segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Artigo

Os radares e a "manada"


    As multas de trânsito são um bom exemplo da perversão estatal brasileira. Uma tara sem paralelos. Todos os serviços que cabem ao Estado no Brasil funcionam mal, à exceção da parafernália eletrônica montada nas ruas e nas estradas para multar motoristas.
    Rodovias de má qualidade, pavimentação precária, iluminação e sinalização deficientes, nenhuma segurança. No trânsito, em tudo o Estado falha, menos quando se trata de aplicar multas. Só aí o "Big Brother" se esmera, revelando súbita e surpreendente eficiência.
    Se Orwell foi profético num sentido inverso ao de Kant, Hobbes com certeza ficaria espantado com o sadismo do "Leviatã" tupiniquim. Não era isso que tinha em mente quando teorizou sobre o "Contrato Social" que poria fim ao homo homini lupus.
    Ilusão. Tornamo-nos ovelhinhas à mercê de um lobo voraz. Caberia à "máquina estatal" nos servir. Mas o papel inverteu-se e é ela que se serve de nós todos, sem resistência. 
    Não, não se iluda. Estes sofisticados sistemas  de radar que ardilosamente tomaram conta de nossas cidades e estradas não estão aí para nos proteger, para reduzir os acidentes no trânsito, para prevenir desastres mais graves.
    Esse blá blá blá é apenas o discurso oficial, a justificativa politicamente correta na qual o "Leviatã" - um cínico! - se escora para implantá-los. Pois, se o intuito fosse de fato cuidar dos interesses dos cidadãos, nossas estradas e ruas - assim como nossos hospitais e escolas - estariam em perfeito estado de conservação.
    A verdadeira razão de ser da parafernália eletrônica é a sanha arrecadadora de um Estado perverso (pervertido, podemos mesmo dizer!). Um Estado que se deleita em tratar o contribuinte como súdito, seviciando-o. E cuja eficiência só se revela quando surge a oportunidade de lhe impingir novas obrigações. Nisso, é imbatível. Uma crueldade.
    Poucos se indignam. Como povo, estamos nos acostumando a agir bovinamente. Uma manada. "Muuuuuuh!". Acho que foi o que Mena Barreto quis dizer quando afirmou que, no Brasil, não há eleitores, apenas plateia.

Por Nilson Mello


Nenhum comentário:

Postar um comentário