O
acidente da TAM – “A marcha
da insensatez - de Tróia ao Vietnã”, de
Barbara Tuchman, é considerada uma obra de referência em História. Nela, a
autora americana (1912-1989) analisa a causa dos desatinos de governos e
governantes.
Por que governantes rumam
contra a razão, ignorando evidências, e tomam decisões desastrosas de resultados
trágicos - como os que decorreram dos eventos referidos no subtítulo - é o que
interessava a Tuchman esmiuçar.
O livro e, sobretudo, seu
impactante título sobrevieram esta semana em que o Brasil relembrou a passagem
dos cinco anos do desastre do vôo JJ 3054 da TAM, no Aeroporto de Congonhas.
Cento e noventa e nove
pessoas perderam suas vidas, mas as lições não foram refeitas. Como em todo
acidente aéreo, panes técnicas e falhas humanas, representadas por negligência,
imprudência ou imperícia, atuaram de forma concorrente para o desfecho
macabro.
Mas a série de falhas
pontuais do acidente em questão teria efeito limitado, se a sensatez
prevalecesse entre nossos governantes e planejadores.
Congonhas, fincado no
coração da maior metrópole brasileira, e hoje cercado por área urbana densamente
povoada, há muito deveria ter sido desativado como aeroporto comercial.
Com pistas sem áreas de
escape em suas cabeceiras, circundadas por avenidas de grande movimento e
prédios comerciais e residenciais, na melhor das hipóteses poderia operar como
um aeroporto para vôos executivos, com aeronaves de pequeno porte.
Assim mesmo, isso já seria
um arroubo de insensatez, comparável a permitir que um suspeitíssimo cavalo de
madeira, enviado pelos inimigos, ingressasse na muralha fortificada. Os troianos
logo perceberam a estupidez, mas era tarde demais para corrigir o erro. Pagaram
com suas vidas e a liberdade.
No Brasil, os governantes continuam de olhos fechados à razão. Não é preciso ser
especialista para se chegar à óbvia conclusão. Outro terminal já deveria ter
sido construído e estar operando em área distante do centro de São Paulo. Mas
Congonhas não apenas é mantido como aeroporto comercial, como foi sendo
transformando no principal hub
aeroportuário do país, concentrando conexões de Norte a Sul.
Pelo diagnóstico de Barbara
Tuchman, as decisões insensatas, como a dos troianos ao aceitar um presente dos
gregos ou a dos americanos ao insistir na Guerra do Vietnã, são frutos da cobiça,
dos vícios políticos e da covardia moral.
Os familiares das 199
vítimas do vôo JJ 3054 sabem bem o significado desses “atributos” no Brasil.
Podemos acrescentar a eles o descaso e a renitente
omissão.
Por
Nilson Mello
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