Comentário do Dia
Nossos custos, nossos rankings
No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012, o
Brasil figura em 85º lugar, entre 187 nações. No índice de desigualdade,
estamos ainda pior, doze posições atrás (97º), abaixo da média da América
Latina. Vejam só!
Enquanto nosso coeficiente Gini é de 0,561, o da Colômbia,
por exemplo, é de 0,519. O Gini é o indicador que leva o nome de seu criador, o
estatístico italiano Corrado Gini, e pelo qual 0 corresponde à igualdade
absoluta. O índice médio da AL é de 0,555.
Como não tem havido melhora significativa no combate à
desigualdade – ao contrário -, é justo questionar o impacto dos programas de
transferência de renda do governo.
Tais programas serviriam mais à prática da demagogia e
do assistencialismo, em troca de voto, do que a uma verdadeira política de
melhoria da renda e de desenvolvimento social?
Mudemos de índice, com a reflexão em aberto.
No PISA, o ranking que mede o desempenho escolar, o
Brasil está em 53º lugar entre 65 países. Investimos o suficiente e da forma
correta em Educação?
Passemos adiante. Bem adiante.
No ranking de eficiência portuária, elaborado pelo
Fórum Econômico Mundial, o Brasil, apesar de ser a 7ª economia do mundo pela
medida do PIB (Produto Interno Bruto), está na 135ª posição, entre 144 países.
O que significa que temos, no quesito eficiência portuária, de acordo com os
levantamentos do Fórum, um dos dez piores desempenhos. O que falta?
Investimentos.
No final do ano passado o governo baixou um pacote portuário,
anunciado com pompa e circunstância (como é de costume no marketing petista)
como o novo marco regulatório do setor, capaz de atrair R$ 54 bilhões em
investimentos na modernização e melhoria dos portos arrendados e privativos,
além da construção de novos terminais.
O propalado pacote foi baixado de forma autoritária,
por meio de uma Medida Provisória (a MP 595), e gerou tanta insatisfação que
mais de 600 emendas foram apresentadas – uma colcha de retalhos, repleta de
inconsistências conceituais e restrições legais aos empreendedores privados
que, caso venha a ser transformado em Lei pelo Congresso, não será capaz de
cumprir o seu papel.
Estruturamos uma legislação trabalhista protetora do
trabalhador, mas que é altamente contrária ao emprego pelos seus altos custos.
A tese pode ser de difícil defesa, num período como o atual, em que se
registram baixos índices de desemprego (pouco acima dos 5% da parcela da
população ativa).
Mas o fato é que o custo do trabalho para o empregador
variando entre 65% e 183%, de acordo com as estatísticas e com o segmento
pesquisado, é com certeza algo que está na contramão do dinamismo econômico
que, no discurso, se pretende dar ao Brasil. (Obs: A propósito dos custos do
trabalho no país, vale a leitura da matéria da repórter Lucianne Carneiro, no
jornal O Globo, desta terça-feira 30
de março, conforme link abaixo).
O que tudo isso tem a ver?
Bem, essas estatísticas são um retrato do modelo
econômico engendrado pelo governo na última década. Um modelo que estimula a
expansão do consumo, ao invés de criar condições para o aumento dos
investimentos. O Brasil investe menos de um terço de seu PIB (boa parte dele
por meio da iniciativa privado, já que o orçamento fica comprometido com os
gastos correntes), enquanto os países emergentes concorrentes chegam a investir
mais de 50% das riquezas que produzem.
Esse modelo que faz com que a população, sobretudo a
de baixa renda, tenha uma sensação (que é falsa e será necessariamente
passageira) de progresso, por ter tido facilitado o seu acesso (o que é justo)
aos bens de consumo. Contudo, os indicadores sociais e de educação, para quem os
quer enxergar, não deixam margem às falsas ilusões. Consumo, por si só, não é
desenvolvimento.
Detalhe macro: a inflação galopa na garupa da baixa
produtividade do modelo, porque é um reflexo da ineficiência que resulta
dos altos gastos e do reduzido investimento.
Parafraseando a velha propaganda da “Nossa Terra,
nossa gente”, eis aí os nossos custos e os nossos rankings. Sem qualquer
orgulho!
Por Nilson
Mello
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