Ecos da Copa – Uma lição que podemos tirar da Copa
do Mundo – além da conclusão óbvia de que o nosso futebol precisa de
reformulações urgentes – é que planejamento, decididamente, não é o nosso
forte. Não chega a ser uma grande novidade,
pois sempre nos vangloriamos de ser os craques do “jeitinho”, além de bons de
bola. Ao menos até os 7 a 1.
Com a Copa realizada com relativo sucesso, e
com boa dose de improvisação, pode até parecer que está tudo bem com nossos “métodos”.
Ora, pelo raciocínio complacente (este, por sinal, também um traço nacional
marcante), se a simpatia, a alegria e a hospitalidade do brasileiro deram conta
do recado, para quê o estresse?
Mas sabemos que não é bem assim. Se deixarmos de
lado a irresistível tendência autoindulgente, e encararmos a realidade sem
subterfúgios, veremos que o improviso prevalece porque, na origem, algo falhou.
E falhas de planejamento estouram cronogramas, elevam custos e fazem com que obras
importantes não sejam concluídas ou sequer iniciadas. A conta é paga por todos
nós, contribuintes. A sociedade perde.
Então, o “jeitinho” não pode ser valorizado.
Até porque ele está associado à corrupção, às vezes se manifestando apenas como
sintoma, mas não raro aparecendo como causa ou efeito.
O planejamento equivocado (ou a ausência dele),
a ineficiência na execução daquilo que foi pactuado e as improvisações reativas
recorrentes e generalizadas são fatores que contribuem para retardar o nosso
desenvolvimento e perpetuar nossas mazelas sociais.
Na Copa, o que foi planejado e mais funcionou não
estava relacionado às obras que ficariam como legado. Sintomático? Na área de
segurança, houve problemas isolados que o paliativo resolveu. Menos mau. É
inegável reconhecer o mérito de pessoas que estiveram à frente do processo,
pois conseguiram, com muito esforço (e, paradoxalmente, também com boas doses
de improviso) remediar problemas e evitar o fracasso do evento. Mas, para
usarmos exemplos simbólicos, não queremos mais viver de puxadinhos nos
aeroportos e decretação de feriados para que o trânsito possa fluir. Isso já
não basta. Aliás, os puxadinhos e os feriados, neste caso, são provas de
incompetência prévia.
A 7ª economia do mundo merece uma
infraestrutura mais eficiente, com rodovias, ferrovias, portos e aeroportos modernos.
Merece sistemas de ensino e de saúde de qualidade, capazes de garantir uma melhora
significativa dos indicadores sociais, ainda sofríveis. Dinheiro para tanto não
falta, como provam os superfaturamentos das obras inacabadas.
Se continuarmos a apostar no “jeitinho”, sem
valorizar a organização, o planejamento, o rigor na execução das tarefas, o
comprometimento com metas e a disciplina, não alcançaremos esses objetivos. Não
se trata de um problema de governo ou deste governo – embora as provas da atual
inépcia gerencial sejam contundentes –, mas de mentalidade. Precisamos mudar um
pouco a nossa mentalidade. Essa conclusão talvez seja o maior legado do Mundial.
Retrocesso econômico – Tecnicamente, a economia brasileira
está em recessão, alertam economistas, depois de novos anúncios de desaceleração
da indústria e do comércio. Além de retração econômica, a inflação continua
indisciplinada – e isso a despeito de o Banco Central ter apertado a política
monetária no decorrer do último ano e meio. Então, hoje temos inflação e juro altos,
combinados com baixo crescimento e redução dos investimentos, esses, por sinal,
indispensáveis à retomada da atividade econômica. Mas não há investimento
quando não há confiança. A “nova matriz macroeconômica”, idealizada e liderada pelo
ministro Guido Mantega, surtiu efeito? O modelo em questão associava o crescimento
à demanda. A realidade mostrou que o problema é de oferta, não de demanda. Mas
não houve uma revisão oficial da “matriz”, nem reconhecimento do equívoco. Os
rumos devem ser alterados mesmo no caso de reeleição do governo Dilma, cenário
mais do que provável neste momento. Uma mudança de equipe (e de política)
econômica será indispensável.
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