Sobre a morte de Teori Zavaski e a escolha de seu substituto, eu diria que não existe - e nem deve existir - ministro do Supremo ou de Tribunal Superior que seja apenas técnico. Aliás, o tecnicismo exacerbado pode camuflar interesses escusos, condenáveis. Em ótimo artigo em O Estado de S. Paulo de hoje, Thomaz Pereira, da FGV, destrincha a questão com singular lucidez. Vale a leitura (link abaixo):
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,analise-nao-existe-ministro-do-supremo-que-seja-apenas-tecnico,70001640522
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
Artigo
O silogismo do patrimonialismo
As
autoridades públicas brasileiras viajam de aviãozinho particular porque nossas
estradas são mal conservadas e inseguras. Nossas estradas são mal conservadas e
inseguras porque nossas autoridades viajam de aviãozinho particular.
Os
aviõezinhos invariavelmente pertencem a empreiteiras que deveriam nos entregar
estradas bem conservadas e seguras, em função das licitações de que participam.
Nos cerca
de 300 km do Rio de Janeiro a Paraty pela BR 101 (Rio - Santos) há 53 radares
de velocidade (contabilizado pela associação hoteleira da região), com
velocidades que variam entre 30, 40, 50, 60, 80, 90km, sem que um critério
razoável para esses limites discrepantes possa ser compreendido.
Não se tem
notícia de qual é o número de multas diárias aplicadas nem do montante
arrecadado com elas (que, pelo movimento intenso da rodovia, deve ser
estratosférico). Também não se sabe o que é feito com esta significativa
receita. Não se divulga, e ninguém pergunta.
O que se
sabe, embora a imprensa não se preocupe em noticiar, é que a BR 101 está em
péssimas condições. E ultrapassada, congestionada, abandonada à própria sorte.
Por isso,
o contribuinte e simples mortal que não conta com aviãozinho do empreiteiro
amigo, encara seis ou sete horas de viagem num trajeto que normalmente seria de três horas. A maioria nem se indigna, acostumada que está com o Brasil.
Patrimonialismo
é a invasão do público pelo privado. O ex-governador Sérgio Cabral, que tem
casa em Mangaratiba, às margens da Rio-Santos, antes de ser preso, se deslocava
para lá de helicóptero. Do governo do Estado. É possível que melhorem as
condições dos presídios antes de melhorarem as das rodovias federais.
Por
Nilson Mello
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Comentário
Os paradoxos ideológicos (ou as ironias do destino)
"Buscar o protecionismo [contra a
Globalização] é como trancar-se numa sala escura". A frase é do comunista (ao
menos assim se auto-intitula) Xi Jinping, presidente da China, em recado direto
ao protecionista e antiliberal (quem diria!) presidente eleito dos Estados
Unidos, Donald Trump, durante o Fórum Global de Davos, na Suíça. A coluna de
Celso Ming, no Estado de S. Paulo
desta quinta (link abaixo) traz outros aspectos deste, digamos, embate ideológico
entre "esquerda" e "direita". Ops, talvez seja o contrário,
"direita" e "esquerda"? Ora, para quem é lúcido, o que isso
realmente importa no mundo de hoje?
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-anti-trump,70001633484
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
Artigo
O
preconceito contra o lucro
Com
os estados quebrados devido à irresponsabilidade fiscal, à má gestão e à
corrupção, a privatização de estatais voltou à agenda política e econômica. No
caso da ajuda federal a entes federados endividados, a proposta ganha força
como uma contra-partida óbvia e lógica ao alívio financeiro a ser concedido
pela União. Ora, não teria cabimento emprestar mais dinheiro a quem foi perdulário sem exigir
nada em troca.
A
venda de empresas de capital misto tem no mínimo três efeitos positivos: 1.
gera uma receita adicional, num momento de aperto nos cofres públicos; 2. abre
a possibilidade de o setor privado assumir serviços com critérios de
mercado, pautados pela produtividade,
eficiência e competitividade, com vantagens
óbvias para o destinatário final (o consumidor); 3. elimina uma fonte
permanente de favorecimentos e negociatas, verdadeiros feudos fisiológicos, pois,
com raríssimas exceções, as estatais nada mais são do que a trincheira do
patrimonialismo, o mecanismo pelo qual os interesses escusos de grupos
políticos organizados são atendidos, em detrimento da sociedade.
O
Brasil já deveria ter feito esta lição. Mas o preconceito ideológico,
infelizmente, turva um debate que mereceria ser lúcido, livre de amarras. O
lucro e, por extensão, as privatizações ainda são vistos como uma heresia.
Muito do atraso da América Latina e, em especial do Brasil, deve-se a esta
visão deturpada.
Por
conta da postura preconceituosa e anacrônica, o empreendedorismo permanece
incipiente nos países latino-americanos. O Estado opulento não deixa espaço à
iniciativa privada e, ao assumir o papel de "empresário", dissemina a
ineficiência econômica, entre outras mazelas. Ora,
o Estado não produz riquezas. Não é e nem deve ser este o seu papel. A sua
função básica é a de estabelecer políticas e programas que garantam o
desenvolvimento econômico e, a partir dele, o desenvolvimento social, com maior
geração de empregos e renda. É também seu papel legislar, regular, regulamentar
e fiscalizar, além de ocupar-se de setores essenciais, como Defesa externa,
políticas e programas de saúde, educação, infaestrutura e segurança pública.
Se
o setor público avantajado e dispendioso, de fato, desse resultado, no Brasil
não teríamos mais problemas em nenhuma dessas áreas citadas acima. Mas,
definitivamente, não é o que acontece, haja vista a tragédia da violência em
nossas grandes cidades, com estatísticas equiparáveis à da guerra civil da
Síria.
