terça-feira, 21 de junho de 2011

COMENTÁRIO DO DIA

As ideias de FHC

Os parágrafos seguintes trazem uma livre interpretação das ideias expostas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista aos jornalistas Helena Celestino, Luiz Antonio Novaes, Silvia Amorim e Silvia Fonseca, publicada no jornal O Globo deste sábado (18/06).
O Brasil real, que está no noticiário, nas conversas nos bares e circula na Internet, não é tema do Congresso Nacional. E essa é uma das razões que explicam a falta de credibilidade do Legislativo. Todas as pesquisas de opinião, hoje, apontam para o descrédito do Congresso que perdeu ressonância.
O Estado – no Brasil e em qualquer parte do mundo – tem e terá cada vez mais um papel de relevo. Há coisas que a iniciativa privada não faz e que, por questões estratégicas ou por dever, caberá ao Estado fazer.
Mas isso não significa acreditar na supremacia do mercado. O Estado deve estar acima do mercado. Mas se o papel do Estado for distorcido, por conta de um aparelhamento partidário (como o engendrado pelo PT nos oito anos do governo Lula), o que acabará prevalecendo será o mercado em sua versão mais cruel, ou seja, expresso em ações que privilegiam determinados grupos empresariais em detrimento da coletividade.
Esse Estado é um Estado corporativista e patrimonialista, que não fortalece a cidadania e a busca da igualdade.
A propósito da igualdade, devemos ter em mente a estruturação de uma sociedade igualitária. Mas uma sociedade igualitária não deve ser um fim acima de todos. Ela não deve se justificar como um fim em si. Cuba e Coréia do Norte são sociedades igualitárias. Nem por isso são sociedades justas. Muito menos prósperas.
Um Estado forte precisa antes de qualquer coisa de legitimidade. Com a legitimidade busca-se estratégia. Um país para se desenvolver precisa de estratégia. E isso difere da idéia de estabelecer um projeto para o país.
 Quando se fala em projeto, resvala-se para o totalitarismo. Assume-se a ideia de que o voto dá a quem tem o mandato o direito de estabelecer diretrizes sem discussão com a sociedade. É um equívoco. A democracia implica uma sociedade convergente, em que ideias possam convergir. Para tanto, é preciso diálogo e discussão. É preciso liberdade de pensar e de expressão.
Um partido não pode ter a pretensão de tomar conta do Estado e achar que com isso mudará a sociedade. Não se alcança uma sociedade justa com totalitarismo. Partido se apoderando do Estado, da máquina pública, é um método totalitário, inerente às ditaduras. O Estado para ser justo e democrático deve estar acima dos partidos. E deve estar a serviço da sociedade, que justifica a sua existência.
O Brasil melhorou muito nos últimos 80 anos. E melhorou muito nas ultimas décadas. Mesmo no setor público houve evolução. Hoje uma estatal bem ou mal atua como uma empresa, dentro de regras de mercado. Já não é mais uma repartição pública ineficiente. Já houve uma grande evolução, mas é preciso não retroceder reintroduzindo práticas patrimonialistas.
No pensamento político brasileiro ainda predomina o preconceito de que o setor privado é um inimigo da sociedade. Mas não se gera desenvolvimento sem empresa privada.
Ainda há muito a fazer. O país saiu de uma era de escassez de serviços para um período de serviços de má qualidade. Há acesso à educação, à saúde, à segurança, mas a qualidade desses serviços ainda não é o que uma sociedade justa e democrática almeja para os seus cidadãos. Para superar esses obstáculos, é preciso estratégia.
Não podemos achar que PIB forte por si só resolverá nossos problemas. PIB é um pressuposto para gerar desenvolvimento – também um indicador do dinamismo da economia.
Entre as contradições do PT podemos apontar a incoerência da legenda em relação à CLT e a estrutura sindical de caráter fascista herdada da Era Vargas. Na Constituinte, o partido era contra a CLT, era libertário. Hoje o PT apóia um sindicalismo burocrático e distante dos verdadeiros interesses do trabalhador.
De volta ao Estado forte, o que adianta ter uma economia em crescimento se não há melhora visível na infraestrutura? O que essa economia, fortalecida pelo Estado, está fazendo pelo desenvolvimento sustentável do país?


Por Nilson Mello

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