A assombração de uma política
errática
No debate
sobre taxa de juros e inflação, a lucidez raramente prevaleceu no Brasil. E é
isso o que explica termos convivido por décadas com um regime de hiperinflação
que corroía a renda, desorganizava as empresas e inibia os investimentos,
comprometendo o crescimento.
Agora que os índices de
inflação estouraram o teto da meta e persistem há meses em patamares elevados, é
legítimo indagar se faltou lucidez ao governo e ao Banco Central quando
decidiram promover um processo de redução das taxas básicas de juro sem que
houvesse um ambiente fiscal equilibrado.
Não é possível abrandar a política
monetária quando se tem um quadro fiscal degradado - representado por excessos
de gastos públicos. Ou o que se pretendia mesmo era estimular a inflação?
A pergunta é meramente
retórica, pois certamente não era essa a ideia da equipe econômica e do Banco
Central, tanto que agora, em sua última reunião do dia 17, o Comitê de Política
Monetária (Copom) voltou a subir a taxa básica de juro (em 0,25%, para 7,5%), a
fim de combater a persistente e generalizada alta dos preços.
O que o governo e o BC conseguiram com sua
condução errática foi comprometer a credibilidade de suas ações, aumentando o
custo do próprio combate à inflação daqui para frente. Em outras palavras, a
volta dos preços a níveis mais comportados deverá levar mais tempo e exigir
maior esforço. Um quadro de incertezas no horizonte.
A desinformação, que é uma
faceta da falta de lucidez mencionada de início, conjugada a uma propaganda de má-fé, induz parte da sociedade a acreditar num equívoco: o de que os juros
são altos por obra de um conluio capitalista, para beneficiar banqueiros. O
sistema financeiro, de fato, se beneficia de juros elevados. Contudo, os fortes
gastos públicos são a verdadeira causa das altas taxas praticadas no Brasil.
São esses gastos excessivos que obrigam a autoridade monetária, se responsável,
a adotar uma política mais restritiva.
Juros altos são
indesejáveis, mas não podem ser vistos como causa do problema, ou o problema em
si. Este Blog abordou o assunto em diversos artigos nos últimos três anos (a pesquisa pode ser feita no quadro à
direita desta página), o último deles no dia 25 de janeiro.
O mais curioso e – por que
não dizer? – dramático é que o governo esforçou-se para ampliar o crédito e
baixar os juros, a despeito dos evidentes riscos inflacionários que a sua inconsistência
fiscal ensejava, com o objetivo de estimular os investimentos e o crescimento
econômico, mas o desempenho, como se viu, foi pífio, o pior entre os principais
países emergentes. Com a agravante de que, gora, tem que ter uma preocupação
ainda maior com a inflação, de volta como assombração à memória de todos.
O consumo se expandiu, mas a
economia patinou na ineficiência e o desenvolvimento não se sustentou. O que
faltou então para que os investimentos se concretizassem, impulsionando o
crescimento? Faltou uma política econômica mais clara e coerente, além de um
ambiente regulatório mais confiável, sem as incertezas jurídicas que continuam
a inibir o empreendedor. Em suma, faltou lucidez. E o que resta agora ao
governo é fazer a lição. Será capaz?
Por Nilson Mello
Comentário:
Comentário:
“Excelente sua
posição em relação à politica econômica, 'macaco em loja de louça', do nosso governo. Remendo de última hora é o
que vem sendo feito. Pior, agora são remendos como suporte de palanque
eleitoral.” - Luis Eduardo Simões Lopes - Engenheiro e Empresário
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