sexta-feira, 18 de março de 2011

Dilma Rousseff e a coerência no combate à inflação


A presidente Dilma Rousseff quer combater a inflação com crescimento, informam os jornais desta sexta-feira, repercutindo entrevista publicada ontem pelo Valor Econômico. A declaração da presidente é boa e ruim ao mesmo tempo. Boa porque está em linha com outras tantas falas desde a posse, em janeiro, que denotam responsabilidade e acuidade para identificar as reais dificuldades do país.
Ruim, por outro lado, porque deixa transparecer que o seu governo, embora esteja ciente dos riscos de um descontrole inflacionário (o que, na verdade é o mínimo que se poderia esperar diante dos visíveis avanços dos preços), não é claro quanto às providências a serem tomadas para evitá-lo.
Dilma Rousseff afirmara, na entrevista ao Valor de quinta-feira, que seu governo “não negocia com a inflação”, uma frase lapidar. Mas ao mesmo tempo afirma que não há pressão de demanda, nem descompasso entre oferta e procura por serviços e produtos.
Para quem não acompanha Economia no dia a dia, é preciso esclarecer que inflação nada mais é que a alta dos preços provocada por um crescente aumento do consumo sem o compatível crescimento da produção. Sempre que a procura for maior que a oferta, o preço dos produtos e serviços tendem a subir, sendo a recíproca inversa verdadeira (procura menor, preços menores).
Não adianta ser contra essa “Lei” da Economia porque ela não é invenção de um ser humano malévolo. Da mesma forma que não adianta ser contra a Lei da Gravidade – e ignorá-la pode ser fatal. A Ciência Econômica exige respeito a seus princípios.
Pois bem, quando se diz que uma economia se desenvolve de forma sustentável, com estabilidade monetária, ou seja sem inflação, significa que sua produção está crescendo a taxas compatíveis com o gradual aumento da demanda por parte dos consumidores, sem, portanto, gerar pressões sobre os preços.
Esse é, evidentemente, o melhor dos mundos, porque permite um ambiente com aumento de produção, emprego, renda e, consequentemente, bem-estar social.
Mas para que isso ocorra, é preciso que essa economia tenha sido capaz de promover contínuos e crescentes investimentos em sua capacidade de produção – o que inclui não apenas investimentos em fábricas como também em rodovias, ferrovias portos, aeroportos, hidrelétricas, linhas de transmissão etc. E isso, definitivamente, o Brasil não fez – ao menos não na medida esperada.
O consumo no Brasil tem crescido bastante por conta da própria estabilidade da Economia, alcançada com o Plano Real, que permitiu o ingresso de novas parcelas de pessoas na classe média. Parte desse crescimento é também decorrente do aumento das despesas do próprio governo nos últimos anos, o que nem sempre é positivo, porque reflete desperdício de recursos e inchaço da máquina pública, com ineficiência.
Como o consumo maior sem o compatível aumento da capacidade de produção gera inflação e, uma vez que no curto prazo, não é possível promover investimentos que eliminem instantaneamente o descompasso entre demanda e oferta, a única saída para conter a inflação é frear o crescimento do consumo. Em outras palavras, é preciso tomar medidas amargas e impopulares, como elevação dos juros e redução do crédito, até que a inflação volte a se comportar. Governo responsável toma tais medidas.
De volta ao primeiro parágrafo, a contradição da presidente Dilma Rousseff reside no fato de não admitir, em suas declarações, reduzir o crescimento, como forma de conter a alta dos preços, ao mesmo tempo em que bravateia que seu governo “não negociará com a inflação”. Até porque medidas para conter o consumo, como alta da taxa de juros e contingenciamento do Orçamento, já estão sendo tomadas.
A contradição é ainda maior quando a presidente garante, pessoalmente, que não há indícios de inflação de demanda (descompasso entre procura maior do que oferta), alegando que são avanços isolados dos preços, enquanto integrantes de seu governo - como o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini - reconhecem que é justamente o que está acontecendo. Os indicadores, por sinal, já mostram claramente que os aumentos estão espalhados por vários setores da economia, num claro indício desse choque de demanda.
Naquela surrada discussão entre supostos “desenvolvimentistas” e monetaristas, os primeiros seriam os bonzinhos porque não gostam de aumento de juros. Mas o fato é que todos querem desenvolvimento econômico. Só que não há crescimento sustentável em ambiente inflacionário, algo que os “desenvolvimentistas” não conseguem enxergar.
O combate à inflação vai exigir postura firme e coerente do governo. É o maior desafio de Dilma Rousseff este ano. Aguardemos.

Por Nilson Mello



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