fazer.
Por enquanto, a fama da cidade se deve à generosidade da natureza, não à efeitva ação humana. Precisamos, em primeiro lugar, construir sem degradar, e, como consequência, criar planos e soluções para que este crescimento se dê de forma harmônica, com soluções que garantam a qualidade de vida de seus habitantes e o bem estar dos visitantes.
Definitivamente, não é isso que se tem no Rio de Janeiro hoje. Estamos no limiar do caos urbano sem que o Poder Público dê sinais de que pode estabelecer um planejamento urbano que garanta as soluções dos problemas crônicos que enfrentamos.
O Rio de Janeiro cresceu muito mal, a exemplo de outras cidades brasieiras. A começar pela absurda especulação imobiliária que deteriorou Copacabana e outros bairros da Zona Sul a partir da década de 1940, passando pelo abandono dos grandes projetos viários, até a absoluta omissão nos transportes públicos nas décadas seguintes.
As “soluções” que se promovem nos últimos anos já nascem como paliativos. E paliativos questionáveis – o que denota insistência no erro. Não faz sentido, por exemplo, a cidade não privilegiar o transporte sobre trilhos, que é, por excelência, o transporte de massa. A Prefeitura acaba de inaugurar com pompa (presença do ex-presidente Lula) o “BRT”, um ônibus que circula em faixa exclusiva - tirando espaço de automóveis - fazendo a ligação da Zona Oeste a partir da já saturada Barra da Tijuca.
A implantação de um metrô de superfície, um veículo sobre trilhos, ou modernos bondes para a ligação do trecho para o qual foi adotado o BRT seria mais econômica, eficiente (maior número de passageiros transportados), segura e ambientalmente sustentável. Por que então o ônibus?.
Da mesma forma, o Metrô se prolonga para a Zona Oeste com base no aumento de estações em cima de uma mesma linha (a Linha 01), hoje já saturada. Não é necessário ser engenheiro de transportes para saber que mais estações na mesma linha levarão a um colapso do sistema no curto prazo. O curioso é que as críticas na imprensa a esses, digamos, equívocos são tênues, quase marginais – o que dá ao Poder Público municipal “crédito” para continuar a cometer erros.
Por fim, e para ficarmos apenas no setor viário, decidiu-se pela demolição do Elevado da Perimetral, um corredor expresso de mais de 7 km, hoje uma das poucas vias de escapa do Centro da cidade. A demolição reduzirá a capacidade de veículos circulando na área portuária, criando mais gargalos para o trânsito, e diminuindo a capacidade operacional do próprio porto. Significa desperdício de dinheiro público. Por que destruir o que está pronto e funcionando? (Ver link abaixo do texto)
Poderíamos falar de outros equívocos e omissões, como a falta de racionalidade na distribuição das linhas de ônibus, geralmente superspostas; dos próprios ônibus em si (montados em chassis de caminhão, altos, inseguros e poluidores); ou da falta de campanhas educacionais nas áreas carentes destinadas a prevenir lixo em encosta, despejos em rios etc. Sem contar que é espantosa a inapetência da Prefeitura para fazer o que é essencialmente o trabalho de uma prefeitura: conservar as ruas e logradouros públicos; garantir a manutenção do calçamento; zelar pela limpeza das praças e parques; fazer a manutenção da iluminação pública etc...
Em suma, a natureza (Deus, para quem preferir) deu muito ao Rio. Mas nós, cariocas, definitivamente não estamos fazendo a nossa parte. É possível que as coisas melhorem com o título da Unesco, mas, francamente, não creio. Pois há uma questão de fundo a ser resolvida. Uma questão ligada à educação da população. Enquanto a população não for qualificada, o Poder Público municipal continuará a preferir maquiagem urbana ao invés de trabalhar com empenho para buscar soluções compatíveis com a dimensão dos problemas que enfrentamos.
Neste sentido, o título da Unesco é negativo, porque, indiretamente, premia o erro e a omissão.
Link com entrevista sobre a demolição da Perimetral
Por Nilson Mello
Por Nilson Mello
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