terça-feira, 30 de abril de 2013


Comentário do Dia

Nossos custos, nossos rankings  

No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012, o Brasil figura em 85º lugar, entre 187 nações. No índice de desigualdade, estamos ainda pior, doze posições atrás (97º), abaixo da média da América Latina. Vejam só!

Enquanto nosso coeficiente Gini é de 0,561, o da Colômbia, por exemplo, é de 0,519. O Gini é o indicador que leva o nome de seu criador, o estatístico italiano Corrado Gini, e pelo qual 0 corresponde à igualdade absoluta. O índice médio da AL é de 0,555.

Como não tem havido melhora significativa no combate à desigualdade – ao contrário -, é justo questionar o impacto dos programas de transferência de renda do governo.  

Tais programas serviriam mais à prática da demagogia e do assistencialismo, em troca de voto, do que a uma verdadeira política de melhoria da renda e de desenvolvimento social?

Mudemos de índice, com a reflexão em aberto.

No PISA, o ranking que mede o desempenho escolar, o Brasil está em 53º lugar entre 65 países. Investimos o suficiente e da forma correta em Educação?

Passemos adiante. Bem adiante.

No ranking de eficiência portuária, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil, apesar de ser a 7ª economia do mundo pela medida do PIB (Produto Interno Bruto), está na 135ª posição, entre 144 países. O que significa que temos, no quesito eficiência portuária, de acordo com os levantamentos do Fórum, um dos dez piores desempenhos. O que falta? Investimentos.

No final do ano passado o governo baixou um pacote portuário, anunciado com pompa e circunstância (como é de costume no marketing petista) como o novo marco regulatório do setor, capaz de atrair R$ 54 bilhões em investimentos na modernização e melhoria dos portos arrendados e privativos, além da construção de novos terminais.

O propalado pacote foi baixado de forma autoritária, por meio de uma Medida Provisória (a MP 595), e gerou tanta insatisfação que mais de 600 emendas foram apresentadas – uma colcha de retalhos, repleta de inconsistências conceituais e restrições legais aos empreendedores privados que, caso venha a ser transformado em Lei pelo Congresso, não será capaz de cumprir o seu papel.


Estruturamos uma legislação trabalhista protetora do trabalhador, mas que é altamente contrária ao emprego pelos seus altos custos. A tese pode ser de difícil defesa, num período como o atual, em que se registram baixos índices de desemprego (pouco acima dos 5% da parcela da população ativa).

Mas o fato é que o custo do trabalho para o empregador variando entre 65% e 183%, de acordo com as estatísticas e com o segmento pesquisado, é com certeza algo que está na contramão do dinamismo econômico que, no discurso, se pretende dar ao Brasil. (Obs: A propósito dos custos do trabalho no país, vale a leitura da matéria da repórter Lucianne Carneiro, no jornal O Globo, desta terça-feira 30 de março, conforme link abaixo).

O que tudo isso tem a ver?

Bem, essas estatísticas são um retrato do modelo econômico engendrado pelo governo na última década. Um modelo que estimula a expansão do consumo, ao invés de criar condições para o aumento dos investimentos. O Brasil investe menos de um terço de seu PIB (boa parte dele por meio da iniciativa privado, já que o orçamento fica comprometido com os gastos correntes), enquanto os países emergentes concorrentes chegam a investir mais de 50% das riquezas que produzem.

Esse modelo que faz com que a população, sobretudo a de baixa renda, tenha uma sensação (que é falsa e será necessariamente passageira) de progresso, por ter tido facilitado o seu acesso (o que é justo) aos bens de consumo. Contudo, os indicadores sociais e de educação, para quem os quer enxergar, não deixam margem às falsas ilusões. Consumo, por si só, não é desenvolvimento.

Detalhe macro: a inflação galopa na garupa da baixa produtividade do modelo, porque é um reflexo da ineficiência que resulta dos altos gastos e do reduzido investimento.

Parafraseando a velha propaganda da “Nossa Terra, nossa gente”, eis aí os nossos custos e os nossos rankings. Sem qualquer orgulho!


