O silogismo do patrimonialismo
As
autoridades públicas brasileiras viajam de aviãozinho particular porque nossas
estradas são mal conservadas e inseguras. Nossas estradas são mal conservadas e
inseguras porque nossas autoridades viajam de aviãozinho particular.
Os
aviõezinhos invariavelmente pertencem a empreiteiras que deveriam nos entregar
estradas bem conservadas e seguras, em função das licitações de que participam.
Nos cerca
de 300 km do Rio de Janeiro a Paraty pela BR 101 (Rio - Santos) há 53 radares
de velocidade (contabilizado pela associação hoteleira da região), com
velocidades que variam entre 30, 40, 50, 60, 80, 90km, sem que um critério
razoável para esses limites discrepantes possa ser compreendido.
Não se tem
notícia de qual é o número de multas diárias aplicadas nem do montante
arrecadado com elas (que, pelo movimento intenso da rodovia, deve ser
estratosférico). Também não se sabe o que é feito com esta significativa
receita. Não se divulga, e ninguém pergunta.
O que se
sabe, embora a imprensa não se preocupe em noticiar, é que a BR 101 está em
péssimas condições. E ultrapassada, congestionada, abandonada à própria sorte.
Por isso,
o contribuinte e simples mortal que não conta com aviãozinho do empreiteiro
amigo, encara seis ou sete horas de viagem num trajeto que normalmente seria de três horas. A maioria nem se indigna, acostumada que está com o Brasil.
Patrimonialismo
é a invasão do público pelo privado. O ex-governador Sérgio Cabral, que tem
casa em Mangaratiba, às margens da Rio-Santos, antes de ser preso, se deslocava
para lá de helicóptero. Do governo do Estado. É possível que melhorem as
condições dos presídios antes de melhorarem as das rodovias federais.
Por
Nilson Mello
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