Ucrânia: diagnóstico e prognósticos
Nilson
Mello
Putin não conseguiu realizar uma blitzkrieg para tomar Kiev
rapidamente. Segundo especialistas em estratégia militar, isso se deve ao fato
de ter adaptado o seu objetivo inicial, passando de uma operação militar
originalmente limitada às províncias com conflitos separatistas do sul da
Ucrânia, para uma conquista de todo o território ucraniano, e capitulação de
seu governo a partir de uma rápida tomada da capital - o que não ocorreu.
A razão para o fracasso de sua “blitzkrieg”, além da tenacidade do
povo e do Exército ucranianos, estaria no fato de o avanço russo, ao contrário
da guerra relâmpago da Wehrmacht no início da Segunda Guerra Mindial, não ter
sido feito em escalas subsequentes, deixando grandes “hiatos” (gaps) logísticos
na retaguarda. O que se pode esperar agora? Uma das possibilidades é que a
Ucrânia se transforme num território conflagrado com o conflito se estendendo
por longo prazo.
Uma preocupação neste sentido se justifica pelo fato de muitos
grupos, de variadas tendências ideológicas, e com diferentes interesses
políticos, terem se organizado em milícias armadas na Ucrânia para auxiliar o
Exército regular no enfrentamento às forças russas. Muitos desses grupos
receberam reforços de voluntários estrangeiros, de origens étnicas e religiosas
díspares. Isso talvez possa transformar a Ucrânia num campo de batalha por
tempo indeterminado, com o conflito se estendendo anos a fio, sem definição de
vitorioso, mal comparando, como ocorreu na Guerra Civil do Líbano (1975 a 1990)
e mais recentemente na Síria.
Uma vitória russa, após duras batalhas e tomada do poder, não
afastaria esta possibilidade, pois o conflito tenderia a se estender contra o
domínio russo. A alternativa preocupante seria a de Putin, percebendo que não
haverá a fácil conquista que esperava, e se vendo pressionando pelas fortes
sanções internacionais, fazer uso de arma nuclear. A possibilidade é remota,
mas não está totalmente descartada, sobretudo tendo em vista o perfil do
“líder” soviético.
A melhor alternativa, pela qual a ONU e a comunidade internacional
conjuga os seus melhores esforços, é um acordo imediato de cessar-fogo e a
retomada das negociações diplomáticas. Ainda há espaço para essas negociações.
A questão é saber como esse mosaico de grupos díspares se comportará após o fim
das hostilidades formais.
Por fim, há quem diga que Putin perdeu prestígio interno com a
guerra, ou mesmo que foi à guerra numa tentativa de renovar o seu prestígio,
que já estaria em declínio após mais de duas décadas no poder. Assim, em tese,
sua queda, por desgaste e pressão interna, não pode estar totalmente descartada
- lembrando apenas que esta hipótese não elimina outras questões relacionadas à
Ucrânia, conforme mencionadas acima. O cenário é, portanto, de grande
imprevisibilidade.
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