Crueldade
De todas as fantasias proferidas no plenário do Senado desta segunda-feira, durante o julgamento da presidente afastada, a mais cruel foi a que justificou o rombo fiscal como necessário para garantir a manutenção de programas sociais.
Ora, foi justamente a má gestão da economia
que colocou em risco a manutenção desses programas (por sinal, indispensáveis
num país desigual como o Brasil).
A segunda pior potoca (ou falácia) decorre
da primeira. Ela tenta fazer incautos acreditarem que quem é crítico do governo
Dilma está contra os pobres. Este foi o pano de fundo da "defesa" ao
longo da segunda-feira no Senado.
Vale lembrar que quem mais perdeu com o
desgoverno Dilma foram as camadas menos favorecidas da população. A renda média
despencou nos últimos anos, por conta da recessão, da inflação e do desemprego.
A propósito, o povo foi às ruas contra o impeachment?
Releitura
Pelo que se ouviu da presidente afastada
durante a sua fala no Senado, pode-se dizer que ela reconhece, implicitamente,
que o seu governo foi realmente abaixo da crítica.
Mas, pela sua retórica, a culpa não foi sua,
e sim do preço do petróleo; da redução de demanda por parte da China; da consequente queda das
commodities agrícolas e minerais; do Banco Central americano, que
"irrigou" a sua economia; do clima no Brasil, que não trouxe chuvas
no volume desejado; da oposição, que criou uma pauta-bomba no Congresso; da
mídia, que noticiou esta pauta-bomba... Em suma, tem-se a impressão que todos, incluindo a
natureza, conspiraram contra o seu governo, menos a sua própria inaptidão para
governar.
Simplificação
Raciocínio simplista que circula pelas redes
- e é atribuído à atriz Patrícia Pilar - alerta que, com o afastamento de
Dilma, "a direita corrupta" tomará conta do país. Bem, se for
verdade, torçamos para que seja menos voraz do que a "esquerda
corrupta", que está prestes a deixar o Poder.
O que chama a atenção é que pessoas que hoje
se indignam e se alarmam permaneceram em silêncio nos últimos anos, enquanto
verdadeiro assalto aos cofres públicos e às estatais foi perpetrado pelo
partido que se apropriou da máquina administrativa (como bem prova a Operação
Lava Jato).
De qualquer forma, que Polícia Federal,
Ministério Público, Judiciário e mídia (enfim, todas essas instituições tão
criticadas pelos indignados do momento) redobrem a atenção. Terão o apoio da
sociedade.
Legitimidade
Não custa lembrar mais uma vez. Ao contrário do que a defesa e os
partidários da presidente afastada alegam, o impeachment prova que a democracia
brasileira está consolidada. E que suas instituições, Judiciário e Congresso à
frente, sairão ainda mais fortalecidas do processo.
Por Nilson Mello
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