Mendonça de Barros: corte progressivo da carga tributária
PIB
baixo, incentivos e desonerações – O governo
está prestes a conseguir no Congresso (com votações na Câmara e no Senado antes
do recesso parlamentar que se aproxima) a aprovação das Medidas Provisórias 563
e 564, que garantem estímulos à produção por meio de desonerações trabalhistas e
isenções tributárias propriamente ditas (suspensão de IPI, PIS e
COFINS).
O objetivo
do governo com o estímulo é estancar a queda do Produto Interno Bruto (PIB) este
ano, uma vez que as previsões do mercado e do Banco Central já apontam
crescimento inferior a 2%, contra previsões iniciais de
2,5%.
A MP 563
desonera a folha de pagamentos para os setores naval, aéreo, hoteleiro, empresas
de call Center e indústria
moveleira e de autopeças. Também cria um regime especial de tributação para o
programa nacional de banda larga e telecomunicações, com suspensão de cobranças
e impostos e contribuições sociais.
A MP 564, por sua vez, prevê
estímulo à produção por meio do aumento dos recursos destinados ao financiamento
do setor industrial via BNDES.
A preocupação do governo com
a queda do ritmo de crescimento da economia é legítima. As medidas encaminhadas,
com desonerações e estímulos parciais e setoriais, até são compreensíveis, se
encaradas como paliativos. Contudo, onde estão as reformas estruturais que
estariam na base de uma verdadeira estratégia de crescimento?
Se é do reconhecimento de
todos que os encargos trabalhistas são um obstáculo ao pleno emprego e à
formalidade e, consequentemente, ao aumento da renda e ao desenvolvimento
sustentável, por que não colocar na ordem do dia a flexibilização da legislação
trabalhista, apontada como uma das maiores causas do chamado “custo Brasil”?
Os altos índices de
popularidade e, portanto, de apoio político, deste governo e do anterior lhes
garantiam as condições necessárias para vencer esse desafio. Uma oportunidade
única pode estar sendo perdida.
Da mesma forma, se há
consenso de que a carga tributária, de mais de 30% do PIB, é demasiada alta,
por que privilegiar determinados setores com as desonerações, em detrimento de
outros? Não está claro ainda que benefícios setoriais provocam distorções, pois
impedem que os mecanismos de mercado (associados às leis da oferta e da demanda)
atuem, impondo parâmetros saudáveis de competitividade e produtividade à
economia?
Um corte linear de tributos,
ainda que seja feito de forma progressiva, para não causar desencontros
orçamentários e desgastes políticos, como vem propondo o ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, seria o caminho mais seguro na busca do crescimento
sustentável.
Além disso, retomar
processos de privatização em setores fundamentais, como transporte e logística,
tornou-se imprescindível. A precária infraestrutura é, ao lado dos altos
tributos, o maior lastro à competitividade da cadeia produtiva nacional. Seria
preciso modernizar a regulamentação de alguns setores, como o dos portos, para
permitir uma nova leva de investimentos.
Por fim, não há como deixar
de lembrar que o crescimento depende, também, de investimentos do próprio
governo – hoje estacionados em irrisórios 2,3% do PIB. Mas, para tanto, é
preciso uma reforma de Estado que garanta maior seriedade na gestão dos recursos
financeiros, o que implica, necessariamente, melhor gestão dos recursos humanos
disponíveis. A melhor gestão dos recusos financeiros poderia garantir a
qualificação dos recursos humanos (outro gargalo ao crescimento), tanto no setor
público quanto no privado.
Com popularidade em alta, o
governo Dilma Rousseff teria plenas condições políticas de empreender essas
batalhas. Ao menos, poderia dar partida a essas iniciativas. Se não o faz, é por
falta de visão estratégica. Ou por preconceito ideológico. Pois, como sabemos,
governos autodenominados de esquerda e socialista preferem o ativismo estatal,
caracterizado pela permanente intervenção nas relações econômicas, às
providências profiláticas óbvias, que tiram do Estado o papel de condutor (e
indutor) econômico. Mas não custa acreditar que a razão, a qualquer momento,
poderá prevalecer.
Por
Nilson Mello
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