Para Charles Darwin
Não
se veem manifestações do tipo "Volta, Dilma". O que se tem, nas ruas
e na Internet, é o "Fora Temer".
Como
se o advento de um não tivesse sido consequência da ascensão ao poder da outra.
E em duplo sentido.
Primeiro,
porque foram eleitos na mesma chapa, pelos mesmos eleitores (petistas ou não).
Segundo, porque o desgoverno dela, ensejou o governo interino (e prestes a se
tornar efetivo) dele.
Mas,
de qualquer forma, o "Fora, Temer" não deixa de ser uma evolução, na melhor
acepção darwiniana do termo.
Ainda
que tenha muito de uma implicância infantil nesta contestação: "se ela não
pode brincar, ele também não". E batendo o pezinho, como menininhas no
intervalo da creche.
E
por falar em evolução, é também sintomático constatar que a maioria daqueles
que hoje são contra o processo de impeachment não se considera mais petista.
Sintomático e simbólico. Aonde foram os petistas?
Mas
esta é para Freud, não para Darwin.
As camadas média urbanas
Na verdade, quem afastou Dilma não foi a mídia
"elitista". Quem criou as condições para o afastamento e abriu espaço
para o processo de impeachment foram as camadas médias urbanas, desapontadas
com o desgoverno e os crescentes escândalos de corrupção.
As jornadas de junho de 2013 estão na gênse
do processo. A mídia apenas deu ressonância à insatisfação da maioria da
população. Mídia não elege e nem derruba presidente. Até porque apenas 5% da
população leem jornais, e são os grandes jornais, muito mais do que a TV, que fazem
a crítica qualificada e contundente.
Se Mídia elegesse,
derrubasse e mantivesse presidentes, Lula e Dilma possivelmente não teriam sido
eleitos; Collor talvez nao tivesse caído. Dilma criou o seu impeachment ao
conduzir a economia para um abismo. Lembre-se que Lula permaneceu imune, mesmo
após o Mensalão, graças a uma condução econômica mais realista e responsável.
Fazendo tudo errado
na economia, e de mal com a política, a presidente ora afastada deixou o
caminho livre para o encaixe de seus desacertos na leta da Lei. Deu substância
ao crime de responsabilidade, pelas fraudes fiscais, potencializadas pela
insatisfação geral. Os desarranjos econômicos e políticos serviram de pavio.
Judiciário,
Ministério Público, Tribunal de Contas, Congresso e mídia não operariam o
"golpe legal", com licença da contradição em termos, se não houvesse
amplo apoio da sociedade. Onde estão as manifestações de rua pelo "volta,
Dilma"? As ruas, hoje, estão calmas, em contraste com o que ocorria com
Dilma na Presidência.
Por Nilson Mello
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