Os roedores
e a República do compadrio
No
dia em que roedores tomaram literalmente o auditório da CPI da Petrobras de
assalto, soltos por um funcionário alegadamente indignado - em ato que pode até
ser visto como de mau gosto, mas que tem inegável carga simbólica - o tesoureiro
do PT, João Vaccari Neto, garantiu que jamais se envolveu em pagamentos de
propina.
É
difícil imaginar que as informações prestadas em delações premiadas por vários acusados
na Operação Lava Jato, e que apontam no sentido diametralmente oposto, possam
ser todas elas falsas.
Os
depoentes acusam o partido de Vaccari, e ele próprio, de receber dinheiro do esquema de
corrupção montado dentro da estatal. Aliás, vão além: afirmam, direta ou
indiretamente, que o esquema foi estruturado justamente com a finalidade de
robustecer financeiramente os partidos ligados à chamada base do governo, PT em
especial.
Por
que razão mentiriam esses depoentes, se o preço da calúnia e da falsidade,
nesta altura do campeonato, seria a cominação de penas muito mais severas, não está
claro. Não faz sentido.
Vaccari
tem o benefício da dúvida que e a Lei penal, com amparo constitucional, lhe
garante. Mas isso não impede que a sua manutenção no cargo seja insólita. Que a
Lei, no Estado democrático de Direito, preserve o suspeito, o indiciado e até
mesmo o réu de uma condenação antecipada e, por isso, potencialmente equivocada
e injusta, é mais do que compreensível.
Fora
da esfera judicial, porém, o que deve prevalecer é o critério rígido, sobretudo
quando há implicações político-institucionais em jogo. À mulher de Cezar não basta
ser honesta.
O
tesoureiro poderia se afastar até o total esclarecimento dos fatos, com a indubitável
comprovação - e aqui estou lhe dando todo o benefício da dúvida - de sua
inocência e, vá lá, a de seu partido. Sua permanência no cargo destoa do
razoável, beira o patético.
Contudo,
como quem mais sofre o desgaste à imagem provocado, de um lado, por sua resistência
em sair e, de outro, pela fraqueza de seus pares em exigir que saia é o próprio PT, nada nos resta a não ser aguardar
a escalada e o desfecho deste episódio. Ao menos será uma forma (mais uma!) de
aferir o quanto os limites do constrangimento político tornaram-se elásticos
nos dias de hoje.
Não para por aí
Destoam também da praxe e do razoável, beirando o patético, a destituição do ministro Pepe Vargas da Secretaria de Relações Institucionais e o seu imediato remanejamento para a Secretaria de Direitos Humanos, em lugar de Ideli Salvati. Pepe Vargas foi removido do primeiro posto por não ter sido capaz de fazer uma articulação - missão precípua da pasta que ocupava - minimamente eficiente entre o Planalto e o Congresso.
Os
recorrentes confrontos entre Legislativo e Executivo desde o início deste
segundo mandato, com reiteradas derrotas do governo, comprovam a sua incompetência.
Um governo recém-eleito e já sem cacife político é uma proeza e tanto. Mas,
justiça seja feita, ele teve efetivas contribuições dos colegas e da própria presidente
na operação do desmonte.
O
curioso é que, mesmo com o atestado de ineficiência lavrado em público, Vargas recebeu outro cargo na Esplanada dos Ministérios. Se não
teve êxito na primeira missão, a nova nomeação só pode ser prêmio de consolação e um ensaio, em meio a
tentativas e erros, para ver se agora acerta.
A
República do compadrio transformou o Brasil num balão de ensaios - o que explica o desastre da política
econômica no primeiro mandato do atual governo. O mérito - o moral, inclusive -
perdeu relevância. Daí todo o pudor em se dizer a Vaccari o que está na ponta da
língua: saia!
Ideli
Salvati, que também foi titular das Relações Institucionais com desempenho
igualmente sofrível, não tem com o que se preocupar. O seu consolo está
reservado: assumirá a presidência dos Correios, conforme convite feito pela
presidente Dilma Rousseff esta semana.
A
articulação política do governo será agora comandada por quem conhece como
ninguém as vicissitudes do Congresso, as idiossincrasias dos parlamentares - e
não se trata aqui de nenhum elogio. O cargo será acumulado pelo vice-presidente
da República, Michel Temer. Homem do ramo.
Portanto,
depois de terceirizar a política econômica, escolhendo para titular da Fazenda
um formulador identificado com o pensamento liberal ortodoxo que sempre
criticou e desprezou (afinal, para continuar a farra do compadrio, a economia
tem que ser tratada com um mínimo de responsabilidade e voltar aos eixos), o governo
terceiriza também a condução política.
Impeachment
branco? Talvez. Mas o governo chegou a este ponto sozinho, pelas próprias
pernas, pelos próprios erros.
Por
Nilson Mello
Em
tempo
A
manifestação deste domingo 12 é um ato democrático, legítimo, de desaprovação a
um governo irresponsável e distanciado da verdade.
Em tempo II
O ex-ministro Tarso Genro está certo quando diz que o PT "tornou-se acessório" no governo. O excesso de protagonismo talvez esteja na origem do problema.
Em tempo III
A presidente Dilma Rousseff disse esta semana que a Petrobras "já limpou o que tinha que limpar". Do que se trata? Alienação? Desprezo pela inteligência do contribunte?
Em tempo II
O ex-ministro Tarso Genro está certo quando diz que o PT "tornou-se acessório" no governo. O excesso de protagonismo talvez esteja na origem do problema.
Em tempo III
A presidente Dilma Rousseff disse esta semana que a Petrobras "já limpou o que tinha que limpar". Do que se trata? Alienação? Desprezo pela inteligência do contribunte?
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