segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Artigo

O silogismo do patrimonialismo



   As autoridades públicas brasileiras viajam de aviãozinho particular porque nossas estradas são mal conservadas e inseguras. Nossas estradas são mal conservadas e inseguras porque nossas autoridades viajam de aviãozinho particular.
   Os aviõezinhos invariavelmente pertencem a empreiteiras que deveriam nos entregar estradas bem conservadas e seguras, em função das licitações de que participam.
    Nos cerca de 300 km do Rio de Janeiro a Paraty pela BR 101 (Rio - Santos) há 53 radares de velocidade (contabilizado pela associação hoteleira da região), com velocidades que variam entre 30, 40, 50, 60, 80, 90km, sem que um critério razoável para esses limites discrepantes possa ser compreendido.
    Não se tem notícia de qual é o número de multas diárias aplicadas nem do montante arrecadado com elas (que, pelo movimento intenso da rodovia, deve ser estratosférico). Também não se sabe o que é feito com esta significativa receita. Não se divulga, e ninguém pergunta.
    O que se sabe, embora a imprensa não se preocupe em noticiar, é que a BR 101 está em péssimas condições. E ultrapassada, congestionada, abandonada à própria sorte.
    Por isso, o contribuinte e simples mortal que não conta com aviãozinho do empreiteiro amigo, encara seis ou sete horas de viagem num trajeto que normalmente seria de três horas. A maioria nem se indigna, acostumada que está com o Brasil.
    Patrimonialismo é a invasão do público pelo privado. O ex-governador Sérgio Cabral, que tem casa em Mangaratiba, às margens da Rio-Santos, antes de ser preso, se deslocava para lá de helicóptero. Do governo do Estado. É possível que melhorem as condições dos presídios antes de melhorarem as das rodovias federais.


Por Nilson Mello

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