Foto de Wilson Dias/Ag. Brasil
Quebra de paradgimas
Por fim, numa análise mais benevolente, o encontro pode ser entendido como um genuíno reconhecimento do governo de que falta ao país uma estratégia propícia ao empreendedor. A hipótese é promissora porque pressupõe o reconhecimento de que a indústria nacional investe pouco, e é pouco competitiva, não apenas no mercado global, mas na conquista de consumidores no próprio Brasil, porque opera num ambiente extremamente adverso à sua atividade.
A primeira hipótese carregaria boa dose de hipocrisia. A segunda daria a esse governo um indiscutível atestado de incompetência. Sim, porque, além de não ter um projeto estratégico para o desenvolvimento do país, seria, ainda, incapaz de fazer o diagnóstico correto. E uma receita eficaz, evidentemente, requer diagnóstico preciso.
Suponhamos, então, que o governo Dilma Rousseff não é hipócrita, nem desinformado ou incompetente. Analisando números, e deixando de lado raciocínios contaminados pela ideologia, chegou, finalmente, ao cerne dos problemas que comprometem a eficiência do setor produtivo nacional, em especial a decadente indústria.
O governo, pela hipótese, percebeu, enfim, que a falta de competitividade não se deve à má vontade do empresariado. O governo reconheceu que faltam reformas estruturais amplas e de profundidade, e resolveu agir. O convite aos empresários para o encontro da semana passada seria o marco da descoberta - eis aí o olhar benevolente para analisar o episódio.
Providências mitigadas não dão resultados. De 2007 até o início deste ano, o governo concedeu incentivos fiscais e desonerações da ordem de R$ 97 bilhões a segmentos do setor produtivo, o equivalente ao dobro dos recursos destinados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) este ano, informam os jornais deste domingo (25/03). Mesmo assim, o “estímulo” não surtiu efeito.
No mesmo período, e com mais ênfase nos últimos dois anos, a indústria brasileira só tem perdido espaço e participação no Produto Interno Bruto. Há seis meses seguidos o setor desacelera, ao mesmo tempo em que, num aparente paradoxo, o consumo interno aumenta. O brasileiro tem consumido muito mais, mas nosso parque industrial não é capaz de antender à demanda, o que pressiona a inflação ou as importações. Quer dizer, a indústria perde mercado não somente num promissor mercado global, mas no próprio país.
Convenhamos, o consumidor tem todo o direito de comprar produtos importados, se melhores e mais baratos. Proibi-lo de fazê-lo, como, aliás, tem sido feito por meio de mecanismos indiretos, equivale a uma dissimulação dos problemas e, na prática, a um incentivo velado à ineficiência interna. Por que proteger a ineficiência?
Pois sabe-se agora que "benesses" pontuais não resolvem obstáculos estruturais. Não resolvem a questão da infraestrutura sucateada, do excesso de burocracia, do alto custo da mão de obra, que é desqualificada. Certamente, alguns setores até se beneficiaram e continuam se beneficiando das desonerações em cadeia promovidas pelo governo, sob a batuta do ministro Guida Mantega, mas, para a economia de forma geral não houve ganhos.
Como são isoladas e pontuais, as medidas de "compensação" tomadas até aqui não geraram competitividade. E tendem a promover outras distorções que vão no sentido contrário ao objetivo pretendido. Distorções quase sempre levam a novas medidas intervencionistas, que por sua vez trazem novas “mascarações”, ineficientes. Dirigismo estatal não leva à eficiência.
Como são isoladas e pontuais, as medidas de "compensação" tomadas até aqui não geraram competitividade. E tendem a promover outras distorções que vão no sentido contrário ao objetivo pretendido. Distorções quase sempre levam a novas medidas intervencionistas, que por sua vez trazem novas “mascarações”, ineficientes. Dirigismo estatal não leva à eficiência.
Para surtir efeito, uma redução tributária teria que ser linear e, consequentemente, equânime, colocando todo o setor produtivo em novos patamares de operação.
Ressalta-se que a despeito dos bilhões em desoneração concedidos pontualmente a determinados setores (que exatamente por conta disso tendem a se manter menos eficientes que seus concorrentes no restante do mundo, em prejuízo da economia nacional), a carga tributária teve aumento significativo desde que Dilma Roussef tomou posse – numa quebra, lembre-se, de compromisso assumido na posse.
Mas fiquemos com a hipótese benevolente. No momento em que a presidente Dilma Rousseff substitui lideranças no Legislativo, anunciando um novo paradigma nas relações políticas, insinuando que o “toma-lá-dá-cá", se não acabou, ao menos deve ter limites, que a reunião com os pesos-pesados do empresariado signifique também o início de uma verdadeira estratégia de desenvolvimento.
Uma estratégia que implique gastos de melhor qualidade por parte do governo. O que permitiria aumento da poupança e dos investimentos públicos, com redução de juros (não há poupança privada sem poupança pública). E, por decorrência, aumento dos investimentos privados, com ganhos em eficiência. No final das contas, o surgimento de um modelo de crescimento pautado no aumento da produção interna, e não apenas no aumento vertiginoso do consumo.
Podemos acreditar nessa hipótese?Por Nilson Mello
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