O que mais vão proibir?
A recente mania brasileira de tudo
proibir chegou definitivamente ao futebol. Vem no embalo do crescente ativismo estatal, da
ideia equivocada de que o intervencionismo exacerbado produz um mundo melhor.
Eis a razão para o excesso de leis e regras e para os desmedidos e reiterados
experimentos na esfera econômica, sobretudo no atual governo, todos eles de
resultados pífios, como se nota pelo crescimento medíocre e pela ressureição da
inflação.
A
sociedade evoluída não é aquela que produz muitas regras, mas a que respeita
as regras que já existem. Leio em algum lugar que o consórcio que administrará
o novo Maracanã vai proibir o ingresso de torcedores ostentando bandeiras em mastros.
Primeiro, sob o argumento de reduzir a violência, proibiram a cerveja nos
estádios. Mas não ofereceram qualquer estatística, nem paralelos em outros
países que comprovassem estar o problema relacionado à bebida.
Por
que uma pessoa pode beber à vontade no bar de esquina, mas não pode fazer o mesmo
dentro do estádio, que está do outro lado da rua? Se é uma questão de saúde
pública, falta coerência. Afinal, entre os maiores anunciantes no rádio e na
televisão, principalmente em jogos de futebol, estão os fabricantes de cerveja.
Agora,
com a nova restrição das bandeiras com mastros, querem esvaziar o próprio
espetáculo. Um estádio de futebol sem o tremular colorido das bandeiras perde
grande parte de sua graça. Sobretudo o estádio que, durante mais de 50 anos, se
notabilizou não apenas pela arte que grandes craques como Garrincha e Pelé exibiram
nos gramados, mas pela explosão de alegria dos torcedores nas arquibancadas.
Mas
essa estúpida mania é assim mesmo: acha que o mundo se transforma por decreto,
pela contundente e regular ação do governo. Daí porque tentaram, entre outros
absurdos, “disciplinar” a imprensa. Pois bem, o setor privado sofreu a má
influência e absorveu o hábito. Quer, ele também, produzir regras para
enquadrar as pessoas. Os “gênios” que administram este novo e caríssimo
Maracanã, cujo estrondoso valor tem todos os indícios de forte superfaturamento,
acreditam que conseguirão um público mais civilizado se proibirem a bandeira –
e, talvez, de quebra a alegria.
Atos
de vontade, expressos pelo ativismo legal ou pela ação oblíqua de agentes
privados travestidos de autoridade pública, não transformam a realidade. Apenas
reprimem o que há de mais autêntico numa sociedade. Se os “gênios” pretendiam
imitar o Primeiro Mundo, dando uma aparência mais europeia ao Maracanã,
deveriam, ao menos, ter se informado melhor. Na desenvolvida Alemanha, uma das
mais sofisticadas culturas da Europa, o que não faltam nos estádios são
bandeiras. E alegria, como prova a foto que ilustra este texto.
Numa
falácia digna de Pinóquio, repetida inclusive em pronunciamento presidencial com
cadeia de rádio e TV, o governo alega que os novos estádios foram construídos
com recursos do setor privado. Falso. Foram construídos pelo setor privado, mas
com financiamento do BNDES, a taxas camaradas, abaixo daquelas que nós, mortais,
captamos junto ao sistema bancário. E possíveis, apenas, em função dos aportes
do Tesouro que, por sua vez, toma recursos no mercado, a taxas muito
superiores. No final das contas, o dinheiro saiu do bolso do contribuinte, que
arca com a diferença e, agora, não pode nem tremular a bandeira de seu clube quando
for ao superfaturado estádio.
Por Nilson Mello
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