quinta-feira, 2 de junho de 2016

Artigo

O PIB e o ponto de inflexão


    Dois anos de recessão, oito trimestres seguidos sem crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Economia em retrocesso, com elevado índice de desemprego (quase 12% dos trabalhadores ativos) e baixo nível de investimentos.
    De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (01/06) pelo IBGE, a queda do PIB no primeiro trimestre do ano, em relação ao último trimestre de 2015, foi de 0,3%. Em relação ao mesmo período do ano passado, o recuo é de 5,4%. A queda acumulada da economia em 12 meses é de 4,7%.
    As medidas "anticíclicas" adotadas pelo governo Dilma Rousseff em mais de seis anos, em especial as desonerações seletivas a setores produtivos, não apenas foram insuficientes para estancar a crise como a retroalimentaram na medida em que aumentaram o déficit público e fomentaram a ineficiência.
    Entre as distorções do modelo, a chamada "nova matriz macroeconômica", está a inflação persistentemente alta, além do próprio desequilíbrio fiscal, que causa incertezas, inibe investidores e engessa as ações do Estado, comprometendo até programas sociais relevantes.
    Nada do previsto e prometido na política econômica da dupla Dilma Rousseff-Guido Mantega foi efetivamente entregue, e é preciso que isso fique bem claro para a sociedade.
    Cabe lembrar que o Brasil retrocedeu num momento em que mundo voltava a crescer, com desempenho especialmente vigoroso de países emergentes, exceção feita, é claro, àqueles que desenvolveram políticas heterodoxos e intervencionistas semelhantes à do PT, como a Venezuela. Num ranking de 31 economias, o Brasil está na rabeira em termos de crescimento do PIB.
    Alguns economistas - os otimistas entre os otimistas - conseguiram enxergar algo de positivo nos números divulgados pelo IBGE. Estaríamos chegando a um ponto de inflexão. É que o desempenho de -0,3% do PIB no trimestre passado foi o melhor resultado desde dezembro de 2014. Estamos comemorando uma degradação menor do que a esperada, que era em torno de -0,8%. A que ponto chegamos!
     A queda menor pode significar que uma retomada virá mais cedo do que o previsto. Mas, de qualquer forma, quando ocorrer, será cíclica. Porque a verdadeira recuperação da economia, capaz de levar o país ao crescimento sustentável de longo prazo, tem como pressuposto uma série de reformas estruturantes - a tributária envolvendo a trabalhista, a previdenciária, a administrativa, e mesmo a político-eleitoral -  que, dada a conjuntura, ainda estão longe de acontecer.
    Então, o que se tem para o momento é a forte possibilidade de retomada da confiança graças à credibilidade que a nova equipe econômica transmite. E isso já não é pouca coisa tendo em vista o desastre da "gestão" anterior.
    Tudo isso considerado, podemos dizer que o verdadeiro ponto de inflexão não está na economia nem na política, mas no Judiciário. É por via da Justiça, com o apoio da sociedade, que o país e sua democracia estão sendo depurados para poder viver dias melhores. Nunca antes na história tantos governantes, dirigentes políticos, banqueiros e empresários corruptos foram processados e punidos por seus desvios.

Por Nilson Mello



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