Credibilidade em jogo na política e na economia
Entre ser pró-ativo, preventivo
ou reativo, o mandato de Dilma Rousseff tem sido recorrente com a terceira
opção. Não deixa de ser curioso – embora não tenha a menor graça – que um
governo cujo marketing da campanha eleitoral trazia a aura da gestão eficiente,
hoje tenha a marca do improviso, sempre correndo para remediar (às vezes de
forma atabalhoada) os efeitos daquilo que deveria ter sido evitado por um
planejamento adequado.
O desarranjo, digamos assim, gerencial fica patente, entre outros, nas idas e vindas das regras de concessão de rodovias, nos retrocessos na
licitação dos aeroportos, nas obras inacabadas do tão propalado PAC, no recente e
tumultuado encaminhamento da MP dos Portos, na confusão desta semana com a
distribuição dos recursos do Programa Bolsa Família e, sobretudo, na “condução”
(?) de uma política econômica que ressuscitou a cultura da inflação no país.
Se a oposição aposta nesse quadro para voltar ao Poder, é porque não fez
o correto diagnóstico da gravidade do cenário; e por essa razão também não
estaria pronta para governar. Até porque pode encontrar uma desarrumação de tal
ordem na política econômica e na gestão do Estado que o seu mandato de retorno
se tornaria politicamente inviável.
Não há alternativas. Apesar de todo o paradoxo que possa representar a
torcida por um time que joga mal - devido à falta de coordenação tática e de
capacitação técnica – por enquanto, para evitar o pior, é por este governo que
devemos continuar a torcer.
Nesta quarta-feira (29 de maio), por sinal, tem partida decisiva. O
Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, se reúne para decidir
se promove uma alta maior da taxa básica de juro (de 50 pontos-base, ao invés
de 25 como da última vez, para uma taxa Selic de 8% ao ano), na tentativa de
frear a pressão sobre os preços. Juro alto é ruim para a economia. Mas muito pior
seria a volta de uma espiral inflacionária.
Por conta dos impulsos experimentais do governo, a tarefa do Copom hoje
é muito mais difícil. Precisará adotar doses mais severas. Está em jogo a sua
credibilidade e, atrelada a ela, a sua capacidade de reverter expectativas
econômicas. Uma decisão branda poderá ser entendida como fraqueza, aumentando
os riscos de descontrole.
Como já foi dito aqui, política fiscal expansiva (gastos públicos) e
estímulo ao crédito, combinados com um quadro de baixa produtividade, por conta
da falta de investimentos, ensejou o atual cenário. Um planejamento adequado,
com marcos regulatórios mais claros, para atrair investimentos, e uma postura
fiscal mais responsável poderiam ter evitado tudo isso.
Nota –
Diagnóstico certo:
O “motor chinês” está perdendo
força. O governo de Pequim decidiu então ampliar as reformas estruturantes,
estabelecendo regras de mercado que possam atrair mais investimento privado. A
taxa de investimento na China já é de 47,8% do PIB, razão pela qual o país
cresce em média 7,5% ao ano. A taxa de investimento no Brasil é de 18%, e o
avanço do PIB foi de apenas 0,9% em 2012.
Por
Nilson Mello
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