A política de equívocos – O 6ª país mais rico do mundo (pelo critério tamanho do PIB) insiste numa política econômica híbrida, errática no combate à inflação e ao mesmo tempo equivocada na opção de crescimento. A economia brasileira tem crescido na esteira do aumento do consumo interno, não do investimento.
E cresce também na carona da demanda internacional por commodities agrícolas e minerais. Demanda gerada por países industrializados e emergentes, mais precisamente pela China, ainda que com declínio em função da crise financeira global.
Crescemos, por conta do consumo interno e da demanda chinesa por matéria-prima, sem modernizar nossa indústria, sem ampliarmos nosso parque teconlógico e sem qualificar nossa mão de obra. Um crescimento que não agrega valor e não funda as bases para um desenvolvimento sustentável, com estabilidade de preços.
No crescimento brasileiro do século XXI não há ganhos em eficiência, nem em produtividade, apenas estímulo ao consumo. A indústria nacional está perdendo participação no PIB por falta de competitividade. Sobreviveu enquanto o dólar valorizado mascarava a sua ineficiência. Uma ineficiência que, na verdade, não lhe é intrínseca, mas fruto do alto custo produtivo da economia na qual está inserida.
Esse alto custo, como sabemos, é representado, entre outros, por tributação elevada, excesso de burocracia, legislação trabalhista honerosa, infraestrutura absolutamente precária. E por corrupção, muita corrupção que, em grande medida, decorre desses fatores dificultantes da atividade empresarial.
São custos que comprometem a competitividade. E, claro, contribuem para pressionar os preços, gerando inflação. Sua eliminação dependeria de uma mudança de política e de mentalidade. O governo precisaria reduzir despesas correntes e abrir espaço para o aumento dos investimentos. Mas estamos “avançando” em sentido oposto.
As despesas correntes do governo federal aumentaram 4% no ano passado, já descontada a inflação. As transferências a estados e municípios avançaram 15%. Os gastos totais aumentaram 5%. Mas o investimento público federal, tão necessário, caiu 5% (sobre gastos agregados, ver artigo de Fabia Giambiagi, em link abaixo).
Detalhe: não há notícia de que esse aumento de despesa tenha tornado a vida do contribuinte mais digna na fila do hospital, na rede pública de ensino ou no transporte diário para o trabalho.
Gastando muito, o governo não tem como reduzir os juros abaixo dos patamares atuais (já significativamente reduzidos no recente ciclo de baixa promovido pelo Banco Central), sob o risco de não conseguir se financiar no mercado. Os juros são, portanto, altos porque, no final das contas, o sistema financeiro conta com um devedor/parceiro voraz: o Estado perdulário.
Os juros já não poderiam ser menores porque - num modelo de cescimento centrado no consumo e não na eficiência da produção - a política monetária mais restritiva é um bastião contra a alta da inflação, já na casa dos 6% ao ano.(Sobre a taxa básica de juros, ver artigo de Carlos Alberto Sardenberg, também em link abaixo).
Os bancos são, sim, os maiores beneficiários do modelo, mas de forma alguma podem ser apontados como os culpados. Se o Estado paga mais para tomar mais, por que destinariam dinheiro à sociedade, a taxas menores?
É assim que a 6ª maior economia do mundo exibe um impasse paradoxal: inflação alta (das mais altas entre os emergentes) com taxa de juros persistentemente elevada (das mais altas do mundo). É o modelo da alta do consumo, da inflação e dos juros.
Um processo indireto de desindustrialização, por falta de competitividade, completa o quadro negativo. O Brasil é hoje um grande fornecedor de matéria-prima. Exportamos soja, minério, café e frango, enquanto assistimos à morte de nossa indústria. De volta aos temos de Brasil Colônia.
Por Nilson Mello
Link para os dois artigos citados:
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