segunda-feira, 4 de junho de 2012

Comentário do Dia

     A prática da reflexão - Em diferentes postagens analisamos a importância dos valores fundamentais na orientação da conduta política (princípios a priori). No artigo da última sexta-feira, a ênfase se deslocou dos princípios orientadores para o exercício da ética com base em recursos empíricos. Hoje, publico (abaixo) comentário de Vera Cristina Andrade Bueno, que traz luz ao debate.

    "Depois de ter lido o seu texto, com o qual concordo, pensei o seguinte: 
    Se 'metafísica' quer dizer algo relacionado a Deus, nem a política, nem a moral têm algo a ver com ela.
    Mas, se 'metafísica' quer dizer algo relacionado à nossa racionalidade, então, a moral e a política (creio) têm muito a ver com ela, pois, só seres racionais ocupam-se dessas coisas.  
     Isso, no entanto, não quer dizer que, por ter seu fundamento na razão, a experiência e os exemplos possam, nesses casos, ser dispensados.  Muito pelo contrário, ninguém nasce com a sua razão desenvolvida.  E mesmo que consideremos que, desde criança, o ser humano saiba distinguir o certo do errado, como sabe distinguir a mão direita da esquerda, como afirma Kant*, a prática e a reflexão são necessárias. 
     Acontece que os exemplos que o ser humano tem diante de si, em sua maioria, não condizem com o sentimento (de distinção) proveniente da própria razão e, assim, ele vai deixando de levá-lo em conta (para evitar conflitos).  
    Com isso, a razão humana, e as suas exigências, além de não ser desenvolvida, é desvirtuada.  
    Ainda que a prática e os exemplos sejam necessários, eles não são suficientes para dar fundamento à moral (e à política).  É preciso algo mais e esse algo tem a ver com princípios que não são empíricos, mas a priori e, que, nesse sentido, têm a ver com a metafísica.  
   Creio que o que falta ao ser humano, em sua prática, é reflexão.    Sem ela, ele deixa de respeitar o sentimento de justiça e de correção que, a princípio, lhe são próprios como ser racional, e passa a agir injusta e erradamente.  Quando isso acontece, as decisões morais e políticas passam a ser pautadas apenas pelos interesses particulares, não por aqueles publicos e universalizáveis e a razão, em vez de ser princípio, é apenas meio para a realização de fins que não são os dela." - Vera Cristina Andrade Bueno

*Cf. Kant, I. Crítica da razão prática.  Trad. V. Rohden, São Paulo: Martins Fontes, 2003, pg. 277

Nenhum comentário:

Postar um comentário