A mudança de rumo
Levy tem como missão melhorar a gestão dos gastos públicos
Os 54,4 milhões de brasileiros (51,64% dos votos
válidos) que votaram na presidente Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial
deste ano têm o direito de se sentir traídos com a escolha da nova equipe
econômica, sobretudo a de Joaquim Levy para comandar a Fazenda. Podem até cobrar
explicações pelo engano a que foram induzidos (é o tal negócio, por que não se
informaram melhor sobre a situação do país, não é mesmo?). De qualquer forma,
não devem ficar pessimistas. Ao contrário.
Quando a candidata e o seu partido afirmavam – não apenas
na campanha, mas ao longo dos quatro anos do governo iniciado em 2010 - que ia
tudo bem na economia estavam, na verdade, mentindo. Do contrário, não seria
preciso uma guinada de 180º agora. Deveriam pedir desculpas aos brasileiros.
Os que votaram em Aécio Neves - cerca de 51 milhões de
eleitores - podem se sentir aliviados. E comemorar. Se a economia caminhava
para um colapso de difícil reversão, ou reversão lenta e a um altíssimo custo, por
conta da inflação elevada, do baixo crescimento e da degradação das contas
públicas (variáveis que, claro, têm íntima relação de causa-e-efeito entre si),
as perspectivas começam a melhorar. Eis aí um promissor estelionato eleitoral.
Não é o primeiro. Luiz Inácio Lula da Silva também não
fez o que prometia na economia quando foi eleito em 2002. Manteve distância do que
o PT sempre preconizou para a área econômica. Ao assumir, em 2003, deu
sequência ao programa do PSDB e com ele, ou graças a ele, chegou ao segundo
mandato. Jamais reconheceu a (bem-vinda) incoerência ou renegou o plano
anterior, talvez cinte de que a maioria do eleitorado não se daria conta do “truque”
ou não se importaria com ele.
Convenhamos, se o PT continuar a fazer na economia tudo
diferente do que pregam seus economistas e ideólogos, estaremos a salvo.
Com Levy oficialmente anunciado e prometendo metas
factíveis de superávit em 2015, diante do estrago apresentado em 2014, o
mercado financeiro já deu sinais de otimismo esta semana. Racionalidade econômica
conduz ao equilíbrio fiscal e garante ambiente mais seguro para os
investidores. São pressupostos para a estabilidade e o crescimento sustentável,
algo agora assumido pela presidente reeleita, a despeito de ter feito tudo
contrariamente a esses princípios durante quatro anos.
Doutor pela Escola de Chicago e, portanto,
identificado com o pensamento liberal e a ortodoxia no trato das contas públicas,
Levy é a personificação da mudança de rumo – o “Mãos-de-Tesoura” que as
circunstâncias exigem. O eixo da política econômica voltará a ser a
responsabilidade fiscal, com melhor gestão dos gastos, visando à reconquista da
credibilidade. Então, os eleitores de Dilma podem até se revoltar, mas que se
revoltem contra a governante, o governo e o partido que os ludibriou durante
quatro anos e que encurralou a economia do país.
Por Nilson
Mello
Em tempo:
A questão agora é saber se Joaquim Levy e a nova
política econômica resistirão às pressões do PT e ao próprio protagonismo da
presidente da República. A hipótese de o novo ministro ser afastado às vésperas
de 2018, dando lugar novamente ao neopopulismo, após sanear as contas públicas,
também não é de toda remota.
Venho insistindo que o problema do liberalismo é a incidência dos juros sobre juros, que impossibilita a amortização mais rápida e o devedor passa a trabalhar para pagar somente os juros, eternizando a dívida. Este fato gera a inflação, pois o produtor aumenta seus custos com o aumento dos juros. Como o Levy pertence ao milenar grupo criador dos juros compostos, vejo somente um próximo rígido controle de gastos, para poder honrar o superavit fiscal (49% para pagar os juros da dívida aos seus pares banqueiros). Se não se lutar na ONU, pelos juros simples, sempre haverá bolhas, crises, concentração da riqueza mundial nas mãos de poucos, farta miséria etc. Anulei meu voto por isso...Nada mudou, desde muito antes de Lula, e você tem razão em muitos pontos.
ResponderExcluirResposta do BMM: o liberalismo não inventou os juros, tampouco estimula os governos a serem perdulários e devedores. Os juros, tantos os simples quanto os compostos, decorrem do excesso de endividamento, seja do setor privado, por meio de seus diferentes agentes (empresas, famílias, indivíduos) seja do setor público. Juro é um preço. É o preço do dinheiro. No Brasil ele é muito alto porque o governo gasta muito – e muito mal. A nova equipe econômica está certa quando prega o aumento da poupança.
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