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Comentário do Dia

      
    Em linha com o que foi publicado neste Blog na semana passada, sobre a fantasmagórica “política da inflação”, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola lembra, em artigo neste domingo em O Estado de S. Paulo (texto no link abaixo), que “não é comprometendo a responsabilidade fiscal e a autonomia do Banco Central que se eleva o potencial de crescimento”.
    Loyola ressalta que a política de dispêndios e desonerações adotada pelo governo produziu aumento de consumo, mas não foi capaz de gerar crescimento porque a Economia brasileira continua pouco produtiva e ineficiente. A produtividade, como sabemos, viria dos investimentos, sobretudo em infra-estrutura.
    “A insistência no expansionismo fiscal e monetário apenas agrava o processo inflacionário”, ensina Loyola. Será que os diretores do BC, o ministro da Fazenda e a presidente da República leram?
Vale conferir:

quinta-feira, 25 de abril de 2013


A assombração de uma política errática

    No debate sobre taxa de juros e inflação, a lucidez raramente prevaleceu no Brasil. E é isso o que explica termos convivido por décadas com um regime de hiperinflação que corroía a renda, desorganizava as empresas e inibia os investimentos, comprometendo o crescimento.

Agora que os índices de inflação estouraram o teto da meta e persistem há meses em patamares elevados, é legítimo indagar se faltou lucidez ao governo e ao Banco Central quando decidiram promover um processo de redução das taxas básicas de juro sem que houvesse um ambiente fiscal equilibrado.

Não é possível abrandar a política monetária quando se tem um quadro fiscal degradado - representado por excessos de gastos públicos. Ou o que se pretendia mesmo era estimular a inflação?

A pergunta é meramente retórica, pois certamente não era essa a ideia da equipe econômica e do Banco Central, tanto que agora, em sua última reunião do dia 17, o Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a subir a taxa básica de juro (em 0,25%, para 7,5%), a fim de combater a persistente e generalizada alta dos preços.

 O que o governo e o BC conseguiram com sua condução errática foi comprometer a credibilidade de suas ações, aumentando o custo do próprio combate à inflação daqui para frente. Em outras palavras, a volta dos preços a níveis mais comportados deverá levar mais tempo e exigir maior esforço. Um quadro de incertezas no horizonte.

A desinformação, que é uma faceta da falta de lucidez mencionada de início, conjugada a uma propaganda de má-fé, induz parte da sociedade a acreditar num equívoco: o de que os juros são altos por obra de um conluio capitalista, para beneficiar banqueiros. O sistema financeiro, de fato, se beneficia de juros elevados. Contudo, os fortes gastos públicos são a verdadeira causa das altas taxas praticadas no Brasil. São esses gastos excessivos que obrigam a autoridade monetária, se responsável, a adotar uma política mais restritiva.

Juros altos são indesejáveis, mas não podem ser vistos como causa do problema, ou o problema em si. Este Blog abordou o assunto em diversos artigos nos últimos três anos (a pesquisa pode ser feita no quadro à direita desta página), o último deles no dia 25 de janeiro.

O mais curioso e – por que não dizer? – dramático é que o governo esforçou-se para ampliar o crédito e baixar os juros, a despeito dos evidentes riscos inflacionários que a sua inconsistência fiscal ensejava, com o objetivo de estimular os investimentos e o crescimento econômico, mas o desempenho, como se viu, foi pífio, o pior entre os principais países emergentes. Com a agravante de que, gora, tem que ter uma preocupação ainda maior com a inflação, de volta como assombração à memória de todos.

O consumo se expandiu, mas a economia patinou na ineficiência e o desenvolvimento não se sustentou. O que faltou então para que os investimentos se concretizassem, impulsionando o crescimento? Faltou uma política econômica mais clara e coerente, além de um ambiente regulatório mais confiável, sem as incertezas jurídicas que continuam a inibir o empreendedor. Em suma, faltou lucidez. E o que resta agora ao governo é fazer a lição. Será capaz?

    Por Nilson Mello


Comentário:


Excelente sua posição em relação à politica econômica, 'macaco em loja de louça', do nosso governo. Remendo de última hora é o que vem sendo feito. Pior, agora são remendos como suporte de palanque eleitoral. - Luis Eduardo Simões Lopes - Engenheiro e Empresário