terça-feira, 30 de agosto de 2011

COMENTÁRIOS DO DIA

Mudança tardia, mas bem-vinda





Taxa de juros elevada é mais conseqüência do que causa. É “remédio” (ainda que amargo), não “doença”. O Brasil tem mantido uma política monetária restritiva, com taxa de juros elevada, devido a dois fatores paradoxais: compromisso com o combate à inflação – objetivo louvável e hoje quase consensual – associado a uma política fiscal frouxa, representada pelos excessos de gastos públicos, em especial pelas volumosas e ineficientes despesas correntes.
Este Blog, em diferentes postagens ao longo do ano, bateu na tecla: se a política fiscal fosse mais austera, ou, na pior das hipóteses, mais responsável, a política monetária (juros) poderia ser abrandada sem colocar definitivamente em risco o controle inflacionário.
Não é exagero. O centro da meta de inflação, que era de 4,5% ao ano, já está sendo encarado informalmente como piso inflacionário. Nos últimos 12 meses a inflação acumulada bate em 6,87% (o gráfico acima projeta 7,10 ao término deste m6es de agosto). A pressão sobre os preços é visível em restaurantes e supermercados, e ela resulta do aumento do consumo sem o correspondente avanço em produtividade.
Não custa lembrar que produtividade implica aumento de investimentos, mas esses, como sabemos, são insuficientes no país, justamente devido aos excessos de gastos governamentais, que drenam os recursos públicos, além de impedir que o setor financeiro coloque à disposição das empresas mais dinheiro, a custos mais baixos.
Em suma, se não fosse a austeridade monetária – colocada em prática a despeito da posição por vezes ambígua da atual direção do Banco Central – os temores quanto à inflação seriam maiores.
Agora, contudo, o governo parece ter chegado à mesma conclusão, e anuncia (jornais desta terça-feira 30) um esforço mais robusto para contenção de gastos, com superávit adicional de R$ 10 bilhões até o fim do ano – o que gerará R$ 127,9 bilhões para pagamento de juros.
Nas palavras do ministro da Fazenda, se as despesas forem reduzidas, o Banco Central poderá paulatinamente baixar os juros, abrindo espaço para um crescimento mais sustentável sem comprometimento da estabilidade econômica.
Conclusão tardia, que expõe método errático. Mas antes tarde do que nunca.

Por Nilson Mello

Bonde de especialistas







Transporte público no Rio de Janeiro é assunto de especialistas. Quem não é engenheiro de Transporte, ou coisa que equivalha, não pode dar palpite. Os especialistas logo o desqualificarão.
O bonde que descarrilou este fim de semana em Santa Teresa, matando cinco pessoas e ferindo 57, parecia ser velho e mal conservado. Opinião de leigo.
As autoridades dizem que, a princípio, está tudo bem com os bondinhos, um dos mais charmosos cartões postais da cidade, a despeito do visível abandono, objeto de reiteradas reclamações dos usuários.
Quanto ao acidente, as autoridades prometem “uma investigação rigorosa” – declaração que deixa mais dúvidas do que certezas.
Não têm sido raros os acidentes com os bondinhos de Santa Teresa – acidentes com mortes de turistas e moradores do bairro. De cara as autoridades já elegeram um culpado: o motorneiro (condutor). Cinismo?
De acordo com o secretário estadual de Transportes, o motorneiro deveria ter levado o bonde para a oficina no sábado, após o veículo ter se envolvido numa pequena colisão antes do acidente maior, horas depois.
A conclusão a que um leigo chega é que o motorneiro – ele próprio vítima do acidente – apenas seguiu a cultura adotada na empresa estatal (Central) que administra o bondinho.
Postergou a manutenção e eventuais reparos – exatamente como faz a Central e a Secretaria de Estado de Transportes, a qual a estatal está subordinada.
Senão vejamos: os jornais cariocas apuraram que o governo estadual aplicou, entre 2007 e 2008, apenas 7% do previsto no programa de “modernização, revitalização e integração” dos bondes, de acordo com dados do Siafem – Sistema de Acompanhamento Financeiro do Estado. O governo também reduziu em 14% os recursos destinados à manutenção das atividades da estatal central.
Para onde foram os recursos? Para melhorias no Metrô? Melhorias na malha ferroviária? Mas o Metrô funciona cada vez de forma mais precária, parando nos túneis antes das estações, devido aos congestionamentos. Quanto aos trens, os acidentes ferroviários também têm sido freqüentes, sem notícia de aumento significativo do número de passageiros (muito menor hoje do que há duas décadas).
Então, com a palavra os especialistas.

PS:
O secretário estaudal de Transportes, Julio Lopes, postou a seguinte mensagem nas redes sociais, para se defender das notícias publicadas na imprensa sobre o erro atribuído ao motorneiro:
“Esclareço que em nenhum momento da entrevista coletiva realizada ontem, atribui a culpa do acidente ocorrido a qualquer pessoa. Pelo contrário, afirmei que as causas do acidente somente serão determinadas pelas autoridades competentes. Na ocasião, foi ressaltada a experiência do motorneiro Sr. Nelson, que tinha 35 anos de atuação nos bondes. A Secretaria está colaborando com as investigações, e nos limitamos a apresentar os registros de manutenção e da operação que serão examinados”.

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