O que nos mostra a MP dos Portos
São nos momentos críticos que o Congresso revela o seu
lado mais insólito. Na noite desta quinta-feira, no Senado, e na madrugada do
mesmo dia, na Câmara, durante a votação a “toque de caixa” da Medida Provisória
595, o que se viu foi muito bate-boca quanto à forma e nenhum debate de fundo.
Mas também não poderia ser
muito diferente. Primeiro porque há muito o Executivo trata o Parlamento como um
Poder acessório, do qual espera mero cumprimento de agenda. E o Legislativo
acostumou-se a negociar e tirar proveito da suposta submissão.
Em segundo lugar porque não haveria mesmo tempo para
uma análise detida das regras que estabelecem o novo marco regulatório do setor
portuário. A MP caducaria nesta quinta-feira caso o Senado não a
aprovasse e a enviasse para a sanção presidencial.
A relevância da matéria tratada na medida é
inquestionável, o que nos leva a reconhecer, nesse particular, o mérito do
governo. O tema é tão importante e complexo que não deveria ser encaminhado como
MP e sim como Projeto de Lei.
Mas o governo do PT, que no passado deplorava o
uso das “autoritárias” MPs, acha que tem o monopólio das boas intenções. Então, processo legislativo para quê? E, dentro dessa linha de raciocínio, entende a “submissão” do Congresso como estável e irretratável. Do outro lado, contudo, o oportunismo parlamentar sempre espera arrancar mais um naco de
vantagens e favorecimentos em negociações pontuais.
Convenhamos, não é tão fácil assim o papel do governo.
Coopta uma grande base partidária, fatiando a máquina pública, para não ter
entraves no Legislativo, e na hora “h” descobre que ainda tem que negociar um
pouco mais. Quem é o bobo na relação simbiótica?
A vítima disso tudo sabemos que é a sociedade, que
paga o alto preço de um Estado ineficiente e perdulário, como resultado de cargos preenchidos
por critérios políticos.
O mais inusitado de tudo é que, em meio à balbúrdia e os ensaios de barganha, o
novo marco regulatório pode realmente cumprir o seu objetivo, de modernizar o setor. Para tanto o Planalto precisa cumprir a promessa de expurgar as "cascas de banana” inseridas no texto
que a Câmara aprovou. Precisa vetar o limite de 5% à
participação de empresas de navegação em novos terminais, a prorrogação dos contratos dos terminais públicos, e o conceito de terminal-indústria. Esses dispositivos impediriam a ampla concorrência
capaz de reduzir os custos operacionais.
Por falta de regras claras que inibem os
investimentos, o Brasil tem hoje uma das piores logísticas portuárias do mundo.
No ranking do Fórum Econômico Mundial, o país está 135º lugar nesse quesito, entre 144
países.
Seria natural então que parlamentares de partidos de
oposição, em especial PSDB, que sempre criticaram os gargalos logísticos,
contribuíssem para a aprovação de uma Lei que eliminasse esses obstáculos. Mas preferiram obstruir a matéria, não por seu
conteúdo, mas pela forma como foi encaminhada. Ao colocar o interesse do país
em segundo plano, aparentemente para evitar uma vitória do governo, juntaram-se
aos oportunistas e perderam duplamente.
Não é insólito este nosso Congresso?
Por Nilson
Mello
Caro Nilson, estamos na puberdade. Iniciamos há apenas 205 anos. Qual o peso da indústria no PIB. Robotizada, quanto emprega? Quanto ela e o governo direcionam para inovação? O que difere é que agora podemos espernear. Abraço Lioz Affonso Romano www.blogdoconsultor.com
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