quarta-feira, 18 de julho de 2012

Comentário do Dia





   O acidente da TAM – “A marcha da insensatez - de Tróia ao Vietnã”, de Barbara Tuchman, é considerada uma obra de referência em História. Nela, a autora americana (1912-1989) analisa a causa dos desatinos de governos e governantes.
Por que governantes rumam contra a razão, ignorando evidências, e tomam decisões desastrosas de resultados trágicos - como os que decorreram dos eventos referidos no subtítulo - é o que interessava a Tuchman esmiuçar.
O livro e, sobretudo, seu impactante título sobrevieram esta semana em que o Brasil relembrou a passagem dos cinco anos do desastre do vôo JJ 3054 da TAM, no Aeroporto de Congonhas.
Cento e noventa e nove pessoas perderam suas vidas, mas as lições não foram refeitas. Como em todo acidente aéreo, panes técnicas e falhas humanas, representadas por negligência, imprudência ou imperícia, atuaram de forma concorrente para o desfecho macabro.
Mas a série de falhas pontuais do acidente em questão teria efeito limitado, se a sensatez prevalecesse entre nossos governantes e planejadores.
Congonhas, fincado no coração da maior metrópole brasileira, e hoje cercado por área urbana densamente povoada, há muito deveria ter sido desativado como aeroporto comercial.
Com pistas sem áreas de escape em suas cabeceiras, circundadas por avenidas de grande movimento e prédios comerciais e residenciais, na melhor das hipóteses poderia operar como um aeroporto para vôos executivos, com aeronaves de pequeno porte.
Assim mesmo, isso já seria um arroubo de insensatez, comparável a permitir que um suspeitíssimo cavalo de madeira, enviado pelos inimigos, ingressasse na muralha fortificada. Os troianos logo perceberam a estupidez, mas era tarde demais para corrigir o erro. Pagaram com suas vidas e a liberdade.
No Brasil, os governantes continuam de olhos fechados à razão. Não é preciso ser especialista para se chegar à óbvia conclusão. Outro terminal já deveria ter sido construído e estar operando em área distante do centro de São Paulo. Mas Congonhas não apenas é mantido como aeroporto comercial, como foi sendo transformando no principal hub aeroportuário do país, concentrando conexões de Norte a Sul.
Pelo diagnóstico de Barbara Tuchman, as decisões insensatas, como a dos troianos ao aceitar um presente dos gregos ou a dos americanos ao insistir na Guerra do Vietnã, são frutos da cobiça, dos vícios políticos e da covardia moral.
Os familiares das 199 vítimas do vôo JJ 3054 sabem bem o significado desses “atributos” no Brasil. Podemos acrescentar a eles o descaso e a renitente omissão.

Por Nilson Mello

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