Um novo
ministério
Interesses partidários moldam a máquina pública
Bom
seria se não precisássemos nos ocupar tanto do governo. Que tivéssemos outros
assuntos. Mas o protagonismo errático de nossos dirigentes joga o intuito por
terra. Novo ministro da Ciência e Tecnologia, já nomeado pela presidente Dilma
Rousseff, Aldo Rebelo, que deixou a pasta dos Esportes, acha que “inovação não
pode significar perda de postos de trabalho”. Já nomeado para a Educação, o
ex-governador do Ceará Cid Gomes acredita que professor deve “trabalhar por
amor”, ou seja, não precisa ganhar bem e nem deve se preocupar com salário.
Não se
tem notícia ainda de declarações emblemáticas de Eduardo Braga, ex-governador
do Amazonas, nomeado para o Ministério das Minas e Energia, ou de Eliseu Padilha,
escolhido para assumir a Secretaria Especial de Aviação Civil, sobre as suas
respectivas pastas, mas é certo que nenhum dos dois é especialista na área que
comandará. Entre os outros nove nomeados esta semana para o Ministério do
segundo mandato, alguns até são técnicos, mas de pouca expressão porque
igualmente definidos nos quinhões político-partidários.
Sejamos realistas, ministros até não precisam ser técnicos – às
vezes é bom que não o sejam, para não perder a dimensão estratégica de seu
Ministério. Mas é recomendável, ao menos, que tenham uma biografia, uma
trajetória profissional que os credencie para a missão. Que sejam de expressão, qualificados, comprometidos com objetivos mais elevados e não com os interesses de
seus partidos.
Hoje o
loteamento é levado às últimas consequências em nome de uma
“governabilidade” canhestra, executada à custa do desenvolvimento do país.
Dá-se à prática, eufemisticamente, o nome de “presidencialismo de coalizão”. A cada novo
governo, mandato ou reforma ministerial assiste-se a nova rodada de
esquartejamento da máquina pública federal. O padrão se repete nas esferas
estadual e municipal. O “resultado” é a descontinuidade das políticas de
Estado, ou a adoção de programas equivocados, com a eternização de nosso atraso,
em especial na área social.
O efeito
inexorável da inovação tecnológica é a progressiva e programada (a partir do
estabelecimento de prazos que permitam o treinamento e a alocação de mão de
obra em outros setores) perda de postos de trabalho em determinado segmento
econômico. A vantagem da inovação, contudo, é extraordinária porque ela propaga
a eficiência para toda a economia, melhorando o seu patamar de atividade,
multiplicando investimentos e oportunidades, diversificando negócios e relações
comerciais e, assim, criando uma nova gama de funções e postos de
trabalho de forma sustentável, com benefício para toda a sociedade.
Inovação
agrega valor à economia, o que é determinante para o aumento da renda. Não se
trata, portanto, de uma questão de escolha. Ou segue-se este caminho ou fica-se
condenado ao atraso, eternamente dependente do desenvolvimento tecnológico de
outras nações, sujeitando-se, por consequência, aos seus interesses.
Algum
assessor deveria tentar explicar ao ministro Aldo Rebelo que não se faz
inovação pela metade. Mas o voluntário deve estar ciente de que o novo titular da Ciência
e Tecnologia talvez prefira não entender. Se no passado era a religião a maior
barreira ao conhecimento, hoje é a ideologia que faz este papel, encobrindo a
verdade ou distorcendo a realidade. Aliás, que combinação diabólica domina o
Brasil hoje: o retrocesso ideológico associado ao mais vil patrimonialismo
manejado pelos agrupamentos partidários.
Rebelo ao
menos tem a sua “bengala”. A sua desculpa é a ideologia. E o que dizer do
ministro Cid Gomes? Como justificar a defesa que fez dos baixos salários dos
professores? Estupidez pura e simples?
Por Nilson Mello
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