ANOTEM
Inimigo
Externo
O Globo prestou um grande
favor ao governo com esta série de reportagens sobre Snowden (o agente Nevado) e
as escutas no Brasil. Não foi intencional, mas funcionou (acreditem: não foi
intencional!). O olhar da midia – e do público – foi desviado para um assunto
sensacionalista. Assunto que, a rigor, não tem a menor relevância dentro das
prioridades do país. Pois as práticas são antigas e usuais aqui mesmo no Brasil,
onde Polícias, em especial a Federal, e mesmo empresas privadas usam e abusam
das escutas clandestinas e da espionagem cibernética. Nada como um inimigo
externo para desviar a atencão de nossos verdadeiros
problemas.
A Lição de
Napoleão
No momento em que o
“companheiro” bolivariano Nicolás Maduro prepara-se para receber, como exilado
político, o agente Nevado, vem à memória a dura, porém, realista lição de
Napoleão ao ordenar a execução de um oficial do exército austríaco, após tomar
nota das informações estratégicas que esse lhe trazia: “Do traidor, aproveita-se
apenas a traição”.
O episódio
ocorreu na primeira década do Século XIX. No contexto do Século XXI, e não sendo
Nevado um militar, e nem estando EUA e Venezuela em guerra formal ou
convencional (apenas ideológica), cabe apenas atualizar a
interpretação: um informante jamais será confiável, em que pese o valor de suas
informações.
Cegueira ideológica ou
desonestidade intelectual
Entre as reivindicações
da paralisação desta quinta-feira dia 11 estão pedidos que representam aumento
ou manutenção dos custos trabalhistas. Mas é muito caro contratar no Brasil. A
cegueira ideológica ou a oportunista desonestidade intelectual – ou ambas as,
digamos, deficiências associadas –, turbinadas pelo populismo chapa-branca,
ainda impede muita gente de empunhar a melhor bandeira. Nossa legislação
trabalhista, anacrônica e paternalista, onera o emprego. A boa causa seria
reduzir os encargos, o que resultaria em maior oferta de trabalho, maior renda,
menos burocracia e mais desenvolvimento. Claro que seria ingenuidade esperar
que a CUT e as outras centrais sejam honestas em relação à questão. Vivem
disso. E o governo também. Mas isso não deve impedir o restante da sociedade de
pensar e agir com lucidez.
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