sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


Um retrato da economia

A economia brasileira foi a que menos cresceu na América Latina em 2011: 2,7%. Já em 2012, a meta de crescimento, na visão otimista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, era de 5%. A evolução do Produto Interno Bruto (PIB), contudo, ficou em 1%.

Para 2013, o governo projeta um aumento de 4% no PIB, mas mantém a “estratégia” de crescimento centrada no consumo, não na produtividade. Juro baixo e ampla oferta de crédito são objetivos a serem perseguidos, considerando outras variáveis econômicas, mas em nenhuma hipótese serão, como pretende o governo, capazes por si só de impulsionar o crescimento. De forma isolada, podem potencializar alguns ricos.

O crédito nunca foi tão fácil no Brasil, informou o Banco Central nesta sexta-feira (25). No ano passado, os bancos públicos e privados juntos emprestaram quase R$ 2 trilhões. Em 12 meses, a carteira de crédito aumentou 20%. Mas o crescimento esperado não veio e, por tabela, a inadimplência aumentou. Ao mesmo tempo, os índices de inflação continuam acima do centro da meta (de 4,5%).

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que preferiu não promover uma nova redução da taxa básica (Selic) de juros na semana passada, mantendo-a em 7,25%, devido às pressões inflacionárias, reconhece, em sua Ata desta semana, os limites da estratégia de governo.

Ao admitir que a recuperação da atividade econômica foi menos intensa do que se esperava devido a “limitações de oferta” (produção de bens e serviços aquém do desejado), a Ata ressalta que as ações de política monetária são instrumentos de “controle de demanda”.

Em outras palavras, o Copom assumiu que juros mais baixos não serão suficientes para estimular a economia e ainda podem dificultar o combate à inflação.

Conclusão: o que produz um crescimento consistente sem pressão inflacionária são os ganhos em produtividade e eficiência. Para tanto é preciso ampliar os investimentos em produção – e por tabela em educação e qualificação de mao de obra.

O governo até tentou incentivar os investimentos por meio do crédito mais fácil e de uma política monetária expansionista (nas palavras do próprio Banco Central), mas o resultado não veio porque outros fatores comprometem o ambiente de negócios no país.

A taxa de investimento cai a cinco semestres seguidos, permanecendo abaixo dos 20% do PIB, quando deveria ser de 30%, como nas economias emergentes mais dinâmicas.
 
Do lado do setor público, a expansão fiscal esgota-se nas despesas. Sobra pouco para investir mais, ou gastar melhor.

No setor privado, a pesada carga tributária, os altos encargos, a falta de regras claras, a insegurança jurídica e a burocracia, entre outros fatores, desencorajam os empreendedores. Ora, ainda que haja financiamento oficial disponível, não se investe sem ter certeza do retorno certo e estabilidade no longo prazo.  

O resultado desse ambiente adverso, com alto custo e baixa eficiência, é o retrato da economia no governo Dilma Rousseff: muito consumo, pouco desenvolvimento e inflação sempre ameaçando.

Por Nilson Mello

Nota: De forma paliativa, o governo vinha promovendo desonerações setoriais da folha de pagamento, para reduzir custos. Os resultados são questionáveis e geram  assimetrias. Mais recentemente, decidiu ampliar o benefício para todos os segmentos. Se reconhece que o modelo tributário (no qual os encargos trabalhistas estão inseridos) é irracional, por que o governo não aproveita o seu capital político e a sua popularidade para uma efetiva reforma que reduza de forma linear a carga de impostos, taxas e contribuições e simplifique de vez a vida do contribuinte? Antes, claro, teria que melhorar a sua própria eficiência fiscal.

 

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