A nova matriz macroeconômica
“O amor é uma verdade efêmera”, sentenciou
Gabriel Garcia Marquez. Tem peso absoluto, incontestável e preponderante sobre
outros valores – se é que ainda cabe interpretação diante da já pujante síntese
– só que com prazo de validade improrrogável e irrecorrível. É “eterno enquanto
dura”, exaltou o poeta brasileiro, com diagnóstico idêntico ao Nobel colombiano,
recentemente falecido.
Na economia, nem todas as verdades são perenes,
mas boa parte dos fundamentos é imutável. O hibridismo é fruto da “interseção”
da vontade humana com os pressupostos da ciência exata. Se uma equação
matemática pode ser universal e insuperável, as manifestações humanas são imprevisíveis
e irremediavelmente condicionadas ao tempo e às circunstâncias.
Na condução da política econômica, fatores imponderáveis, relacionados à
ação ou omissão do homem, podem e devem ser considerados no seu contexto, sem
que, contudo, se sobreponham a verdades matemáticas. Essas não são passíveis de
mudança via vontade política.
Não se pode, por exemplo, decretar o fim da lei da oferta e da demanda, por
considera-la prejudicial à sociedade, assim como seria inócuo combater a lei da
gravidade. Aqui as razões políticas, ideológicas ou religiosas pouco importam –
ainda que sejam elevadas, o que nem sempre ocorre.
Pode-se e deve-se reduzir a pobreza e melhorar o acesso dos mais pobres
aos bens de consumo, e é o que as pessoas de boa-fé esperam que o governo faça
(todos os governos!). O problema é quando, para levar adiante esse objetivo ou
qualquer outro, tenta-se recriar uma “ciência econômica”. Verdades matemáticas,
ao contrário dos sentimentos humanos - tão bem captados por Vinícius e Garcia
Marquez - não são volúveis.
Processos criativos na esfera econômica têm
trajetória errática, evidenciada pela rotina de tentativas e erros, e
invariavelmente conduzem um país a desequilíbrio fiscal, descontrole
inflacionário, redução do crescimento e perpetuação do atraso e da pobreza que
se pretendia combater.
Tudo considerado é preciso dizer que o atual
governo foi ao extremo da criatividade com a sua “nova matriz macroeconômica”,
sob a batuta do ministro Mantega.
Por Nilson Mello
Por Nilson Mello
Anote
Os números não mentem, mas é possível mentir com eles, ou dizer apenas
parte da verdade. Foi o que fez o presidente do Banco Central, Alexandre
Tombini, ao afirmar (jornais desta sexta-feira dia 16) que a inflação no Brasil
está há 15 anos sob controle. O IPCA tem se mantido persistentemente acima do
centro da meta de inflação no governo Dilma Rousseff. Nos últimos 12 meses
registra 6,28% e caminha célere para superar o teto da meta (de 6,50%). Tombini
não mentiu, mas disse apenas parte da verdade.
Em tempo:
Quando Garcia Marquez diz que o amor é uma verdade efêmera, não devemos
nos frustrar ou desesperar: com sorte, sobreviverá à nossa existência. O que,
na prática, equivale à própria eternidade.
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