segunda-feira, 2 de julho de 2012

Comentário do Dia



      
        BRT: Por que não um veiculo sobre trilhos ao invés de um ônibus?

Rio de Janeiro, Patrimônio Mundial - Os cariocas e todos aqueles que amam o Rio de Janeiro devem comemorar o título concedido à cidade neste domingo pela Unesco prestanto atenção no que ele realmente diz: Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural.

Onde quero chegar? O Rio é mesmo privilegiado do ponto de vista da natureza, com paisagens deslumbrantes, e isso deve servir de orgulho para todos os cariocas e brasileiros, mas precisamos trabalhar – e muito – para que a cidade seja também reconhecida por aquilo que a mão do homem venha a fazer.

Por enquanto, a fama da cidade se deve à generosidade da natureza, não à efeitva ação humana. Precisamos, em primeiro lugar, construir sem degradar, e, como consequência, criar planos e soluções para que este crescimento se dê de forma harmônica, com soluções que garantam a qualidade de vida de seus habitantes e o bem estar dos visitantes.

Definitivamente, não é isso que se tem no Rio de Janeiro hoje. Estamos no limiar do caos urbano sem que o Poder Público dê sinais de que pode estabelecer um planejamento urbano que garanta as soluções dos problemas crônicos que enfrentamos. 

O Rio de Janeiro cresceu muito mal, a exemplo de outras cidades brasieiras. A começar pela absurda especulação imobiliária que deteriorou Copacabana e outros bairros da Zona Sul a partir da década de 1940, passando pelo abandono dos grandes projetos viários, até a absoluta omissão nos transportes públicos nas décadas seguintes.

As “soluções” que se promovem nos últimos anos já nascem como paliativos. E paliativos questionáveis – o que denota insistência no erro. Não faz sentido, por exemplo, a cidade não privilegiar o transporte sobre trilhos, que é, por excelência, o transporte de massa. A Prefeitura acaba de inaugurar com pompa (presença do ex-presidente Lula) o “BRT”, um ônibus que circula em faixa exclusiva - tirando espaço de automóveis - fazendo a ligação da Zona Oeste a partir da já saturada Barra da Tijuca. 

A implantação de um metrô de superfície, um veículo sobre trilhos, ou modernos bondes para a ligação do trecho para o qual foi adotado o BRT seria mais econômica, eficiente (maior número de passageiros transportados), segura e ambientalmente sustentável. Por que então o ônibus?.

Da mesma forma, o Metrô se prolonga para a Zona Oeste com base no aumento de estações em cima de uma mesma linha (a Linha 01), hoje já saturada. Não é necessário ser engenheiro de transportes para saber que mais estações na mesma linha levarão a um colapso do sistema no curto prazo. O curioso é que as críticas na imprensa a esses, digamos, equívocos são tênues, quase marginais – o que dá ao Poder Público municipal “crédito” para continuar a cometer erros.

Por fim, e para ficarmos apenas no setor viário, decidiu-se pela demolição do Elevado da Perimetral, um corredor expresso de mais de 7 km, hoje uma das poucas vias de escapa do Centro da cidade. A demolição reduzirá a capacidade de veículos circulando na área portuária, criando mais gargalos para o trânsito, e diminuindo a capacidade operacional do próprio porto. Significa desperdício de dinheiro público. Por que destruir o que está pronto e funcionando? (Ver link abaixo do texto)

Poderíamos falar de outros equívocos e omissões, como a falta de racionalidade na distribuição das linhas de ônibus, geralmente superspostas; dos próprios ônibus em si (montados em chassis de caminhão, altos, inseguros e poluidores); ou da falta de campanhas educacionais nas áreas carentes destinadas a prevenir lixo em encosta, despejos em rios etc. Sem contar que é espantosa a inapetência da Prefeitura para fazer o que é essencialmente o trabalho de uma prefeitura: conservar as ruas e logradouros públicos; garantir a manutenção do calçamento; zelar pela limpeza das praças e parques; fazer a manutenção da iluminação pública etc...

Em suma, a natureza (Deus, para quem preferir) deu muito ao Rio. Mas nós, cariocas, definitivamente não estamos fazendo a nossa parte. É possível que as coisas melhorem com o título da Unesco, mas, francamente, não creio. Pois há uma questão de fundo a ser resolvida. Uma questão ligada à educação da população. Enquanto a população não for qualificada, o Poder Público municipal continuará a preferir maquiagem urbana ao invés de trabalhar com empenho para buscar soluções compatíveis com a dimensão dos problemas que enfrentamos. 

Neste sentido, o título da Unesco é negativo, porque, indiretamente, premia o erro e a omissão.

Link com entrevista sobre a demolição da Perimetral

Por Nilson Mello

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