sexta-feira, 14 de outubro de 2011

COMENTÁRIOS DO DIA



PM longe da Justiça


     A proposta de se retirar os policiais militares da segurança do Fórum do Rio de Janeiro, substituindo-os por policiais civis, foi apresentada esta semana por um desembargador do Tribunal de Justiça.
A justificativa para a mudança está na participação de (11) policiais militares (incluindo um oficial superior, coronel comandante de um batalhão) na covarde execução da juíza Patrícia Acioli.
Se há grande número de facínoras na Polícia Militar, seus integrantes não podem fazer a guarda do Judiciário. Assim como não se pode ter “raposas tomando conta de galinheiros”, bandidos não podem vigiar bandidos, muito menos proteger aqueles que os processam e os punem.
Com as notícias cada vez mais freqüentes de PMs envolvidos em desvio e crimes escabrosos, desembargadores, juízes, promotores, defensores, advogados e as milhares de pessoas que transitam pelo Fórum da capital diariamente têm, portanto, motivos de sobra para querer vê-los longe da Justiça – literalmente, pois do ponto de vista da conduta já se afastaram há muito.
Trata-se simplesmente do seguinte: a Polícia Militar fluminense não inspira mais qualquer confiança. E o esforço hercúleo de uma minoria honesta dentro da corporação – como o atual comandante e o seu antecessor – na tentativa de reverter o quadro, só realça o grau de degradação a que se chegou.
A questão agora é saber como ficam todos os cidadãos fluminenses que desejam a proteção de uma polícia eficiente e honesta. Pois se a PM não serve para cuidar do Fórum, também não serve para policiar nossas ruas.


Juros e Inflação
Raul Velloso
                                  
     “No momento, mesmo havendo queda aguda na demanda externa nesta segunda rodada da crise, as taxas de juros só podem cair de forma expressiva e sustentada se, da mesma forma, o modelo de gastos correntes mudar. Caso contrário, o desequilíbrio entre demanda e oferta de não comercializáveis volta rapidamente a aparecer, e o BC, mantida a política de metas de inflação, voltará a subir a Selic (taxa básica de juro), frustrando a todos.”
     O trecho entre aspas acima é a conclusão de um artigo do economista Raul Velloso publicado esta semana na imprensa. Ele salienta que a explicação para que os juros sejam tão altos no Brasil está no fato de o setor público ter se tornado um sugador de recursos do setor privado.
Enquanto a política fiscal for frouxa, com excesso de gastos correntes e pouca poupança (essa, pressuposto para os investimentos que garantiriam ganhos de produtividade e contribuiriam para conter a pressão de demanda sobre os preços), os juros jamais poderão cair significativamente. A menos que se abra mão do regime de metas, ou seja, desista-se de ter a inflação sob controle.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, garante que o regime de metas de inflação não foi abandonado.


O engodo de Amir Kahir

Já o consultor e mestre em Finanças Públicas Amir Kahir – também em artigo esta semana – garante que a crença na Selic (taxa básica de juro) como um instrumento eficaz no controle da inflação é um “engodo”. Ele comemora o fato de o governo (via Banco Central) agora ter se livrado dessa amarra. E afirma: “O Brasil engoliu esse engodo (da Selic no combate à inflação) por 20 anos. Bem-vinda a mudança!”
Se julgarmos que o presidente do BC, Alexandre Tombini, está de fato dizendo a verdade – que não abandonará o regime de metas, para o qual a política monetária, via administração da taxa de juro, é indispensável -, Amir Kahir interpretou mal sua fala.
Em todo caso, na contramão do que prega o consultor, é bom lembrar que a taxa básica de juro dosa a oferta de recursos financeiros para o mercado. Quanto mais recursos estiverem disponíveis, ou seja, quanto mais baixa for a taxa básica de juro (administrada pela autoridade monetária, o BC), mais recursos estarão disponíveis no mercado, pois os agentes econômicos (empresas, indivíduos...) pagarão menos por eles.
Por óbvio, a oferta maior de recursos financeiros “aquece” a economia, faz com que as pessoas e as empresas gastem mais. Se esse aumento de demanda, resultante do “aquecimento”, não for acompanhado do aumento da produção, o resultado será a alta dos preços de produtos e serviços.
Um detalhe importante: quando o próprio setor público exerce grande demanda sobre os recursos financeiros – por conta de excesso de gastos correntes -, naturalmente os juros sobem. Sem política fiscal responsável, não há política monetária branda. Ou há, mas acompanhada de inflação.
Antes de apregoar juros mais baixos, o governo deve fazer o dever de casa. Foi o que Raul Velloso quis dizer quando mencionou o “sugador de recursos do setor privado”.  

Em todo caso...

     A economia brasileira já dá sinais de desaquecimento. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,53% em agosto em relação a julho, informam os jornais desta sexta-feira 14 de outubro. Se também forem considerados os resultados de junho e julho, a média acumulada nos três meses é negativa em 0,19%. São dados que estimulam o BC a abrandar a política monetária. Mas mesmo assim há dúvidas se a desaceleração será suficiente para conter a inflação, que ainda dá claros sinais de vigor.
     O ministro da Fazenda, Guido Mantega, garante que essa “desaceleração” foi programada, e que o país voltará a crescer assim que a equipe econômica quiser.
     Sem inflação. A conferir.

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