Cuba, os EUA e os portos brasileiros
Porto de Mariel, em Cuba: dinheiro brasileiro
Apesar do novo marco
regulatório do setor - a Lei 12.815, sancionada em junho de 2013 -, os
terminais portuários brasileiros seguem congestionados, elevando os custos para
a combalida cadeia produtiva nacional e comprometendo a já baixa produtividade
da economia brasileira. As raras exceções são os empreendimentos privados mais
recentes, mas mesmo esses têm sua eficiência em parte eliminada pelas precárias
interconexões rodoviárias e ferroviárias ou devido à falta de dragagens nos
canais marítimos.
Navio parado na “fila” à espera de atracação, como
ocorre no Brasil, é sinal de ineficiência – e prejuízo certo. Enquanto nos
principais portos do Mundo um navio leva menos de duas horas para
embarcar e desembarcar, no Brasil um navio chega a ficar dias à espera da
atracação, gerando atrasos em cascata, que subvertem o planejamento logístico e
jogam os custos para a estratosfera.
A nova Lei dos Portos, como é conhecida, até eliminou obstáculos que travavam os investimentos
(condição para a expansão do setor), como a absurda obrigação imposta aos
terminais privativos de movimentar carga própria de forma preponderante – o
que, evidentemente, afastava grande parte dos investidores. Ora, se minha razão
de ser é a logística portuária, movimentando cargas de terceiros, não posso ter
carga própria de forma preponderante, a não ser que deixe de ser o que sou.
A “armadilha”, criada, evidentemente, para resguardar
mal disfarçadas reservas de mercado (em especial, a dos terminais públicos arrendados,
que teriam que enfrentar novos competidores com uma concorrência ampla e aberta,
algo bom para o país, mas ruim para eles), impediu durante longo tempo que uma
nova leva de aportes fosse feita em terminais privativos nacionais.
Desfeito este nó, cujos resultados ainda demorarão
alguns anos para aparecer, outras barreiras, contudo, sobreviveram ao novo
marco regulatório – ou, o que é muito pior, vieram junto com ele. Entre elas
estão as elevadas e descabidas exigências de licenciamento para a expansão de
terminais já existentes ou as restrições para a ampliação de empreendimentos
dentro do Porto Organizado (Porto Público).
É como se o governo acertasse (?) pela metade,
anulando eventuais benefícios de suas próprias iniciativas. Não se trata apenas
de “determinismo ideológico” – algo que por si só afasta dos gabinetes de
Brasília qualquer vestígio de racionalidade econômica -, mas de incompetência
pura e simples.
Além de afastar os entraves burocráticos
remanescentes, permitindo o aumento significativo dos investimentos privados no
setor portuário (algo que está no espírito da Lei 12.815/2013), o governo deveria
se ocupar de, paralelamente, investir na melhoria dos acessos terrestres aos
terminais. As “filas” de navios e, consequentemente, a ineficiência dos portos
são também reflexo do sucateamento da infraestrutura em seu entorno.
Onde Cuba e Estados Unidos entram nesta história? Bem,
o Brasil financiou, via BNDES, a construção do porto cubano de Mariel. A obra
custou cerca de US$ 1 bilhão – com aproximadamente de R$ 90 milhões dados pelo Brasil a
fundo perdido (sem nada em troca). Não se tem notícia de nenhum terminal
brasileiro, público ou privado, que tenha recebido aporte tão generoso. Um
bilhão de dólares resolveria todos os entraves estruturais – melhoria dos
acessos rodoviário e ferroviário e integração intermodal - no Porto de Santos,
o maior da América Latina e por onde passa um quarto da balança comercial
brasileira.
Agora que Cuba e Estados Unidos reatam relações, o
governo mobiliza a sua propaganda para justificar o investimento em Mariel como
uma bem urdida estratégia para se beneficiar do provável fim do embargo
comercial à Ilha dos irmãos Castro. Potencialmente, e em tese, o fim do
embargo, quando acontecer (pois ainda depende de uma decisão do Congresso
americano), pode beneficiar o intercâmbio comercial de todas as nações do
planeta com Cuba. E, ainda assim, apenas potencialmente, porque por mais que a
demanda na ilha caribenha esteja reprimida, o aumento das transações comerciais
depende de uma série de variáveis de mercado.
Navios das rotas internacionais não farão escala em
Cuba apenas porque lá tem um novíssimo porto. Não é esta a lógica econômica que
determina os negócios. Mas, ainda que tudo dê certo no curto prazo para os
cubanos, como esperamos, o Brasil terá sido o único país a pagar US$ 1 bilhão
por aquilo que todas as nações terão sem desembolsar um centavo: o direito de
livre comércio com a ilha caribenha. Vai entender!
Por Nilson
Mello
Nenhum comentário:
Postar um comentário