Ao
se reconhecer a necessidade de regulação e fiscalização, pelo Estado, da
atividade econômica, para que dela resulte efetivos benefícios para a
sociedade, deve-se ter a preocupação de não criar obrigações onerosas
descabidas.
Exemplo
muito simples: quando temos uma legislação trabalhista em que o custo do
empregado contratado é mais do que o dobro de seu salário, como ocorre hoje no
Brasil, está claro que tal regulação, desproporcional, inibe o mercado de
trabalho e reduz a renda, além de gerar um alto grau de informalidade, cujo
pior efeito é justamente a diminuição da arrecadação.
Há
outras muitas distorções que inibem os empreendedores, como o excesso de
burocracia no licenciamento de novos empreendimentos, notadamente os
relacionados à infraestrutura (que são fundamentais para a retomada do
desenvolvimento) e um sistema tributário absolutamente caótico, mas fiquemos
por aqui. O mais importante é entender que o setor privado é indispensável para o crescimento econômico e, por conseguinte, para o bem-estar social. E
que o lucro nada mais é do que a remuneração do empregador pela eficiente
organização da mão de obra, bem como pelos riscos que corre como empreendedor.
Nada há de errado nisso.
Quanto
mais empresas lucrando, melhor. Isso significa mais empregos e renda, mais
desenvolvimento. Se alguém ainda tem alguma dúvida quanto a esta questão,
convém reexaminar o caso catastrófico da Venezuela bolivariana, onde o
Estado-empresário gerou ineficiência, escassez, desabastecimento, inflação e
penúria. Estivemos - e ainda estamos - muito perto de insistir neste caminho
equivocado.
Por
Nilson Mello
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Comentário
Jornal
Nacional
Qual é a audiência? 50 milhões de
espectadores? 70 milhões? Não sei ao certo, mas, mesmo que sejam 30 milhões,
convenhamos que é um desafio e tanto colocar no ar um telejornal que atenda
medianamente ao gosto e, sobretudo, à capacidade intelectual de tanta gente.
Sobretudo num país com baixo nível de escolaridade como o Brasil. Raramente
assisto. E o que eu acho intrigante é que, volta e meia, vejo severas críticas
(até raivosas) nas redes sociais, de pessoas das mais variadas correntes políticas,
geralmente acusando o Telejornal de estar a serviço do campo ideológico oposto.
(!) Por que essas pessoas não trocam de canal e assistem, por exemplo, à TV
Educativa? Ou a Record? Ou por que não desligam a televisão?
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Artigo
Uma democracia mais forte e madura
O Brasil começa 2017 com uma agenda robusta de
reformas e medidas que serão determinantes para a retomada do crescimento
sustentável, após mais um ano de queda do PIB. O mais importante, neste
momento, é que podemos ter certo consenso daquilo que precisa ser feito - e
sobretudo daquilo que não deve mais ser feito.
Com
a União enfrentando a sua mais grave crise fiscal, após anos de voluntarismo na
condução da economia, e com Estados e municípios de grande porte virtualmente
quebrados, sabemos, antes de tudo, que precisamos voltar a ser responsáveis na
gestão do orçamento público.
Este
talvez tenha sido o grande legado do ano de dificuldades que tivemos em 2016. Claro
que é sempre melhor aprender sem errar. Mas, quando se erra em profusão, como o Brasil errou nos
últimos anos, ao menos que se tire algum proveito e consolo disso. E, creio, é
o que começamos a fazer.
Em
meio à forte instabilidade política e, em parte devido a ela, somada à retração
econômica - agravada pelo próprio refluxo
de investimentos diante das incertezas do cenário -, 2016 serviu, também, ao contrário
do que alguns afirmam, para confirmar a solidez de nossas instituições
democráticas.
Em
período de grande tensão social, mudanças significativas foram operadas pelos
Poderes constituídos, em particular Congresso e Supremo Tribunal Federal, em estrito
respeito à Constituição e às Leis. O processo foi doloroso, mas o país e a sua
democracia saíram dele fortalecidos. Se a sociedade, de fato, tiver
compreendido que não existe um caminho fácil para o "paraíso", como
vinha prometendo o discurso irresponsável, turbinado pelo marketing político (e
tudo indica que compreendeu), os reveses ao menos não terão sido em vão.
A
Operação Lava Jato figurou (e figura) neste contexto como um dado primordial,
pois serviu de pano de fundo para tudo o que se desenrolou na esfera política.
Mais uma vez aqui vemos instituições como Polícia Federal, Ministério Público e
Judiciário funcionando de forma autônoma e independente - como deve ser, pois
são organismos de Estado, não de governo ou de partido - e por isso mesmo
contando com amplo respaldo da população, que majoritariamente saiu às ruas
para apoiá-las.
A
partir de uma perspectiva positiva e um olhar otimista que, no final, só a
história poderá confirmar, arrisco dizer que estabelecemos um ponto de inflexão
(para melhor) na nossa trajetória republicana: o país decidiu dar um basta à
corrupção.
Ingressamos,
assim, em 2017 cientes de que cumprimos um ano preparatório, e as conquistas
ainda terão que ser alcançadas, com continuado esforço. No horizonte do curto
prazo temos agora a nosso favor maior previsibilidade na economia, graças à
reconciliação entre política monetária e política fiscal.
Podemos,
assim, vislumbrar a continuidade da queda da inflação e, por conseguinte, da
redução da taxa de juros, bem como uma maior confiança por parte dos
investidores. Um conjunto de fatores que abre caminho para a retomada do
crescimento.
O
principal de tudo, porém, é que nossa democracia está saindo da crise mais
madura e fortalecida.
Por Nilson Mello
Por Nilson Mello
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