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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Artigo da semana

 
                                                                                                                                                                                      
 
 Prova do acinte: C-99 da FAB
The game is over!
A pergunta que não quer calar é: se os deputados e senadores dispõem, em seus gabinetes, de verba para passagem aérea, paga com dinheiro do contribuinte, por que é permitido o uso de aviões da FAB nas (supostas) viagens a trabalho?
    Ainda que seja, de fato, para trabalhar, o expediente não se justifica. A não ser que o parlamentar, ou ministro, secretário, governador ou o que seja esteja em missão de Estado, de urgência inquestionável. Não tem sido a regra.
    Quem vai aferir isso? Bem, na Constituição Federal encontram previsão, entre outros, os princípios da razoabilidade e da moralidade no serviço público.
Por sinal, militar não é obrigado a cumprir ordem, se a ordem for ilegal ou inconstitucional. Sobretudo se, além de ilegal e inconstitucional, a ordem for imoral, como denota o caso em tela.
     A farrinha promovida por Henrique Alves, que colocou a namorada e a família num C-99 (versão militar do jato de transporte Embraer  145), da FAB, para ir ao Rio, assistir à final da Copa das Confederações, revela que a classe política brasileira ainda não entendeu a mensagem das ruas. O presidente do Senado, Renan Calheiros, fez algo parecido.
    Pegos na botija, se comprometeram a reembolsar o erário. A conferir. O forçado arrependimento e a providência reparadora seriam o mínimo a se esperar, mas mesmo assim não ficou bem. É insuficiente.
Fazer algo errado, ciente do erro, para depois pedir desculpas e remediar os eventuais danos, caso descoberto, é de um cinismo pueril. Coisa de João-sem-braço: “se colar, colou”.
O episódio é também prova de que a crença na impunidade continua em alta em nosso Congresso, a ponto de valer o risco do flagrante – certamente porque a punição ainda é por de mais branda.
   Ficou no ar a forte suspeita de que Renan Calheiros, Henrique Alves e seus colegas de Congresso, e demais funcionários do alto escalão do Eixo Monumental e seus congêneres nas esferas estaduais e municipais, usam e abusam dos aviões da FAB, sem serem notados.
E é claro que, nesta altura do campeonato, todos nós brasileiros, já sabemos que os jatinhos executivos da Força Aérea não são a única regalia indevida paga com nosso dinheiro.
    Não é de surpreender, portanto, que, apesar da alta carga tributária que suportamos – algo equivalente a 37% do PIB - ainda não conseguimos ter saúde, educação, transportes, segurança e infraestrutura de qualidade. 
    O Estado, não apenas é um mau gestor, como emprega parte de seus recursos para atender aos interesses privados da elite política. Às horas de voo dos jatos oficiais, somam-se uma série de mordomias que nem chegam ao nosso conhecimento.              
    Se os “nossos” congressistas entenderam o recado dos manifestantes neste último mês, o caso ainda é mais grave. E, pelo acinte, mereceriam que adotássemos, no Brasil, o slogan usado pelo povo na Praça Tahrir, no Cairo. Renan e Henrique Alves, The game is over. Out!
Mas, como nossas instituições são mais fortes do que as do Egito, assim como a nossa tradição democrática, aguardemos o recado das urnas. Porém, sem deixar de continuar a levar nossa indignação às ruas.
Hoje ao menos já temos a esperança de que, dependendo da magnitude do descalabro, a ação firme do Judiciário, com base em provas irrefutáveis e no estrito limite da Lei, pode mandar os autores dos malfeitos para o mesmo destino do deputado Natan Donadan: o Presídio da Papuda.
 Por Nilson Mello
 
 
 
 

terça-feira, 3 de abril de 2012

COMENTÁRIO DO DIA


A lancha patrulha da
pesca custa uma fortuna,
mas não é de ouro

 

Um falso moralismo - Não deveríamos mais nos surpreender com denúncias de corrupção envolvendo parlamentares, ministros e políticos em geral. Mas o fato de ainda nos surpreendermos não deixa de ser uma prova de boa-fé. E, convenhamos, de sabedoria de vida. Sim, porque como honrar compromissos com a certeza de que 100% “daqueles que estão lá” são gatunos do erário? Não, não, a rotina seria insuportável.

Eis então que elegemos, entre a malta, um ou outro que transmita mais seriedade, transparência e dignidade. Temos um Cristovam Buarque aqui; uma Marina Silva ali. Tínhamos um Jefferson Peres, já falecido, e mais um ou outro atuando num time do “Bem”, cujo elenco é reduzido e – para ficar no jargão futebolístico – não conta com “peças” de reposição.

Demóstenes Torres se notabilizou por um discurso veemente em defesa da ética. Era um zeloso vigia das ações do governo, sempre ponto a apontar os “malfeitos”, para ficarmos num termo do agrado da presidente Dilma Rousseff. A imagem de probidade esfacelou-se no vendaval de denúncias dos últimos 26 dias.

O senador ainda não foi formalmente denunciado e está longe de ser julgado ou condenado. Permanece protegido pelo véu do benefício da dúvida. Mas é um véu manchado, pois como o próprio presidente do partido ao qual o senador está filiado justificou, ao anunciar o processo de sua expulsão, há “destacados indícios de envolvimento com o notório contraventor Carlinhos Cachoeira”.

Os indícios, portanto, nos levam a reconhecer que Demóstenes Torres não era mesmo um homem do “Bem”, como procurou nos iludir, mas apenas mais um falso moralista.

Mas, como precisamos manter a ingenuidade, agora esforcemo-nos para acreditar que político envolvido com bicheiro é fato excepcional. No Rio de Janeiro, então, excepcionalíssimo. Toquemos nossas vidas; paguemos nossos impostos em dia. Está tudo em ordem.

Senão, vejamos. O governo acaba de comprar um lote de lanchas por R$ 31 milhões para o pseudo-Ministério da Pesca fiscalizar a atividade em Santa Catarina. Em Santa Catarina! Se fossem 31 unidades (o número exato infelizmente não foi revelado pela péssima apuração que a imprensa fez no “caso”), seriam lanchas dignas de figurar entre as mais suntuosas de Mônaco, Saint Tropez e Ibiza.

Mas não saberemos quantas são com exatidão. Esperemos que sejam mil unidades, para atuar nos 8,5 mil km de nossa extensa costa. A não ser que sejam em número reduzido mas venham com um helicóptero a bordo. Banhado a ouro. O que explicaria o preço estratosférico...

 Por Nilson Mello