quinta-feira, 24 de julho de 2014

Anote



Ecos da Copa – Uma lição que podemos tirar da Copa do Mundo – além da conclusão óbvia de que o nosso futebol precisa de reformulações urgentes – é que planejamento, decididamente, não é o nosso forte.  Não chega a ser uma grande novidade, pois sempre nos vangloriamos de ser os craques do “jeitinho”, além de bons de bola. Ao menos até os 7 a 1.

Com a Copa realizada com relativo sucesso, e com boa dose de improvisação, pode até parecer que está tudo bem com nossos “métodos”. Ora, pelo raciocínio complacente (este, por sinal, também um traço nacional marcante), se a simpatia, a alegria e a hospitalidade do brasileiro deram conta do recado, para quê o estresse?

Mas sabemos que não é bem assim. Se deixarmos de lado a irresistível tendência autoindulgente, e encararmos a realidade sem subterfúgios, veremos que o improviso prevalece porque, na origem, algo falhou. E falhas de planejamento estouram cronogramas, elevam custos e fazem com que obras importantes não sejam concluídas ou sequer iniciadas. A conta é paga por todos nós, contribuintes. A sociedade perde.

Então, o “jeitinho” não pode ser valorizado. Até porque ele está associado à corrupção, às vezes se manifestando apenas como sintoma, mas não raro aparecendo como causa ou efeito.

O planejamento equivocado (ou a ausência dele), a ineficiência na execução daquilo que foi pactuado e as improvisações reativas recorrentes e generalizadas são fatores que contribuem para retardar o nosso desenvolvimento e perpetuar nossas mazelas sociais.

Na Copa, o que foi planejado e mais funcionou não estava relacionado às obras que ficariam como legado. Sintomático? Na área de segurança, houve problemas isolados que o paliativo resolveu. Menos mau. É inegável reconhecer o mérito de pessoas que estiveram à frente do processo, pois conseguiram, com muito esforço (e, paradoxalmente, também com boas doses de improviso) remediar problemas e evitar o fracasso do evento. Mas, para usarmos exemplos simbólicos, não queremos mais viver de puxadinhos nos aeroportos e decretação de feriados para que o trânsito possa fluir. Isso já não basta. Aliás, os puxadinhos e os feriados, neste caso, são provas de incompetência prévia.

A 7ª economia do mundo merece uma infraestrutura mais eficiente, com rodovias, ferrovias, portos e aeroportos modernos. Merece sistemas de ensino e de saúde de qualidade, capazes de garantir uma melhora significativa dos indicadores sociais, ainda sofríveis. Dinheiro para tanto não falta, como provam os superfaturamentos das obras inacabadas.

Se continuarmos a apostar no “jeitinho”, sem valorizar a organização, o planejamento, o rigor na execução das tarefas, o comprometimento com metas e a disciplina, não alcançaremos esses objetivos. Não se trata de um problema de governo ou deste governo – embora as provas da atual inépcia gerencial sejam contundentes –, mas de mentalidade. Precisamos mudar um pouco a nossa mentalidade. Essa conclusão talvez seja o maior legado do Mundial.

Retrocesso econômico – Tecnicamente, a economia brasileira está em recessão, alertam economistas, depois de novos anúncios de desaceleração da indústria e do comércio. Além de retração econômica, a inflação continua indisciplinada – e isso a despeito de o Banco Central ter apertado a política monetária no decorrer do último ano e meio. Então, hoje temos inflação e juro altos, combinados com baixo crescimento e redução dos investimentos, esses, por sinal, indispensáveis à retomada da atividade econômica. Mas não há investimento quando não há confiança. A “nova matriz macroeconômica”, idealizada e liderada pelo ministro Guido Mantega, surtiu efeito? O modelo em questão associava o crescimento à demanda. A realidade mostrou que o problema é de oferta, não de demanda. Mas não houve uma revisão oficial da “matriz”, nem reconhecimento do equívoco. Os rumos devem ser alterados mesmo no caso de reeleição do governo Dilma, cenário mais do que provável neste momento. Uma mudança de equipe (e de política) econômica será indispensável.

 

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